LITURGIA DO CULTO
01 DE JANEIRO DE 2017.
Não sei dizer se 2017 será
melhor para você ou para mim. Faço votos que sim. Todavia, seria melhor que
desejássemos que nós fôssemos melhores em 2017 do que fomos em 2016. Há uma
possibilidade incalculável de 2017 ser melhor na medida mesma que nós formos
melhores. Estamos recebendo hoje este novo ano. E muito das nossas escolhas,
muito de nossas prioridades, muito de nosso comportamento, fará de 2017 um ano
melhor ou não. Claro, existem muitas varáveis muito além do nosso controle,
muitas circunstâncias em que não poderemos fazer coisa alguma para alterar um
milímetro sequer o rumo da história. Mas isso não quer dizer que não podemos
contribuir decisivamente para um ano melhor. Um ano bom começa com a aplicação
e a colocação em prática da Palavra de Deus que diz: “Deleita-te também no Senhor, e te concederá os desejos do teu coração.
Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele o fará” (Sl 37.4,5).
São duas atitudes essenciais para quem quer ser melhor num ano melhor. Tudo
começa com sentir prazer, alegria e contentamento com Deus. Isso se dá
numa vida de constante ações de graças, vida devocional frequente e abundante,
priorização da participação nos interesses de Deus no mundo, a começar pela
vida corporativa em e na igreja. Ter deleite em Deus é demostrar pela vida e
com palavras a satisfação e o contentamento com o seu governo, direção e
provisão em nossas vidas, sobremaneira, pela salvação em Cristo Jesus. O passo
seguinte é entregar o nosso caminho a Ele, isto é, consciente, intencional e
confiadamente deixar-se conduzir por Deus em todas as áreas da vida. Saber
aproveitar agradecidos ás oportunidades e
saber abrir mão ou abster-se de propostas, sempre agradecido, quando estas o
afastarem da devota dedicação a Deus. Uma outra boa palavra para ser perseguida
em 2017 é: “Ao homem pertencem os planos
do coração, mas do Senhor vem a resposta da língua. Todos os caminhos do homem
lhe parecem puros, mas o Senhor avalia o espírito. Consagre ao Senhor tudo o
que você faz, e os seus planos serão bem-sucedidos” (Pv 16.1-3). Tenha
iniciativas. Sonhe. Faça planos, trace metas, imponha-se objetivos. Não seja
ocioso ou letárgico. Deus dotou-nos de capacidade inventiva e deu-nos
inteligência e vontade. É comum à nossa natureza planejar. Todavia, não dê um passo e nunca
tome uma decisão sem antes consultar o Senhor em insistentes orações. Busque
a sua aprovação e direção em muitas vigílias de oração e em francas e boas
conversas com o cônjuge. Busque conselhos de irmãos experimentados. Não tome
decisão até que de maneira inequívoca você tenha a certeza de que a bênção do
Senhor repousa sobre os seus intentos. E, mesmo depois disso, consagre ao
Senhor tudo o que você faz. Isto é, tenha a clara e manifesta intenção de
magnificar, honrar, adorar e servir a Deus naquilo que você empreendeu.
Consagrar é colocar a serviço. Então, mãos á obra. Rabisque seus sonhos e
projetos. Olhe para o “infinito e além”, peça a bênção de Deus como Jacó, não
vá a lugar algum até ser abençoado e uma vez iniciado o projeto, lembre-se o
que significa consagrar: “Tudo o que
fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens,
sabendo que receberão do Senhor a recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor,
que vocês estão servindo” (Cl 3.23,24) e mais: “Assim,
quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória
de Deus” (1 Co 10.31). E por último, não se desapeguem de Cristo, não se separem
dele. Haja o que houver, nunca o percam de vista e nem se desconectem
dele. Tudo o que o Pai tem para oferecer-nos o fará apenas e tão somente por
meio de Cristo: “Permaneçam em
mim, e eu permanecerei em vocês. Nenhum ramo pode dar fruto por si mesmo, se
não permanecer na videira. Vocês também não podem dar fruto, se não
permanecerem em mim. Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer
em mim e eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa
alguma. Se alguém não permanecer em mim, será como o ramo que é jogado fora e
seca. Tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados. Se vocês
permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que
quiserem, e lhes será concedido” (Jo 15.4-7). E assim, estando em Cristo e
nela radicados, o que for do agrado do Pai e bom e agradável para nós, nos será
concedido. Não se trata tanto de perguntar se 2017 será melhor, mas, de nos
perguntarmos se nós queremos ser melhores. 2017 será o que fizermos conosco e
não que fizermos dele e nele. Feliz e abençoado ano novo.
