Solenidade da
Ascensão do Senhor
“O
Filho é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser,
sustentando todas as coisas por sua palavra poderosa. Depois de ter realizado a
purificação dos pecados, ele se assentou à direita da Majestade nas alturas”
(Hb 1.3)
Transcorridos quarenta dias da celebração da
Páscoa o calendário cristão nos traz a solenidade da Ascenção do Senhor. Esta é
uma festa cristã rica em significado e repleta de doutrina e encorajamento para
vida do crente. Um dos modos mais interessantes de investigar o que podemos
aprender desta data litúrgica é visitar os livros litúrgicos e descobrir o que
em forma de poesia e lirismo a tradição cristã produziu e conservou desta
verdade Bíblica recordada na comunidade de fé. A oração inicial mais antiga
deste dia diz o seguinte: “Ó Deus
todo-poderoso, a ascensão do vosso Filho já é nossa vitória. Fazei-nos exultar
de alegria e fervorosa ação de graças, pois, membros de seu corpo, somos
chamados na esperança a participar da sua glória”. Desde logo encontramos
aqui uma verdade do credo apostólico que serve não só de instrução, mas de
consolo e entusiasmo para caminhada cristã. Jesus elevado aos céus em corpo humano, transfigurado pela
ressurreição, é na verdade a antecipação daquilo que também nós podemos e
devemos aguardar pela fé. Na Ascensão de Jesus não celebramos algo que
possivelmente acontecerá conosco, mas algo que efetivamente acontecerá, isto é,
terminada a nossa peregrinação terrestre, transfigurado o nosso corpo de
humilhação em um corpo de glória (Fp 3.21), seremos elevados ás alturas para
habitarmos para sempre com o Senhor (1Ts 4.17). Outro texto litúrgico é a anáfora
da eucaristia: “Na verdade, é justo e
necessário, é nosso dever e salvação dar-vos graças, sempre e em todo o lugar,
Senhor, Pai santo, Deus eterno e todo-poderoso. Vencendo o pecado e a morte,
vosso Filho Jesus, Rei da Glória, subiu ante os anjos maravilhados ao mais alto
dos céus. E tornou-se o mediador entre vós, Deus, nosso Pai, e a humanidade
redimida, juiz do mundo e Senhor do universo. Ele, nossa cabeça e princípio,
subiu aos céus, não para afastar-se de nossa humanidade, mas para dar-nos a certeza de que nos conduzirá à glória da
imortalidade”. Este texto insiste em afirmar que subindo aos céus Jesus não
se afasta de nós, não rompe conosco os
laços de amizade e nem nos abandona em nossas necessidades. Antes, pelo contrário. Jesus Cristo agora é
nosso mediador e também nosso representante no Conselho da Trindade. O Pai
nos ouve e aceita as nossas orações por meio dele, Jesus, o sumo sacerdote que
conhece as aflições da humanidade redimida, porém imperfeita e ainda sob a
influência do pecado e da morte. Embora Ele mesmo não conhecesse o pecado
fez-se pecado por nós e na cruz suportou a ira santa de Deus sobre o pecado e
os pecadores, por isso mesmo, em sua humanidade glorificada enche-se no céu de
compaixão por nós e pleiteia ante o trona da Graça as graças de que mais temos
necessidades. Há ainda outra dimensão a ser considerada nesta solenidade. Uma
dimensão filosófica quanto á existência humana no aqui e agora. Vivemos tempos
de consumismo desenfreado, materialismo exacerbado e coisificação dos
sentimentos e dos relacionamentos humanos. O homem, apesar do ambiente
extremamente religioso e “espiritualista” da nossa época, vem perdendo a cada
dia a noção de transcendência e por isso mesmo do sentido último para a vida.
Por isso todos parecem correr contra o tempo para encontrar a felicidade e para
dar uma razão à própria existência. Vivemos numa espécie de “vale-tudo” da
satisfação e do prazer. Neste sentido a solenidade da Ascensão aponta para a
sublime vocação do homem em Cristo, aponta para o mistério, agora revelado na
ascensão, de que a vida continua depois desta vida, e que aqui temos apenas,
porém verdadeiros e maravilhosos, vislumbres da felicidade e da glória. Que
tudo o que há neste mundo é dom de Deus para a humanidade inteira sem exceção,
pois Deus é bom. Todos podem casar-se, gerar filhos, ter acesso aos bens
materiais desta vida, deleitar-se nas artes, viver amores e etc. Mas, isto não
é tudo o que há. O que está além destas verdadeiras dádivas do Pai só pode ser
encontrado em Cristo e Cristo está no alto, assentado à direita do Pai e
devemos buscar estas coisas: “Portanto,
já que vocês ressuscitaram com Cristo, procurem as coisas que são do alto, onde
Cristo está assentado à direita de Deus. Mantenham o pensamento nas coisas do
alto, e não nas coisas terrenas” (Cl 3. 1,2). Na Ascensão de Cristo
descobrimos que nada tem sentido último e final
aqui e agora. Enquanto vivemos com responsabilidade e compromisso com as
demandas desta vida, sem escapismos, elevamos ao alto os nossos corações e
anelamos pelo dia em que em corpo e alma redimidos e transfigurados estaremos
pela eternidade com o Senhor da Glória.
Rev. Luiz Fernando Dos Santos
É
Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil em Itapira
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