Você não merece ser feliz!
“Porque todos pecaram e
destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23).
Sei que muitos ao se
depararem com esse título nem desejarão mais ler o artigo que segue. Não me
espanto com isso. E, como a maioria dos que apreciam os meus textos são
cristãos, é justamente entre esses que se encontra o maior número de
desertores. Muitos de meus colegas pastores devem estar agora mesmo perdendo a
paciência e até a caridade para comigo. Não os culpo de maneira alguma e
compreendo perfeitamente a reação a este título. Desde a Queda, evidentemente,
mas sobremaneira nos últimos tempos, essa mentira de que devemos ser felizes
custe o que custar e que a única razão pela qual estamos aqui é para sermos
felizes, (então você tem direito a essa felicidade), faz parte do cotidiano de
muitos cristãos e de muitos pregadores. Uma visão excessivamente humanista, centrada
apenas nas necessidades e nos anseios do homem, que desde a modernidade,
proclama a sua autonomia, também influencia a nossa teologia e a nossa leitura
das Escrituras. Essa visão humanista ela é antropocêntrica, isto é, coloca o
homem no centro de tudo, coloca o homem como aquele que tem desmedidos direitos
sobre tudo e, portanto, o sentido da vida é ser feliz, ter, usufruir, gozar,
satisfazer-se e etc. Por isso mesmo, na teologia contemporânea e em
muitos contextos evangélicos tudo é meticulosamente pensado no bem estar dos
frequentadores. As músicas, letras, melodias e ritmos, são especialmente
planejados para entreter, emocionar e promover os desejos dos que ouvem e
cantam. Na verdade, poucas são as letras que cantam as glórias de Deus, a sua
majestade, o seu poder e a sua graça. Antes, o que é louvado são as vitórias e
as conquistas humanas ou a projeção e a cobiça do homem em sempre querer ter o
que não possui. O que dizer das pregações? Fortemente ‘psicologizadas’. São escolhidos temas para não só massagear o ego,
mas também temas que podemos encontrar com muita facilidade nos cursos de ‘coach’ ou mesmo nessas preleções
motivacionais e de autoajuda. Quase não se tem espaço para magnificar o plano
da salvação estabelecido pelo Pai e executado por Cristo na obra da redenção. A
cruz é hoje em muitos ambientes cristãos uma palavra amaldiçoada, proibida até.
Tribulação, tentação e outros temas afins, se abordados o são para justificar
uma derrota pessoal em face de uma desobediência ao que determinara o pastor,
líder e seja lá quem for. Dentro dessa cultura que exalta o homem, as
igrejas capituladas pelo secularismo, têm como o centro do seu ensinamento o
postulado: Você merece ser feliz! Mas, não é verdade. A Bíblia não se trata do
homem, não se trata de nós num primeiro momento. A Bíblia tem o seu centro e a
essência de sua mensagem em Deus. Quem Ele é, o que Ele fez e como Ele fez e o
que Ele faz ainda hoje e como e por meio de quem Ele o faz. É verdade,
a Bíblia revela muitas coisas sobre o homem, de fato, o homem foi feito para
ser feliz. Criado para ser eterna e perfeitamente feliz, sem coisa alguma que o
pudesse aborrecer. Mas, desgraçadamente ele perdeu essa condição na Queda e de
lá pra cá, nenhum homem ou mulher nascido neste mundo tem o direito à
felicidade. Todos são pecadores e ofenderam Aquele, justamente Aquele único que
poderia dar a felicidade plena. Desde então, todos estamos encerrados em
maldição e debaixo de sua ira. E, mesmo sendo inimigos declarados d’Ele, uma
vez que pensamos em como nos agradar e satisfazer-nos, Ele continua mostrando a
sua grandeza, majestade e amor, preservando-nos a vida e não deixando-nos ser
consumidos em sua justa ira. Mesmo não crendo Nele ou a Ele obedecendo e
amando, ainda sim Ele nos permite e ainda providencia todas as coisas para o
nosso bem. Mas, não porque merecemos, e sim porque Ele é bom e o que temos não
é mérito, é graça. Então, não se trata de nós e sim d’Ele, que ainda ofendido,
negado, esquecido, blasfemado, desobedecido e não amado, continua gracioso.
Entretanto, essa vida não é tudo o que há. Esses dias hão de passar
inevitavelmente, ainda que você tenha tido uma vida boa, ela não será sem
consequências eternas. Então, se não temos o direito a felicidade, significa
que nossa situação ainda pode e vai piorar. O que precisamos antes de ser
felizes é sermos reconciliados com Deus e isso se chama salvação. E essa é
outra coisa que também não merecemos, mas que também nos é ofertada de Graça.
Essa Graça é Cristo. Só n’Ele, por meio d’Ele é que o Pai nos aceita e somente
com Ele, Cristo, somos então beneficiários, herdeiros de toda felicidade, bem
aventurança e gozo. Não porque merecemos, mas por graça que nos chega pela fé.
Reverendo Luiz Fernando
é Ministro do Evangelho da Igreja Presbiteriana Central de Itapira
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