Já escrevi em
outras ocasiões sobre a descristianização do Natal.Uma descristianização que
não está apenas no mundo, na sociedade, na cultura em geral e no mercado de
consumo. Este esvaziamento do natal atinge ‘em cheio’ às comunidades cristãs,
mesmo históricas. A velha história é revisada e outros conceitos humanos,
dignos até, ganham relevo como a solidariedade, a política da inclusão, a
justiça social e a questão da tolerância e etc. O Natal tornou-se, no caso
daqueles que possuem alguma boa vontade e alguma consciência social, um veículo
para a disseminação de suas convicções e ideologias. Isto não seria de todo um
mal, se á custa dessas coisas o antigo Evangelho não sofresse prejuízo, não
fosse esquecido e até mesmo ignorado. Na verdade, o Natal é uma Boa Notícia da
parte de Deus aos homens. Uma notícia que já virou história quando do
nascimento de Jesus na gruta de Belém, é verdade. Mas, uma notícia que continua
atual, válida, necessária e ainda inaudita para muitos. E essa notícia é: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que
deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que
condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” (Jo 3.16,17)
e ainda: “Porque o Filho do homem veio
buscar e salvar o que se havia perdido” (Lc 19.10); “Porque o Filho do homem veio salvar o que se tinha perdido” (Mt 18.11);
“Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao
mundo, para salvar os pecadores...” (1 Tm 1.15). Esta é toda a verdade e
toda a essência do Natal. O Natal é o Evangelho, sua suma, seu cerne, sua
mensagem. Não há outra coisa a celebrar e não há outra mensagem que seja mais
importante e verdadeira do que essas registradas nos
versículos acima. O Natal é a festa da libertação dos escravos do pecado. É o
resgate dos oprimidos. É o encontro e encaminhamento do que estava perdido. É a
salvação do condenado. O Natal não é um fim em si mesmo, mas aponta
para a realidade do calvário. Manjedoura e Cruz estão intimamente associadas.
Estrebaria e sepulcro estão ataviados pela mesma verdade, o Filho de Deus
nasceu neste mundo segundo a carne para morrer a nossa morte e dar-nos vida em
sua gloriosa ressurreição. Qualquer outra mensagem que não proclame no
Natal a esperança para o pecador, a vida para o arrependido e o conforto na
certeza da salvação para o santo, não é Natal cristão. Esta festa nos recorda ainda o altíssimo
valor do lar e da família. Quis Deus o Pai que seu Filho tivesse na terra mãe
humana, um pai adotivo e muitos irmãos por parte de mãe e outros tantos por
parte da fé. Isto deve levar-nos à valorização de nossa família como o lugar
privilegiado para o desenvolvimento de nosso caráter e a apreensão e o cultivo
de princípios e valores. O Natal nos ensina que investir em nossa
família é a melhor coisa que podemos fazer para a nossa própria felicidade.
E o melhor investimento é fazer como Maria e José que receberam e colocaram
Jesus como o centro de suas vidas. Devemos fazer o mesmo, devemos conduzir
nossas famílias para o encantamento, a devoção e a obediência a Jesus Cristo. E
ainda, expandir a nossa família para a família da fé, que é a Igreja. É na
Igreja que Jesus Cristo vem ao nosso encontro, na Palavra, na comunhão dos
irmãos, nos sacramentos e faz com que nosso coração se torne um permanente
presépio. Valeria repetir aqui o que se diz em algumas propagandas na TV: “Não
aceite imitações”, um Natal que não proclame as excelências de Cristo e sua
graça salvadora. Um Natal que não nos leve a apreciar, valorizar e proteger
nossa família em Cristo. Um Natal que não nos convença e nos leve à
participação afetiva e efetiva com os irmãos na Igreja, não merece a nossa
atenção e nem o desperdício de nosso tempo e energia. Celebremos no Natal a
festa de nossa pertença á família de Deus, irmãos adotivos de Jesus Cristo para
a adoração por agora na Igreja e por toda a eternidade no céu. Feliz e Santo
Natal de Jesus Cristo a todos.
