LITURGIA DO CULTO
26 DE JULHO DE 2015.
A missão mais essencial da Igreja
é a adoração e dela decorrem todas as suas outras missões. Deus criou Adão para
que este o adorasse e assim participasse das indizíveis alegrias de seu
criador. Este desejo de Deus não mudou após a Queda e no encontro com a mulher
de Samaria o Senhor Jesus nos afirma isso: “Mas
a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em
espírito e em verdade; porque o Pai
procura a tais que assim o adorem” (Jo 4.23). E porque o Pai procura
estes tais é que Ele envia o seu Filho a este mundo e este após cumprir a sua
missão, a de possibilitar que o homem adore a Deus sem impedimentos pela
redenção na cruz, envia também os seus discípulos para procurar, encontrar,
batizar, ensinar e completar o número de adoradores. Então virá o fim, isto é,
a recapitulação de todas as coisas, a constituição da “universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos
céus” (Hb 12. 23), a vida eterna nos novos céus e nova terra. Portanto,
o que motiva toda a atividade da Igreja é a adoração. O que dá sentido a tudo o
que a Igreja faz é a adoração. O fim último da razão de ser da Igreja, no tempo
e na eternidade é a adoração. A adoração tem o poder de transformar o
adorador na imagem do deus ao qual ele se curva, escreveu um desconhecido. Por
isso mesmo, nem tudo o que há por aí, dentro e fora da Igreja é adoração
verdadeira, muito do que há é ou grosseira idolatria ou invenção da mente
humana. A adoração bíblica é o encontro de duas pessoas, sendo a primeira Deus,
em sua majestosa perfeição e glória, e a segunda, um pecador cansado pela de
Há um movimento crescente no mundo daqueles que se
auto intitulam ‘desigrejados’. Os ‘desigrejados’ mormente são pessoas que
tiveram alguma experiência negativa com e na igreja. Geralmente são pessoas que
iniciaram a vida cristã com muito entusiasmo, cheias de boas intenções e de
boas ideias, mas que por alguns motivos receberam sobre si um balde de água
fria que parece ter apagado o fervor primitivo. Entre os ‘desigrejados’ também
encontramos pessoas que sofreram algum prejuízo moral, emocional ou financeiro
em sua relação com a liderança da comunidade. Liderança, aliás, nem sempre
preparada para o ofício que assumiu. Estas pessoas merecem o nosso respeito, a
nossa atenção, as nossas orações e quem sabe uma investida ou outra para
convencer-lhes de que a igreja é um lugar para os pecadores sim. Alguns destes
pecadores nasceram de novo, foram de fato regenerados e agora vivem o seu
processo de santificação lutando contra o mundo, a carne e o diabo sob a
orientação do Espírito Santo e sob os influxos da Graça de Deus. Estes santos,
infelizmente, ainda pecam. Pecam por pensamentos, palavras, opções erradas,
ações concretas, mas já não sentem prazer em pecar. Sentem vergonha, pedem
perdão, se arrependem, emendam a vida e procuram em amor e por amor aos irmãos
e a Deus reparar o mal feito. Mas, dentro da igreja também encontramos homens e
mulheres não nascidos de novo, não convertidos, mas que aderiram ao cristianismo
nos seus aspectos morais, éticos, celebrativos e etc. Gostam dos aspectos
formais e exteriores da religião, mas continuam com a vida velha. Tem prazer no pecado, não se envergonham, não
sentem dor ou constrangimento por ter ofendido o próximo, são aqueles que nunca
levam o desaforo pra casa. Esta tensão entre os dois grupos é encontrada emqualquer igreja em qualquer lugar
do mundo. E embora pelos frutos e por suas evidências alguns verdadeiros
cristãos e outros não salvos sejam mais reconhecíveis, de maneira geral nunca
sabemos com certeza quem é quem. Não cabe a nós fazermos esta categorização
final, mas a Deus. A ordenança bíblica é que vivamos em paz com todos e a todos
façamos o bem nunca pagando o mal com mal. E, no caso de pecados públicos, no
caso de ofensas abertas a um irmão ou à igreja como corpo, o exercício da
disciplina também é uma demonstração de amor irrecusável ao faltoso, uma vez
que é o seu bem que buscamos logo após a glória de Deus. Contudo, entre os
‘desigrejados’, só encontramos vítimas? Absolutamente não. Há muitos dentre
estes que são arrogantes, presunçosos e desapiedados. A todos julgam a partir
de textos bíblicos descontextualizados, com interpretações convenientes e
desonestas. Geralmente são pessoas que se sentem superiores e melhores que as
demais. Superiores de mais para se associarem aos pecadores redimidos ou aos
simplesmente religiosos. Geralmente são pastores de si mesmos, a ninguém querem
prestar contas e se separam dos outros santos por os julgarem cristãos carnais
que se reúnem em igrejas carnais. Dizem-se fiéis á tudo o que está na Bíblia,
menos ao fato de que não há nas Escrituras fundamento para crentes carnais ou
igrejas carnais. Os crentes carnais de Corinto são chamados de santos por
Paulo. São carnais em sua maneira de compreender a totalidade do Evangelho, mas
são salvos em Cristo de maneira definitiva tanto quanto os que Paulo chama de
espirituais, ou seja, aqueles que possuíam uma compreensão mais iluminada da
fé. Detalhe, os “carnais” e “espirituais” da Igreja de Corinto se reuniam no
mesmo lugar, sob a mesma liderança, adoravam, cantavam juntos e foi justamente
a falta de um julgamento criterioso à luz das Escrituras que os levara à apatia
frente a um caso público de pecado. A falta deste julgamento à luz da Palavra
de Deus é que estava causando desconforto nos crentes e não porque havia
julgamento. Muitos ‘desigrejados’ estão fugindo da disciplina. Desejam ler as Escrituras,
querem ensiná-las, gostam de demonstrar as suas conclusões teológicas pessoais
e questionam a Igreja visível (e não que ela não
possa ou não deva ser questionada quando
errada ou impura), mas nunca questionam a própria vida, nunca examinam o próprio
coração e não se emendam à luz da Palavra que dizem obedecer. A propósito fariam bem se obedecessem a esta porção das
Escrituras: “Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de
alguns, mas encorajemo-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês veem que se
aproxima o Dia” (Hb 10.25).
