Ícone Trinitatis
“A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do
Espírito Santo sejam com todos vós" (2 Co 13.13).
Um dos títulos mais belos para um livro que já li é: A
Santíssima Trindade é a melhor comunidade, escrito pelo ex-frade franciscano
Leonardo Boff. Conquanto se possa discordar ou desconfiar de algumas afirmações
contidas ali, eu mesmo gostaria muito de ter escrito algo com este título. De
fato, se a igreja deve refletir em sua missão e em sua natureza o caráter deste
Deus Triúno é porque Ele mesmo é o melhor modelo de vida comunitária e de
relações marcadas pelo amor, pela comunhão, pela unidade perfeitíssima na
diversidade e pela solidariedade na missão. Então, não há mesmo melhor
comunidade do que a Santíssima Trindade e a Igreja visível e em missão no mundo
deve ser seu ícone, isto é, a sua imagem. Daqui, se conclui que se alguém quer
saber como Deus é e com o que Ele se parece, como são as suas feições, de
alguma maneira misteriosa, porém real. Por uma visão embaçada, contudo,
verdadeira, deverá olhar para a comunidade dos discípulos, para a igreja
estabelecida sobre a terra que está em estado permanente de missões
participando ativamente na Missão de Deus no mundo. Uma igreja trinitária é, antes do
mais, uma comunhão de pessoas do que uma instituição. É uma comunidade
profundamente relacional e toda a sua atividade deriva desta realidade.
Assim como na Trindade onde o Pai, o Filho e o Espírito Santo vivem numa eterna
e fecunda relação de amor e comunhão, a igreja deve reproduzir em seu seio esta
vida. A vida da comunidade proclama o Evangelho ao mundo em forma de testemunho
e sinal de contradição. Em nossa cultura e sociedade marcadas pelo
egoísmo, pela brutalidade, pela desagregação e por relações utilitaristas,
descartáveis e excludentes, a igreja é convocada a viver na contramão destas
coisas. Olhando para o mistério da Trindade a igreja aprende as lições de uma
relação vivida no amor que se abre e se entrega totalmente ao outro, no amor
que é serviço em promoção da vida e participação e inclusão plena de todas as
pessoas na missão. Todos são igualmente importantes, ninguém nunca é excluído
de coisa alguma, tudo nesta relação fica subordinado ao amor que se deve
manifestar um ao outro. Olhando para a
Trindade aprendemos que há o primado do ser, da pessoa em si mesma sobre todas
as outras realidades. A pessoa do Pai é a realidade mais importante para o
Filho. A pessoa do Filho é a causa de toda alegria e prazer do Pai. Pai e Filho
desejam a presença do Espírito e este por sua vez preocupa-se com a glória de ambos.
Numa comunidade que espelha a Trindade a pessoa deve preceder a organização, a
instituição e os cargos e ofícios. A realidade existencial do outro é o bem
maior da comunidade e a sua razão de ser em missão. O irmão deve ser acolhido,
amado, valorizado, defendido em sua dignidade, protegido em suas carências e fraquezas
e nunca se ver exposto ou aviltado por causa de suas imperfeições e mazelas. Na
Trindade bendita, as pessoas recebem honra e glórias recíprocas. Na Igreja a
verdade não pode ser outra, devemos zelar pela honra e pelo bom nome de nossos
irmãos. Devemos nos rivalizar em honra-nos uns aos outros e não em
sobrepujarmo-nos uns aos outros em títulos e honrarias meramente humanos.
Olhando para a Trindade aprendemos o valor do diálogo profundo e contínuo. Pai,
Filho e Espírito Santo vivem em estado eterno de Concílio, de abertura, de
escuta, de acolhida. Em uma igreja imagem da Trindade não há lugar para
pequenos ditadores, lideranças despóticas, prevalência da vontade calcada em
quaisquer formas de poderes, quer econômicos, sociais, culturais, ou o peso da
tradição de uma família ou algo do gênero. Assim como na Trindade, todos devem
ser ouvidos. Todos tem o privilégio-dever de falar, de propor, de participar
das decisões e depois de assumi-las como suas. Na Trindade não há vencidos e
vencedores. Na trindade não há quem vença pelo “soco na mesa” ou por
falar mais alto. O diálogo trinitário é construído com base na lealdade, no
amor, na interdependência e na verdade. A igreja não pode desejar nada diferente
para fazer a diferença no mundo. Por último, sem esgotar a riqueza do assunto
por falta de espaço aqui, na Trindade tudo é feito com a mais perfeita
solidariedade. A Missão de um é a Missão de todos. Não obstante cada um tenha
tarefas muito específicas, todas as três pessoas da Trindade estão
comprometidas na Missão de cada um. A igreja tem o dever de reproduzir em sua
atividade o mesmo. Somos todos igualmente convocados, equipados e enviados, sem
exceção. Embora cada qual seja destinado a realizar uma função, nossos
ministérios são inextrincavelmente interdependentes. O Êxito de um é o êxito de
todos. A dificuldade de um é um desafio para todos. Que a Trindade seja o nosso
modelo. Que a nossa igreja seja uma imagem da Trindade.
Rev.
Luiz Fernando Dos Santos
É Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil em
Itapira
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