Hoje gostaria de
ceder o espaço desta pastoral ao maior de todos os pensadores da Igreja, desde
o Apóstolo Paulo, Agostinho de Hipona. Católicos Romanos e Protestantes são a
seu modo, devedores deste gigante do cristianismo. Às portas do Natal, deixemos
que Agostinho nos instrua nesta verdade de fé que desejamos celebrar com
beleza, devoção e inteligência no domingo próximo:DO TRATADO DO EVANGELHO DE JOÃO, DE SANTO
AGOSTINHO, BISPO E DOUTOR DA IGREJA:“Para que nasçam os homens de Deus foi preciso que
primeiro nascesse Deus dos homens, Cristo é Deus, e ele nasceu dos homens.
Somente procurou mãe na terra, quem já tinha Pai nos céus, Aquele mesmo que
nasceu de Deus, é nosso Criador, é também nosso reparador, nascido de uma
mulher. Não te estranhe, ó homem, ser filho de Deus pela graça; não te estranhe
o teu nascimento de Deus à semelhança de seu Verbo. É o mesmo Verbo quem
consentiu nascer primeiro do homem com a finalidade de assegurar-te mais sobre
o teu divino nascimento.Agora sim, podes perguntar-te a ti mesmo por que razão Deus quis nascer
do homem. É que foi tanto o que amou que, para fazer-me imortal, quis nascer
ele mesmo por mim de uma vida mortal. O evangelista depois disse: Eles nasceram
de Deus, como previa nossa admiração, nosso assombro e estremecimento em
presença de graça tão singular, até o ponto de parecer-nos incrível que os
homens nasçam de Deus: e com a finalidade de dar-nos, a partir desta verdade
garantias de segurança, prosseguiu: E o
verbo se fez carne, e habitou entre nós. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e seu nascimento é o colírio que limpa os
olhos de nosso coração, e desta forma já podem ver sua grandeza através de suas
humilhações. O Verbo feito carne, que viveu entre nós, é quem curou os nossos
olhos. E o que diz o evangelista na continuação? E vimos a sua glória. Ninguém
pode ver sua glória se não for curado pelas humilhações de sua carne. E por que
não podemos vê-la? Atenção, meus irmãos, e compreendereis o que quero dizer. A
poeira e a terra que caíram nos olhos do homem foi que lhes lesionou e
obstaculizou a contemplação da luz. A estes olhos se lhes dá, depois, uma unção
com o pó da terra para que curem, porque também foi a terra a causa de suas
feridas. Os colírios e os remédios não são mais do que terra. O pó fez perder a
vista e o pó a devolverá. A carne foi a causa de tua cegueira, e a carne será a
que fará desaparecer. O consentimento nos afetos carnais fez que a alma fosse
carne, e disso veio a cegueira do coração.O Verbo se fez
carne:
Eis aqui o médico que te preparou o colírio. O Verbo veio desta maneira para
extinguir por sua carne os vícios da carne, e destruir com sua morte o império
da morte. Por isso, graças ao produzido em ti pelo Verbo feito carne, tu podes dizer: Contemplamos a sua glória. Que glória é esta? É a glória de ser
filho do homem? Ora, isto é mais humilhação do que glória. Até onde alcança a
vista do homem curado pela carne? Temos visto, diz, a sua glória, glória do
Filho único do Pai, cheio de graça e de verdade... Por agora o que foi dito
basta. Transformai-vos em Cristo, e que se fortaleça a vossa fé, e permanecei
sempre em vigilância e no exercício das boas obras. Não vos separeis nunca do
lenho, que é o único meio de passar o mar.”Desejo irmãos que as festividades que envolvem o
Natal do Salvador sejam uma abundante fonte de consolação e esperança para
todos quantos confessam que Jesus Cristo, feito homem, é o único meio pelo qual
Deus o Pai, efetua em nós a salvação. E que, como igreja, anunciemos ao mundo
que naquela noite alvissareira quando Cristo veio à luz deste mundo assumindo
nossa carne do ventre de Maria, uma fonte inesgotável de graça e misericórdia
se abriu aos pecadores. Corramos pressurosos para essa fonte, nela nos banhemos
e nela matemos a nossa sede de vida.
O terceiro domingo do Advento é tradicionalmente
conhecido como domingo gaudete, isto é, domingo da alegria. Recebe este nome
devido à proximidade das festas natalinas, quando a igreja cristã se reúne para
agradecer o fato e não a data, do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas, é
também um convite à alegria, porque a cada ano, a cada estação litúrgica, mais
próxima está a volta gloriosa do Salvador Jesus. O Apóstolo Paulo dá-nos o
fundamento para este convite: “Pois ele
diz: Eu o ouvi no tempo favorável e o socorri no dia da salvação. Digo-lhes que agora é o tempo
favorável, agora é o dia da salvação!” (2 Co 6.2) e “Façam isso, compreendendo o tempo em que vivemos. Chegou a hora de
vocês despertarem do sono, porque agora a nossa salvação está mais próxima do
que quando cremos” (Rm 13.11). A
alegria a que somos convidados é uma alegria espiritual, triunfante, celestial.
