A Loucura do Evangelho
“Assim, como já
vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro
evangelho além do que já recebestes, seja anátema” (Gl 1.9)
Muito
do que se tem pregado e ouvido por aí como Evangelho nada tem de evangelho e
nem mesmo chega a ser uma heresia. Explico-me, em sua grande maioria os hereges
da igreja antiga eram homens eruditos, piedosos, pastores sinceros e zelosos,
dentre esses podemos citar Ario, Êutiques, Nestório e Orígenes. Seus erros
vinham mais de um zelo cego pela verdade, uma incapacidade de compreender sem
defecções as verdades da fé e no fundo julgavam serem devedores e guardiães da tradição
que os precedera. Já o que é ensinado hoje em dia seria estranho e na certa
provocaria a ira até mesmo dos hereges da igreja antiga. A mensagem
contemporânea é mais a fabricação de mentes engenhosas, desconectados por
completo das Escrituras e da Tradição da Igreja. É na verdade uma completa
conformação à mentalidade do mundo e uma completa capitulação ao espírito de
época. Não sem reverência, não consigo ver muita diferença substancial entre o
‘Rap de ostentação’ e o evangelho da prosperidade. Há claras diferenças de
ênfase, não, porém, de substância, uma vez que o que é buscado, desejado,
venerado é o dinheiro, o luxo, a riqueza, o conforto e os bens deste mundo. A
genuína mensagem do Evangelho é uma loucura, um contra senso para a mentalidade
do mundo. Em primeiro lugar porque o desejo de ficar rico não é uma bênção para
o ensino do Novo Testamento, mas um perigo para a alma: “Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas
concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína”
(1 Tm 6.9). Em segundo lugar, acúmulo de riquezas e felicidade não
são as mesmas coisas: “E disse-lhes:
Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não
consiste na abundância do que possui”
(Lc 12.15). Em terceiro, o Novo Testamento exalta a benemerência em detrimento
de um espírito que folga em receber: “Tenho-vos
mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos, e
recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é
dar do que receber” (At 20.35). Em quarto lugar, o evangelho tem uma
palavra clara sobre a autoestima exacerbada: “É necessário que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.30). No quinto
lugar há também um ensino sobre a sensualidade, as paixões e os desejos da
carne: “Foge também das paixões da
mocidade; e segue a justiça, a fé, o amor, e a paz com os que, com um coração
puro, invocam o Senhor” (2 Tm 2.22) e ainda: “Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra: a
fornicação, a impureza, o afeição desordenada, a vil concupiscência, e a
avareza, que é idolatria” (Cl 3.5) e: “Para
que, no tempo que vos resta na carne, não vivais mais segundo as
concupiscências dos homens, mas segundo a vontade de Deus” (1 Pe 4.2). O
verdadeiro Evangelho é um duro golpe desferido contra o orgulho e a vaidade do
homem. Não é uma mensagem de autoajuda e para fazer o homem sentir-se bem e em
paz com a sua consciência. Não absolutamente. A mensagem do genuíno Evangelho é
uma revolução, uma transformação no padrão de comportamento, nos sentimentos e
na escala de valores de uma pessoa. Alguém que recebeu tal mensagem nunca
determinará a Deus coisa alguma, mas há de determinar-se à glória dele e para
ela viver e morrer. Mas, a quem cabe a responsabilidade da preservação,
pregação, ensino e aplicação do Evangelho, do puro Evangelho na Igreja? Sem
sombras de dúvidas do Conselho. A este cabe a intransferível responsabilidade
de fazer todas as coisas ao seu alcance para que o padrão das sãs palavras e o
bom depósito da fé sejam mantidos e transmitidos intactos. Para isso, devem ser
muito criteriosos na escolha de ministros (pastores) e na nomeação de
professores de escola dominical e demais líderes empenhados em ensinar. Depois,
é uma tarefa de responsabilidade pessoal vital do pastor mestre da Igreja. Este
deve dedicar-se como Paulo ensina: “Tem
cuidado de ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas coisas; porque, fazendo
isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem” (1 Tm 4.16) e: “Em tudo te dá por exemplo de boas obras; na
doutrina mostra incorrupção, gravidade, sinceridade” (Tt 2.7). E por
último, mas não com menor responsabilidade, a membresia da Igreja deve desejar
a sã doutrina. Deve vigiar para que modismos e ensinos alienígenas não se
introduzam na comunidade e ela mesma não deixar-se impressionar por aquilo que
faz sucesso. Sucesso não é critério para o Evangelho, mas sim os frutos. Onde
há a pregação do genuíno Evangelho ali há abundância de frutos que exaltam a Deus
e não de histórias que promovam líderes ou instituições.
Reverendo Luiz Fernando é Ministro
da Igreja
Presbiteriana em Itapira
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