O Culto da Palavra
“Venham sobre mim também as tuas misericórdias, ó Senhor, e a tua
salvação segundo a tua palavra” (Sl 119.41).
O ponto mais alto de uma reunião de adoração em uma
igreja genuinamente evangélica é a pregação da Palavra. Podemos afirmar com toda a
convicção possível que um culto evangélico é um culto da Palavra.
Infelizmente os nossos dias parecem desmentir esta afirmação. Infelizmente
parece que algumas profecias dos apóstolos se cumpriram entre nós: “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos,
amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências” (2
Tm 4.3); “Sabendo primeiro isto, que nos
últimos dias virão escarnecedores, andando segundo as suas próprias
concupiscências” ( 2 Pe 3.3). E, o resultado inevitável de quando a pura
Palavra de Deus não é nem desejada e nem pregada, é que o culto se torna um
palco para todo tipo de excentricidades. Há mesmo até pessoas bem intencionadas
que desejando um culto mais palatável, concedem a maior parte do tempo
disponível para corais, solistas, grupos de louvores, danças, coreografias,
filminhos motivacionais e etc. O tempo restante fica por conta de uma leitura e
de uma exposição breve, sem profundidade e controlada exatamente pela
expectativa do que veio antes, entreter os expectadores. Nos casos mais graves,
tudo o que há na reunião de oração são testemunhos, expulsão de demônios, maus
espíritos e infindáveis testemunhos de curas, milagres e vitórias, sobremaneira
na vida financeira. Infelizmente a saturação destas coisas na grande mídia
provoca pelo menos duas reações difíceis de aceitar. Na primeira delas muitos
cristãos sérios e não poucos líderes sentem-se tentados porque veem o
crescimento destas tais comunidades, ou pelo menos, o aparente sucesso destes
‘impérios’ ministeriais e os invejam e imitam. A segunda reação é aquela que
leva ‘os de fora’ a nos igualar a todos.
Por isso, muitos têm resistência em fazer-nos uma visita, outros têm até medo
de serem submetidos a qualquer um desses excêntricos expedientes citados até
aqui. Todavia, num culto genuinamente evangélico e umbilicalmente ligado à
tradição Reformada, a leitura e a exposição da Palavra têm a primazia, como diz
o pastor e teólogo alemão Dietrich Bonhoenffer: “Nosso louvor e orações precisam estar de acordo com as Escrituras, e,
acima de tudo, a Palavra pregada tem de servir ao propósito de agradar a Deus,
porque o sermão é o aspecto mais importante da adoração, visto que por
intermédio dele o Criador do universo fala a seres insignificantes”. Em nosso culto a Palavra de Deus recebe tanta
ênfase porque entendemos que onde ela não é pregada a verdade não pode
prevalecer. Onde a palavra não é exposta Cristo não pode prevalecer e fora de
Cristo nada existe senão ídolos. Onde a palavra de Deus não é pregada
com fidelidade, integridade e corretamente pelo ministro, não há poder
sobrenatural que de fato venha da parte de Deus. Tudo o que há são ilusões e
sugestões vindas da carne ou do maligno. Somente a palavra de Deus produz fé
(Rm 10.17), santificação (Jo 17.17) e comunhão real com Deus (Jo 8.31; Jo
15.7). Uma boa leitura para descobrirmos quais os efeitos nefastos de uma
religião, de um culto intentado a ser prestado a Deus, mas que rejeita ou
negligencia a escuta atenta da palavra de Deus é o livro de Amós. Este profeta
menor aponta com o seu dedo em riste os grassos pecados de Israel num tempo de
muito fervor religioso. Os santuários e o templo estavam abarrotados de
pessoas. Muitas peregrinações a lugares sagrados. Muitos ritos e cerimônias.
Contudo os pregadores eram proibidos de falar. Os profetas não podiam entregar
a mensagem (Am 5.10). O que aconteceu com este povo dado a milagres e
cerimônias, mas que não ouvia a Palavra? Imoralidade sexual degradante (Am
2.7); Juízes corruptos (Am 2.6-7; 5.12); Opressão (Am 3.9; 4.1; 8.4-6;
5.11-12); Exploração do pobre (Am 5.11-12); Insensibilidade para com os
sofredores ( Am 6.6); Não suportavam a verdade (Am 5.10). Estamos em grande
perigo quando qualquer outra coisa ocupa o lugar mais alto, a posição mais
elevada ou é mais desejada que a Palavra de Deus lida e exposta em nossas
assembleias litúrgicas. Ouçamos o gentil convite de Amós: “Buscai o Senhor e viverei” (Am 5.6). Busquemos o Senhor em sua
Palavra quando a igreja estiver reunida, pois é aí que o Espírito fala (Ap
2.29).
Rev. Luiz Fernando
É Ministro da
Igreja Presbiteriana do Brasil em Itapira.
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