Com Cristo na Cruz
“Certamente, a
Palavra da Cruz é loucura para os que se perdem...” (1Co 1.24).
Como cristãos reformados
cremos e ensinamos que Cristo foi levantado na cruz em nosso favor e em nosso
lugar. Cremos e ensinamos ainda que o seu suplício no madeiro foi vicário, isto
é, substituiu-nos e assim, não há mais razão para que nós sejamos crucificados.
Ele pagou por nós a pena e assim, do ponto de vista legal, do fazimento da justiça,
agora somos inimputáveis nos crimes que ele quitou em sua obediência e em sua
morte. Todavia há um aspecto misterioso, porém real, que Cristo não foi
sozinho ao madeiro, mas que nós devemos estar lá com ele. É, que depois de
salvos, a nossa consciente contrapartida de amor é crucificar-nos com ele em
relação ao pecado, ás inclinações da carne e às solicitações do mundo
corrompido. Isso se traduz num estilo de vida cruciforme, isto é, moldado pela
cruz. A primeira dimensão de nosso ser que que devemos crucificar é a
nossa mente, a operações de nossa intelectualidade, a nossa escala mental. O
orgulho e a soberba são características de uma mente não crucificada. Por meio
de sofismas, racionalizações e falácias desejamos dar uma narrativa de auto
justificação, autogratificação, procurando isentar-nos de nossas
responsabilidades pelas escolhas que fazemos. No Éden, o que antecedeu na
Queda de nossos primeiros pais, foi exatamente a busca de uma explicação
razoável que sustentasse e fundamentasse a razão para transgredir. Isso
ainda acontece hoje quando nossa razão não está crucificada. Passamos a vida
tentando validar nossos pecados, nossas escolhas narcisistas, autocentradas,
argumentando que fizemos o que fizemos porque era o óbvio, o simples, o
possível de se fazer, porque no fundo, nos parecia ‘bem ao paladar’. Junto com
a mente, com a inteligência, precisamos crucificar a nossa vontade, os nossos
desejos, o nosso coração. Como disse um venerável os nossos desejos, o nosso coração. Como disse um
venerável pai da Igreja, amar não é em si mesmo e nem pode ser pecaminoso. O
objeto do amor é que denota se ele é santo ou não. Portanto, o desejo
crucificado é aquele que nos impulsiona a amar somente o que é verdadeiro,
justo, reto e moralmente bom consoante a Lei de Deus. O desejo crucificado tem
a maturidade de discernir e o poder para abster-se, rejeitar e dizer não
peremptoriamente àquelas circunstâncias, oportunidades que num primeiro momento
reluzem como ouro, parecem trazer em si mesmo satisfação, contentamento e puro
prazer. O coração quando crucificado, antes de embarcar nessas
circunstâncias, há de investigar, ponderar, confrontar a oportunidade com a
vontade de Deus e de antemão, será capaz de conhecer as consequências e será
capaz de renunciar, sem o pesar da alma e com santa alegria pela renúncia em
vista de algo superior. Quando o coração não está crucificado somos como que
marionetes nas mãos de nossos desejos desordenados que nos levam de uma
experiência a outra, fazendo-nos colher amargos frutos de frustração. Outra
dimensão do nosso ego que precisamos crucificar com Cristo é o da ambição.
Existe uma ambição, digamos, tácita, santa, colocada por Deus em nós. É o
desejo bom de desenvolver, crescer, frutificar, edificar. Estas coisas são boas
e fazem parte da criação estrutural do homem. Mas, a ambição desmedida, que se
revela no desejo desmedido por poder, fama, evidência, cuja raiz é o apego ao
dinheiro, precisa ser crucificada também. Essa dimensão do nosso ‘eu’ será
crucificada quando pela renovação espiritual de nossa mente e circuncisão de
nosso coração, compreendermos qual a nossa vocação em Cristo. Quando tomarmos
consciência amadurecida de que toda a nossa vida, com os nossos dons naturais,
as aquisições intelectuais, artísticas, tecnológicas, financeiras e etc., não
nos foram dadas para serem utilizadas por nós como um fim em si mesmas e nem
para o nosso exclusivo deleite. O que somos e o que temos são pura graça
de Deus para a glória dele mesmo e de maneira especial, para vivermos para o
bem-estar, socorro, providência, desenvolvimento e bênção de nossos
semelhantes, quer irmãos em Cristo, quer próximos de nós, porque imagem e
semelhança de Deus. Subimos à cruz com Cristo na medida em que deixamos
de viver para o nosso ego, para a nossa autogratificação e passamos a perseguir
dois alvos em nossa existência. Um alvo eterno, viver desde agora para a glória
de Deus. Um alvo no hoje de nossas vidas, viver a serviço dos irmãos e sendo
uma bênção para todos. Crucifique-se!
Reverendo Luiz Fernando
é Ministro da Igreja
Presbiteriana Central de Itapira
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