É a alegria de Abraão: “Abraão, pai
de vocês, regozijou-se porque veria o meu dia; ele o viu e alegrou-se".
(Jo 8.56). Também é a alegria de João Batista no ventre de Isabel: “Logo que a sua saudação chegou aos meus
ouvidos, o bebê que está em meu ventre agitou-se de alegria” (Lucas 1.44).
Alegria cantada pelos coros angélicos: “De
repente, uma grande multidão do exército celestial apareceu com o anjo,
louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens
aos quais ele concede o seu favor" (Lc 2.13,14). Os pastores de Belém
também exultaram: “Os pastores voltaram
glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, como lhes
fora dito” (Lc 2.20). Simeão também deu mostras desta felicidade: “Simeão o tomou nos braços e louvou a Deus,
dizendo: Ó Soberano, como prometeste, agora podes despedir em paz o teu servo.
Pois os meus olhos já viram a tua salvação, que preparaste à vista de
todos os povos: luz para revelação aos gentios e para a glória de Israel, teu
povo" (Lc 2.28-32). No mesmo
texto e contexto, Ana é invadida pela alegria do Senhor “Tendo chegado ali naquele exato momento, deu graças a Deus e falava a
respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém” (Lc
2.38). Esta alegria do coração pelo Salvador Jesus e sua obra redentora será
cantada com exultação também na criação restaurada e no Reino definitivo: “Pois o Reino de Deus não é comida nem
bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17); “Regozijemo-nos! Vamos nos alegrar e dar-lhe
glória! Pois chegou a hora do casamento do Cordeiro, e a sua noiva já se
aprontou” (Ap 19.7). Logo, percebemos que a alegria deve ser uma
marca evidente do cristão desde agora. Uma alegria que não se deixa esmorecer
nem contaminar pelas circunstâncias nem sempre propicias desta vida.
Que não é vencida e nem finalmente destruída mesmo quando a morte nos visita
porque ela é, na verdade, o nosso real poder: “Não se entristeçam, porque a alegria do Senhor os fortalecerá"
(Ne 8.10). O terceiro domingo do Advento é então um dia para juntos, como
igreja, praticar a ordenança de Paulo e inscrever esta ordenança em nossos
corações tendo-a sempre diante dos olhos sejam quais forem as circunstâncias de
nossas vidas: “Alegrem-se sempre no
Senhor. Novamente direi: alegrem-se!” (Fp 4.4). Sem esta verdade espiritual
somos engolidos pela tristeza, tragados pela morte, enredados pela ansiedade,
paralisados pelo medo, abatidos pelas frustrações e no final das contas, o
nosso louvor carecerá de vida e beleza, nossa devocional de contentamento e
sinceridade e nosso testemunho vazio, inconsistente e inútil. O
mesmo Senhor que nos chamou para trilhar o caminho da cruz, da porta estreita e
do caminho apertado, não quer que o sigamos em meio a murmuração, a imprecação
e ao azedume que se alastra como praga: “Cuidem que ninguém se exclua da graça de Deus. Que nenhuma raiz de
amargura brote e cause perturbação, contaminando a muitos” (Hb 12.15).
Israel foi advertido e punido por falta desta alegria: “Uma vez que vocês não serviram com júbilo e alegria ao Senhor, ao seu
Deus, na época da prosperidade, então, em meio à fome e à sede, em nudez e
pobreza extrema, vocês servirão aos inimigos que o Senhor enviará contra vocês.
Ele porá um jugo de ferro sobre o seu pescoço, até que os tenham destruído”
(Dt 28.47,48). Aproveite este tempo e este dia em que somos todos convidados à
entrar na alegria do Senhor. Joguemos fora, no vale das dores de Cristo, as
tristezas que pesam em nossa alma. Revistamos da alegria de Cristo, pois um
santo triste é um triste santo. Alegrai-vos!
