Advento: De volta para o futuro!
“Exultai e erguei a vossa cabeça; porque
a vossa redenção se aproxima” (Lc 21.28b).
Desde que fomos expulsos do paraíso, ansiamos por
voltar para um lugar de paz perfeita, alegria plena e indestrutível, prazer
perene, comunhão verdadeira com as pessoas e claro, santa comunhão com Deus
numa relação harmoniosa. Logo, cabe-nos perguntar se o paraíso é somente
saudade ou é também esperança. A fé cristã ensina as duas coisas. Saudades dos
tempos paradisíacos antes da Queda e esperança pela restauração de todas as
coisas em Cristo, nos novos céus e nova terra. O Advento então, é uma
proclamação desta esperança, é uma força a arrastar-nos para o futuro que
certamente chegará. Como eu escrevi em nossa última pastoral, é uma
prática individual e comunitária da espera pela volta gloriosa de Jesus. O
advento é um tempo em que devemos aprofundar a nossa vocação escatológica, de viver
com mais verdade a nossa realidade transcendental. Este tempo litúrgico nos
convida a erguer a vista sobre a realidade do tempo presente, marcado pela
transitoriedade e caducidade de todas as coisas. Este nosso tempo que
traz consigo as marcas e os efeitos destrutivos e deterioradores do pecado, uma
experiência marcada pela dor, o sofrimento, a imperfeição e a morte. Estas
marcas são experimentadas de muitas e variadas maneiras. Estão presentes e
patentes na corrupção política, na violência doméstica, na brutal violência do
trânsito, na escalada sempre crescente de crimes contra a vida, na conformada
convivência com a pedofilia, na infame “cultura do estupro”, na indústria e
turismo do sexo, na exploração da fé por falsos pastores e etc. Mas, nenhuma dessas
coisas citadas nos derrotam tanto quanto a nossa pessoal experiência de nossa
pecaminosidade latente e às vezes dominante, como esta relatada pelo apóstolo
Paulo: “Não entendo o que faço. Pois não
faço o que desejo, mas o que odeio. E, se faço o que não desejo, admito que a
lei é boa. odeio. E, se faço o que não desejo,
admito que a lei é boa. Neste caso, não sou mais eu quem o faz, mas o pecado
que habita em mim. Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne.
Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o
que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu
continuo fazendo. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, mas o
pecado que habita em mim. Assim, encontro esta lei que atua em mim: Quando
quero fazer o bem, o mal está junto a mim. Pois, no íntimo do meu ser tenho
prazer na lei de Deus; mas vejo outra lei atuando nos membros do meu corpo,
guerreando contra a lei da minha mente, tornando-me prisioneiro da lei do
pecado que atua em meus membros”
(Romanos 7:15-23). Nenhuma experiência é tão dolorosa e causa tanto abatimento
como essa descrita por Paulo. Esta é a nossa verdade também. O Advento é um
tempo de alento que usa justamente o restante da passagem citada para nos
impulsionar sobre o por vir, para nos animar a continuar atravessando em meio a
este vale de lágrimas, para a entrada definitiva no Reino de vida e justiça
para todos: “Miserável homem eu que sou!
Quem me libertará do corpo sujeito a esta morte? Graças a Deus por Jesus
Cristo, nosso Senhor” (Romanos 7:24,25). E por que precisamos de um tempo
assim? Exatamente porque a nossa natureza rapidamente se acomoda, porque nosso
coração se deixa enredar, seduzir e no final se aprisionar pela realidade desta
vida. Embora o pecado seja essencialmente mal, nem sempre ele se revela feio e
não palatável. Eva, pouco antes de pecar, atestou ser o pecado algo bom de se
olhar e mesmo desejável de se experimentar. Assim, precisamos de a todo tempo e
de tempos em tempos, receber uma “dose extra” de esperança e um choque de
escatologia. Precisamos ser recordados de que esta vida não é tudo o que há e
que estamos destinados, por graça e misericórdia, a desfrutar de um mundo
infinitamente melhor, incomparavelmente perfeito, santo, justo, harmonioso,
feliz e etc. Devemos ser alertados que o modo como gerenciamos os bens deste mundo,
como os empregamos, como os gastamos e a finalidade última que lhes destinamos,
indicam exatamente onde temos colocado a nossa expectação e qual o ‘tamanho’ do
futuro que aguardamos. O Senhor Jesus veio uma vez, visitou-nos em
nossa carne, fez-se um de nós e enquanto viveu a nossa realidade, ensinou-nos a
anelar por aquela vida que Ele conhecia desde sempre nas moradas celestes.
Depois de ter cumprido na cruz a sua missão e tendo voltado para os céus,
foi-nos preparar um lugar. É este o lugar, no futuro, para onde tendemos e para
onde desde agora, devemos ansiar. Advento, voltando para a casa!
Reverendo Luiz Fernando
é ministro do Evangelho na Igreja Presbiteriana
Central de Itapira
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