Um encontro com Deus
“Mas chegastes ao monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém
celestial, e aos muitos milhares de anjos; À universal assembleia e igreja dos
primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos
espíritos dos justos aperfeiçoados; E a Jesus, o Mediador de uma nova aliança,
e ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o de Abel” (Hb 12.22-24).
Uma das coisas que mais ouvimos quando uma pessoa nos
visita aos domingos é: “Nossa, como o
culto de vocês é diferente. Diferente do que eu esperava. Diferente de tudo que
já vi”. Confesso que não poucas vezes não sei bem o querem dizer com estas
coisas. Mas, uma coisa eu sei, quando nos reunimos como igreja o que mais
desejamos é fazer um encontro com Deus. Não é uma questão trivial pela qual nos
reunimos, é antes um encontro de pecadores e um Deus santo, entre um Rei
magnífico e seus súditos. Adoração para nós cristãos reformados não é
um tempo para “relaxar” com Jesus, participando de um grande e animado evento
social que visa a atender as nossas carências, como se fôssemos consumidores.
Em lugar disso, é o momento em que o infinito e o todo-santo Deus do universo
condescende conosco em um encontro na graça e no poder do Espírito Santo
através dos meios de graça. Por isso, de nossa parte, não se trata do que nós
desejamos fazer, não se trata de nós, a nossa adoração não pode ser conduzida
pela cultura, pela moda, pelas tendências do mercado do entretenimento que
facilmente tem se misturado e confundido com o mercado religioso. Nossa
adoração só pode ser conduzida e inspirada pelas Escrituras e a postura ideal
de nossa parte neste encontro é a reverência: “Portanto, já que estamos recebendo um Reino inabalável, sejamos
agradecidos e, assim, adoremos a Deus de modo
aceitável, com reverência e temor”
(Hb 12.28). Este encontro significa também ruptura com o mundo, ruptura moral e
espiritual, se não de outra sorte o que fazemos quando nos reunimos outra coisa
não é que um “Culto de si mesmo e de
falsa humildade” (Cl 2.23 b), isto é, um culto para nós mesmos, onde somos
o centro das atenções e tudo é feito pensado em nós. Um culto é um encontro com Deus
quando ele é saturado das Escrituras. Onde a Palavra de Deus convoca
para a adoração e ela mesma é o que temos a dizer a Deus e sobre Ele. Onde as
orações que elevamos aos céus são substanciadas pala Palavra que lemos e
recitamos, mas porque também as encerramos invocando o nome do Verbo no final
de cada súplica. Há encontro onde esta mesma Palavra denúncia o pecado alojado
em nosso coração, ordena que o confessemos e o abandonemos e nos anuncia a
certeza do perdão em Cristo. Nosso culto é um encontro com Deus quando o que
cantamos ou é a Palavra mesma de Deus ou os nossos cânticos são claramente nela
inspirados. Este encontro se torna mais real quando do púlpito o ministro
anuncia de maneira solene: “Assim fala o
Senhor” e a Palavra é proclamada e depois exposta. Nesse momento, como nas
assembleias do Antigo Testamento, como Jesus no Novo às multidões e aos seus
discípulos, renovamos solenemente a Aliança e somos introduzidos nos mistérios
do Reino dos Céus. Nosso encontro fica mais íntimo á medida que o tempo passa e
quando a Palavra se torna visível no sacramento da Ceia, agora nossos olhos vêm
o Senhor sob o véu do sacramento. Nossas mãos apalpam o verbo da vida (1Jo 1.1)
e nossa boca experimenta a doçura do céu tipificados nos alimentos
“eucaristizados”. Por que enfatizamos que o nosso culto é essencialmente um
encontro pessoal e comunitário com Deus? Porque é exatamente este encontro o único
capaz de devolver sanidade à nossa mente, serenidade a nossa alma, descanso ao
nosso coração, equilíbrio às nossas emoções e aos nossos afetos, e refazimento
de nossas forças físicas. Por isso o nosso culto deve ser diferente de tudo o
que há no mundo, diferente de tudo o que há na religião, na cultura e etc.
Porque necessitamos elevar o nosso coração para além de nós mesmos, precisamos
de um evento que seja maior que a nossa existência, precisamos de um encontro
que transcenda a nossa experiência cotidiana. E Deus sabendo disso,
providenciou o culto, prescreveu o “rito”, ordenou os elementos, e ungiu o
sacerdote para nos conduzir e servir neste encontro, o Senhor Jesus Cristo, a
quem seguimos, em quem habita a plenitude da divindade, o templo onde Deus
habita, Palavra de quem a vida eterna nos é comunicada. Nosso culto é diferente
não exatamente pelo que fazemos, mas por quem nele encontramos.
Rev. Luiz Fernando
É Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil em
Itapira