Desde que fomos expulsos do paraíso, ansiamos por
voltar para um lugar de paz perfeita, alegria plena e indestrutível, prazer
perene, comunhão verdadeira com as pessoas e claro, santa comunhão com Deus
numa relação harmoniosa. Logo, cabe-nos perguntar se o paraíso é somente
saudade ou é também esperança. A fé cristã ensina as duas coisas. Saudades dos
tempos paradisíacos antes da Queda e esperança pela restauração de todas as
coisas em Cristo, nos novos céus e nova terra. O Advento então, é uma
proclamação desta esperança, é uma força a arrastar-nos para o futuro que
certamente chegará. Como eu escrevi em nossa última pastoral, é uma
prática individual e comunitária da espera pela volta gloriosa de Jesus. O
advento é um tempo em que devemos aprofundar a nossa vocação escatológica, de viver
com mais verdade a nossa realidade transcendental. Este tempo litúrgico nos
convida a erguer a vista sobre a realidade do tempo presente, marcado pela
transitoriedade e caducidade de todas as coisas. Este nosso tempo que
traz consigo as marcas e os efeitos destrutivos e deterioradores do pecado, uma
experiência marcada pela dor, o sofrimento, a imperfeição e a morte. Estas
marcas são experimentadas de muitas e variadas maneiras. Estão presentes e
patentes na corrupção política, na violência doméstica, na brutal violência do
trânsito, na escalada sempre crescente de crimes contra a vida, na conformada
convivência com a pedofilia, na infame “cultura do estupro”, na indústria e
turismo do sexo, na exploração da fé por falsos pastores e etc. Mas, nenhuma dessas
coisas citadas nos derrotam tanto quanto a nossa pessoal experiência de nossa
pecaminosidade latente e às vezes dominante, como esta relatada pelo apóstolo
Paulo: “Não entendo o que faço. Pois não
faço o que desejo, mas o que odeio. E, se faço o que não desejo, admito que a
lei é boa. odeio. E, se faço o que não desejo,
admito que a lei é boa. Neste caso, não sou mais eu quem o faz, mas o pecado
que habita em mim. Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne.
Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o
que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu
continuo fazendo. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, mas o
pecado que habita em mim. Assim, encontro esta lei que atua em mim: Quando
quero fazer o bem, o mal está junto a mim. Pois, no íntimo do meu ser tenho
prazer na lei de Deus; mas vejo outra lei atuando nos membros do meu corpo,
guerreando contra a lei da minha mente, tornando-me prisioneiro da lei do
pecado que atua em meus membros”
(Romanos 7:15-23). Nenhuma experiência é tão dolorosa e causa tanto abatimento
como essa descrita por Paulo. Esta é a nossa verdade também. O Advento é um
tempo de alento que usa justamente o restante da passagem citada para nos
impulsionar sobre o por vir, para nos animar a continuar atravessando em meio a
este vale de lágrimas, para a entrada definitiva no Reino de vida e justiça
para todos: “Miserável homem eu que sou!
Quem me libertará do corpo sujeito a esta morte? Graças a Deus por Jesus
Cristo, nosso Senhor” (Romanos 7:24,25). E por que precisamos de um tempo
assim? Exatamente porque a nossa natureza rapidamente se acomoda, porque nosso
coração se deixa enredar, seduzir e no final se aprisionar pela realidade desta
vida. Embora o pecado seja essencialmente mal, nem sempre ele se revela feio e
não palatável. Eva, pouco antes de pecar, atestou ser o pecado algo bom de se
olhar e mesmo desejável de se experimentar. Assim, precisamos de a todo tempo e
de tempos em tempos, receber uma “dose extra” de esperança e um choque de
escatologia. Precisamos ser recordados de que esta vida não é tudo o que há e
que estamos destinados, por graça e misericórdia, a desfrutar de um mundo
infinitamente melhor, incomparavelmente perfeito, santo, justo, harmonioso,
feliz e etc. Devemos ser alertados que o modo como gerenciamos os bens deste mundo,
como os empregamos, como os gastamos e a finalidade última que lhes destinamos,
indicam exatamente onde temos colocado a nossa expectação e qual o ‘tamanho’ do
futuro que aguardamos. O Senhor Jesus veio uma vez, visitou-nos em
nossa carne, fez-se um de nós e enquanto viveu a nossa realidade, ensinou-nos a
anelar por aquela vida que Ele conhecia desde sempre nas moradas celestes.
Depois de ter cumprido na cruz a sua missão e tendo voltado para os céus,
foi-nos preparar um lugar. É este o lugar, no futuro, para onde tendemos e para
onde desde agora, devemos ansiar. Advento, voltando para a casa!