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sábado, 4 de julho de 2015

MENSAGEM PASTORAL

‘Existencialismo Cristão’
 “Pois nele vivemos, nos movemos e existimos’, como disseram alguns dos poetas de vocês: Também somos descendência dele” (At 17.28).

Os nossos dias estão confusos e coisa alguma parece ser o que de fato é. A ditadura do relativismo nos carrega a todos numa enxurrada de desconstrução da realidade jogando impiedosamente a nossa geração num vácuo existencial, sem referenciais, sem absolutos morais, sem certo ou errado, sem padrões definidos. Em tempos como os nossos a desesperança e o desespero parecem ser o tempero predominante da alma. Muitos são os sintomas de nossa sociedade doente, o avanço das drogas e do álcool assolando famílias inteiras, abreviando absurdamente as vidas dos mais jovens. Uma geração inteira de “lesados” cresce bem à nossa vista. Potenciais que são desperdiçados, a força de trabalho que desaparece, ideologias e sonhos que são destruídos e vidas que são tornadas inúteis e alienadas da realidade. Cresce assustadoramente o índice de suicídios entre jovens e adolescentes, é um crescimento invisível, não há interesse em quantificar e demonstrar através de uma pesquisa séria, a mídia não tem interesse em noticiar, mas o fato está posto. Nossos filhos estão perdendo cada vez mais cedo o sentido da vida, a esperança quanto ao futuro e o sonho de um mundo melhor já não é assim tão acalentado por eles. Outro sintoma é a crise de autoridade e legitimidade das associações de classes, entidades políticas, Igrejas e religiões e até mesmo no esporte, com raríssimas exceções, quase não encontramos alguém que nos transmita confiabilidade. A corrupção grassa e permeia as entranhas de nossa sociedade minando os recursos que poderiam melhor a qualidade de vida de todos, de maneira especial dos mais vulneráveis. Nossas vidas correm perigos em hospitais, nossos direitos nem sempre são adequadamente defendidos por quem deveria promover e defender a justiça. Nosso direito de ‘ir e vir’ está seriamentecomprometidos com a endêmica falta de segurança. E os políticos, bom os políticos...Neste contexto palidamente constatado aqui não há como não sentir um pouco de náusea, de absurdidade, de desconforto existencial e não há como não lembrar de Albert Camus, Jean Paul Sartre e etc. Todavia, o cristianismo não é pessimista. Não é pessimista porque sabemos que as coisas podem até estar fora de nosso controle, podem até não fazer muito sentido e podemos até ter a sensação que vivemos o Mito de Sízifo e que o nosso esforço parece vão. Mas, se não estamos no controle, Deus está! Desde o trono Ele governa todas as coisas e com um propósito santo e sábio. Não cremos num Deus que tenha criado este mundo sem a menor noção do que fazer com Ele ou de como administrá-lo. Não mesmo. Nosso Deus permite estas coisas com um propósito bem definido em sua mente nem sempre alcançado pela nossa. Mas, acaso e caos desgovernado não há. O cristianismo também não é otimista. Sim, não achamos que tudo vai melhorar naturalmente, ou mesmo sobrenaturalmente de uma hora para outra. Não cremos que é apenas uma fase ruim, uma ‘marolinha’, que logo tudo se acerta. Claro que não. Temos os nossos pés bem fincados na história e na realidade. O cristianismo é realista. Não há religião, filosofia ou ideologia mais realista que o cristianismo. Não cremos no paraíso terrestre forjado e conquistado pelas revoluções e pelas lutas de classes. Até reconhecemos a sua importância histórica. Não cremos em utopias de espécie alguma. Temos o pé na realidade histórica. Sabemos que a corrupção de toda natureza e que toda torpeza de que o homem é capaz de cometer. Não ignoramos que toda opção errada, toda falta de bom senso, equilíbrio e justiça têm a mesma origem, o coração depravado e não regenerado do homem. Que o homem não poderia projetar e construir nada diferente do que aí está. Sabemos também que Deus não é o Deus de José Saramago, aquele “Ser Supremo” que se existe é irrelevante e que fechou as portas da eternidade atrás de si e foi dar um passeio contemplativo pelos confins do universo deixando os homens e a criação à sua própria sorte. Não! Deus age por meio de sua Graça Comum ou Geral e dota todos os homens, quer creiam nele ou não, sejam cristãos ou não, mas a todos Ele enriquece com dons e habilidades. Estes dons da Graça Comum são aqueles que arrefecem e atenuam os efeitos nefastos do pecado e da desesperança e nos permitem avançar no meio do caos. Desta Graça Comum surgem o Estado para promover o Bem, as Artes para fomentar o Belo, as Ciências para exaltar a Verdade, a Tecnologia para humanizar a Vida e defendê-la e assim, toda conquista humana honrosa tem a mesma fonte que o da Salvação dos que creem: Deus. Como dizia a minha avó diante de uma barbaridade, “o mundo precisa de Deus”, quer saiba disso ou não. Quer aceite isso ou não. Quer acredite nisso ou não!
Rev. Luiz Fernando Dos Santos - 
É Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil em Itapira

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