Natal: Por que Cristo veio ao mundo?
“Esta é uma palavra
fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar
os pecadores, dos quais eu sou o principal” (1 Tm 1.15).
Já escrevi aqui que o Natal está
descristianizado. Muito pouco dos enfeites nas ruas, praças e casas fazem
qualquer referência a Cristo. Na minha infância recordo-me das enormes figuras
do presépio nas praças de Poços de Caldas, minha cidade natal. Quer na praça
central, enfrente da Basílica ou nas praças menos badaladas. Sempre havia um
presépio, ou a figura de anjos tocando trombetas e um berço com um menino.
Hoje, em qualquer lugar que se vá, lá ou outra cidade, os enfeites, em
esmagadora maioria, apresentam outras personagens e têm outras mensagens.
Bonecos de neve (nos mais de trinta e cinco graus de média em nosso verão),
renas, `Papais Noéis’ vermelhos, verdes, azuis, ao gosto e ao sabor das
ideologias. Sem falar no altruísmo e na solidariedade de ocasião que só se
manifestam na maioria das vezes nesta época do ano. Mas, nós cristãos devemos
nos fazer uma pergunta essencial se queremos celebrar o Natal com maturidade e
isento dos perigos da idolatria e do ateísmo prático desta sociedade secularista.
Afinal de contas, por que Cristo veio ao mundo? Muitas vezes temos dificuldade
em responder a esta pergunta devido ao clima suavizado, inofensivo, pacífico de
uma estereotipada imagem que temos da estrebaria de Belém. Na verdade o
mistério do Verbo feito carne que nasceu entre nós, que chamamos de Natal, tem
propósitos bem definidos na mente eterna, santa e sábia de Deus Pai.
Primeiro, “
Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido”
(Lc 19.10). Isto significa que Jesus nasce para ser o Salvador não dos homens
bons e de bem, os
que
se comportaram bem e são justos aos seus próprios olhos. A gratidão de nossos
corações não diz respeito ao prêmio que recebemos no Natal porque fizemos todas
as coisas bem feitas e agora somos recompensados. Esta é a lógica do Papai
Noel. Em nosso caso, nos reunimos, celebramos e adoramos em Ação de Graças,
porque estávamos perdidos em nossos pecados e delitos e Deus teve misericórdia
e graciosamente enviou-nos seu Filho para ser o nosso salvador. Daqui decorre a
nossa Boa Nova para o mundo: Deus salva pecadores! Segundo, “Porque o Filho do
homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em
resgate de muitos” (Mc 10.45). Jesus nasce para morrer em nosso lugar, para
dar a sua vida em troca da nossa. O berço de Belém se liga com o sangue do
calvário e o Natal só faz algum sentido se apontar para a cruz do sofrimento e
da ignomínia cujo preço da morte exigida, pelos nossos pecados, resgatou-nos de
nossa morte mais profunda e real. Daqui decorre uma segunda mensagem para o
mundo, Jesus nasceu para morrer em seu lugar e em seu favor para que seus
pecados fossem cancelados. Terceiro,
“O qual se deu a si mesmo por nossos
pecados, para nos livrar do presente século mau, segundo a vontade de Deus
nosso Pai” (Gl1.4). Jesus veio ao mundo para livrar-nos deste mundo
corrupto e corrompido com os seus antivalores antagônicos ao Reino de Deus e a
sua justiça. Jesus veio livrar-nos da condenação deste mundo sob a ira de Deus,
mundo no sentido de um sistema de valores que afrontam a Lei de Deus, usurpam a
autoridade e a glória d’Ele e ao mesmo tempo escravizam o homem criado a sua
imagem e semelhança. É deste mundo que fomos tirados pelo chamado do Evangelho,
purificados pela obra da redenção e devolvidos ao mundo com a missão de sal da
terra e luz do mundo. No Natal, nossa mensagem é esta, Ele veio para que não
sejamos mais do mundo, mundanos, mas agentes do Reino com uma missão no mundo. Quarto, “O qual se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniquidade, e
purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras” (Tt 2.14).
Como decorrência inevitável do que escrevemos acima, Jesus veio ao mundo para
constituir um povo peculiarmente seu (a Igreja) comissionado e habilitado para
fazer boas obras. Boas obras não em uma época especial, em uma data precisa ou
momentosa e nem numa ocasião conveniente, mas sim no compromisso de toda uma
vida com a justiça, a equidade, a verdade, a defesa da vida, os cuidados do
meio ambiente, o engajamento em causas humanitárias e sociais e etc. Quero
desafiá-lo a alargar a sua compreensão do que seja o Natal de Jesus Cristo o
que ele de fato significa e de como e porque devemos celebrá-lo. Qualquer outro
sentimento ou qualquer outro motivo para a festa será uma fraude e uma
usurpação. No caso dos cristãos e da igreja, será uma apostasia. Que o natal
seja o Natal da Redenção trazida por Jesus.
Reverendo Luiz Fernando
É Ministro Presbiteriano em Itapira