O contínuo aprendizado da liberdade
“Portanto, se o Filho os libertar, vocês de fato serão livres” (Jo 8.36).
Parece estranho, mas não
sabemos ser livres. Queremos, mas não sabermos ser. Não nos sentimos
confortáveis com a liberdade e raras vezes sabemos desfrutar dela com proveito.
A liberdade é o nosso maior dom e também o nosso maior desafio.
Comumente pensamos em liberdade como a remoção de todos os entraves éticos e de
todos os contornos de moralidade. Julgamos que livre é aquele que faz o
que quer, quando quer, como quer sem prestar contas ou dar maiores satisfações.
Liberdade parece ser não deixar-se definir ou moldar por coisa alguma, é não
possuir padrões ou referenciais absolutos.
Por isso mesmo, liberdade virou sinônimo de “politicamente correto”, de “vivo
e deixo viver”, “meu corpo, minhas
regras”, “eu me defino sexualmente”,
“se é comum é porque é normal” e etc.
Nessa
exacerbação do que se pensa como liberdade há uma escravidão e uma ditadura em
voga, que absurdamente todos parecem cegos para ela, é a ditadura do
relativismo. Relativismo é aquela doutrina filosófica e aquele estilo
de vida que nos força a viver apenas do momento, da lógica da conveniência,
pois o que pode ser certo pra mim, pode muito bem não ser o correto pra você. E
assim, todos estão certos e ninguém tem razão e cada um leva a vida do jeito
que achar melhor, não importando com o que é verdadeiro. Qual a origem desse estado de coisas? Claro,
o mau uso que Adão e Eva fizeram de sua imensa liberdade no paraíso. Uma
liberdade nunca mais desfrutada pelo homem, até que fosse redimido por Cristo e
até que entre na glória. Adão e Eva eram livres, mas nunca foram infinitamente
livres. Não é possível que haja dois seres infinitamente livres, se não, os
dois seriam deuses. E, como há um só Deus, esse sim libérrimo, Adão e Eva como
criaturas, gozavam uma liberdade imensa sim, com o limite de não poderem comer da
arvore da ciência do bem e do mal. Aqui estava o limite para aquela imensa
liberdade. Essa liberdade incluía também, a faculdade para não pecar e também,
para fazê-lo. Livremente escolheram transgredir, desejaram ser mais livres do
que eram, desejaram a liberdade que é própria somente a Deus. Você sabe as consequências
disso. Seus descendentes (nós) passaram a ter dificuldades noéticas,
espirituais, morais e físicas quanto à noção de liberdade. Logo se acharam
escravos do pecado e de suas paixões caídas. Mais tarde, para restringir o mal,
assinalar a malignidade do pecado, instruir as mentes e provocar “desespero”
pela salvação e a necessidade de um Salvador, todos foram como que
escravizados, submetidos sob Lei. A Lei não foi dada para salvar, antes
apontava para a presença do pecado na carne, na mente, no coração, na alma.
Assim, a Lei também apontava para um padrão de vida onde haveria verdadeira
liberdade, no coração entregue a Deus em amor e submissão, na recusa aos
ídolos, na guarda de um dia santificado, no respeito amoroso e voluntário para
com as autoridades, no amor generoso cuidador para com o próximo e a
sacralidade de seus bens e seus corpos. A lei queria indicar que na prática
constante e fiel dessas coisas, o homem experimentaria de novo, harmonia, paz e
relações adequadas com Deus, com os homens e o restante da criação, em plena
liberdade. A Lei apontava para tal, mas a sua observância era impossível,
exatamente porque não éramos livres para obedecer, nossos pecados nos
arrastavam após si para fazermos o que desagradava a Deus e a nós mesmos, sem poder
evitar, sem liberdade para isso. Agora em Cristo, estamos livres outra vez.
Agora, pela obra de Cristo e pelo transbordamento de sua graça, temos liberdade
para evitar o mal, fazer o que é bom, justo, honroso, que mereça louvor, que dê
gozo verdadeiro á nossa alma, que glorifique a Deus, que ame os irmãos e cuide
e proteja a ordem social e a natureza. E como sabemos que coisas são essas?
Voltando para a Lei! Ela nos dá o exato padrão da liberdade.
Ela nos instrui e nos ensina que ser livres não é fazer o que queremos e o que
sentimos vontade, a despeito do julgamento alheio. Liberdade é fazer o que é
justo, certo, verdadeiro e adequado, a despeito dos meus desejos e das minhas
inclinações. Nossa liberdade em Cristo não nos deixa escravizar por
qualquer coisa que ofenda a Deus, nem mesmo aquelas com aparência de piedade ou
de religião, que na verdade não passam da imaginação de homens que não sabem o
que fazer com a própria liberdade. Não há maior escravidão do que fazer somente
aquilo para o qual se é inclinado, sem poder resistir, sem ter a vontade de não
fazê-lo. Venha para a liberdade dos filhos de Deus.
Reverendo Luiz Fernando
é Ministro da Igreja Presbiteriana Central de Itapira
Nenhum comentário:
Postar um comentário