O Sangue dos Mártires
“Eis que vos envio como ovelhas para o meio de
lobos” (Mt 10.16).
Embora sejamos contados em termos de bilhões, nenhum
outro grupo na face da terra sofre maior perseguição que os cristãos. Nem gays,
negros, judeus, ciganos ou qualquer outro grupo ideológico, étnico ou religioso
sofre tanta pressão e perseguição com tantas baixas de vidas como os cristãos.
Somente o Estado Islâmico e o Boko-Haram, sem falar da Al Caeda e a Coreia do
Note, são responsáveis diretos pela maior parte do sofrimento impingido aos
cristãos ao redor do mundo. Mas, numa Universidade Americana, por exemplo, se
um Judeu tem a sua história confrontada ou se um muçulmano vê questionada a sua
fé, o caso se torna um problema ético e político que extrapola as salas de
aulas e ganha as ruas, os telejornais e etc. Mas, todos os dias os cristãos
veem submetidas a críticas vexatórias por cientistas, intelectuais e
professores sua fé na criação, por exemplo. Quantos cristãos crianças e
adultos, não são humilhados e ridicularizados por crerem num Deus pessoal? Não
há como negar que muito desta indisposição e até desta perseguição tem um
porquê. São os reflexos de um tempo em que os cristãos confundiram o Reino de
Deus com os seus projetos políticos e econômicos. Vem de um tempo em que a
igreja deixou-se seduzir pelo poder e usou a sua instituição, os seus recursos
humanos e financeiros e ainda contou com a boa fé das culturas e povos
alcançados para explorar suas riquezas e em não poucos contextos submetê-los ao
julgo político e econômico de sua nação de origem. Nisso, com poucas variantes, católicos e protestantes
se assemelham. Todavia,
não podemos carregarpara sempre e nem
generalizar a atitude histórica de nossos antepassados apenas com base em
nossos pressupostos históricos, seria apenas moralismo barato. Contudo, os
cristãos desde as páginas do Novo Testamento, são chamados a entender o querer
de Deus atrás dos acontecimentos da história, quando estes são desfavoráveis e
hostis à igreja. Tertuliano cunhou a famosa frase: “O sangue de mártires é
semente de novos cristãos”. Tertuliano teria feito esta afirmação no contexto
de perseguição do Império Romano que jogava às feras os cristãos como sentença
para a sua fé e como diversão para os pagãos. Mas, são as grandes dimensões
pelas quais a igreja sempre entendeu os motivos de sua perseguição: 1.
Punição: A Igreja não descarta esta verdade. Quando ela mesma abre mão de sua
fidelidade, se deixa “amornar” em seu amor para com o Senhor. Quando ela
sacrifica no altar da fama e glória humana a fidelidade a Deus e se deixa
capitular pelos ídolos deste mundo, Deus envia seus ministros (agentes
históricos), para exercer o seu juízo sobre a igreja e seus atos que desagradam
o seu Senhor; 2. Purificação: Um tempo de perseguição e martírio também é um
tempo de purificação da Igreja. É um tempo de peneira, permanecem fiéis e
perseverantes, de fato e de verdade, somente aqueles que possuem maturidade
nascida de uma genuína experiência de salvação. Via de regra, os simplesmente
religiosos não suportam o carregar a cruz; 3. A perseguição é também uma
oportunidade: é um tempo para que a Igreja busque a Deus com mais intensidade,
leia as Escrituras com mais diligência, obedeça com mais prontidão e ministre
com amor serviçal e oblativo aos irmãos e aos homens e mulheres injustiçados do
mundo. Mas, não somente as igrejas submetidas às atrocidades mencionadas nos
jornais estão sendo punidas, purificadas e convidadas a um compromisso mais
intenso. Não. Toda a igreja e cada cristão em particular deve solidarizar-se,
comprometer-se em intercessões diárias, com amor defender a posição do
Evangelho no mundo, servir com mais ardor e estar sempre preparado para dar ás
razões da sua esperança (1Pe 3.15-16). Não nos deixemos acomodar pelas
facilidades de nosso país e de nossa sociedade, que por enquanto, nos garantem
liberdade de culto. Esta liberdade não é para nós, mas para que a usemos
denunciando o que acontece ao redor do mundo. Para estender as mãos à Igreja que sofre. Para fazer das
dores deles as nossas
dores. Ao mesmo tempo, temos uma dívida moral com eles. A perseverança deles deve ser um vigoroso chamado
para nosso maior compromisso com o Evangelho.
Rev. Luiz Fernando Dos
Santos
É Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil em Itapira
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