Os nossos dias estão confusos e coisa alguma parece
ser o que de fato é. A ditadura do relativismo nos carrega a todos numa enxurrada
de desconstrução da realidade jogando impiedosamente a nossa geração num vácuo
existencial, sem referenciais, sem absolutos morais, sem certo ou errado, sem
padrões definidos. Em tempos como os nossos a desesperança e o desespero
parecem ser o tempero predominante da alma. Muitos são os sintomas de nossa
sociedade doente, o avanço das drogas e do álcool assolando famílias inteiras,
abreviando absurdamente as vidas dos mais jovens. Uma geração inteira de
“lesados” cresce bem à nossa vista. Potenciais que são desperdiçados, a força
de trabalho que desaparece, ideologias e sonhos que são destruídos e vidas que
são tornadas inúteis e alienadas da realidade. Cresce assustadoramente o índice
de suicídios entre jovens e adolescentes, é um crescimento invisível, não há
interesse em quantificar e demonstrar através de uma pesquisa séria, a mídia
não tem interesse em noticiar, mas o fato está posto. Nossos filhos estão
perdendo cada vez mais cedo o sentido da vida, a esperança quanto ao futuro e o
sonho de um mundo melhor já não é assim tão acalentado por eles. Outro sintoma
é a crise de autoridade e legitimidade das associações de classes, entidades
políticas, Igrejas e religiões e até mesmo no esporte, com raríssimas exceções,
quase não encontramos alguém que nos transmita confiabilidade. A corrupção
grassa e permeia as entranhas de nossa sociedade minando os recursos que
poderiam melhor a qualidade de vida de todos, de maneira especial dos mais
vulneráveis. Nossas vidas correm perigos em hospitais, nossos direitos nem sempre são
adequadamente defendidos por quem deveria promover e defender a justiça. Nosso
direito de ‘ir e vir’ está seriamentecomprometidos
com a endêmica falta de segurança. E os políticos, bom os políticos...Neste
contexto palidamente constatado aqui não há como não sentir um pouco de náusea,
de absurdidade, de desconforto existencial e não há como não lembrar de Albert
Camus, Jean Paul Sartre e etc. Todavia, o cristianismo não é pessimista.
Não é pessimista porque sabemos que as coisas podem até estar fora de nosso
controle, podem até não fazer muito sentido e podemos até ter a sensação que
vivemos o Mito de Sízifo e que o nosso esforço parece vão. Mas, se não estamos
no controle, Deus está! Desde o trono Ele governa todas as coisas e com um
propósito santo e sábio. Não cremos num Deus que tenha criado este
mundo sem a menor noção do que fazer com Ele ou de como administrá-lo. Não
mesmo. Nosso Deus permite estas coisas com um propósito bem definido em sua
mente nem sempre alcançado pela nossa. Mas, acaso e caos desgovernado não há. O
cristianismo também não é otimista. Sim, não achamos que tudo vai melhorar
naturalmente, ou mesmo sobrenaturalmente de uma hora para outra. Não cremos que
é apenas uma fase ruim, uma ‘marolinha’, que logo tudo se acerta. Claro que não.
Temos os nossos pés bem fincados na história e na realidade. O cristianismo é
realista. Não há religião, filosofia ou ideologia mais realista que o
cristianismo. Não cremos no paraíso terrestre forjado e conquistado pelas
revoluções e pelas lutas de classes. Até reconhecemos a sua importância
histórica. Não cremos em utopias de espécie alguma. Temos o pé na realidade
histórica. Sabemos que a corrupção de toda natureza e que toda torpeza de que o
homem é capaz de cometer. Não ignoramos que toda opção errada, toda falta de
bom senso, equilíbrio e justiça têm a mesma origem, o coração depravado e não
regenerado do homem. Que o homem não poderia projetar e construir nada
diferente do que aí está. Sabemos também que Deus não é o Deus de José
Saramago, aquele “Ser Supremo” que se existe é irrelevante e que fechou as
portas da eternidade atrás de si e foi dar um passeio contemplativo pelos
confins do universo deixando os homens e a criação à sua própria sorte. Não! Deus
age por meio de sua Graça Comum ou Geral e dota todos os homens, quer creiam
nele ou não, sejam cristãos ou não, mas a todos Ele enriquece com dons e
habilidades. Estes dons da Graça Comum são aqueles que arrefecem e
atenuam os efeitos nefastos do pecado e da desesperança e nos permitem avançar
no meio do caos. Desta Graça Comum surgem o Estado para promover o Bem, as Artes para fomentar
o Belo, as Ciências para exaltar a Verdade, a Tecnologia para humanizar a Vida
e defendê-la e assim, toda conquista humana honrosa tem a mesma fonte que o da Salvação dos que creem: Deus.
Como
dizia a minha avó diante de uma barbaridade, “o mundo precisa de Deus”, quer
saiba disso ou não. Quer aceite isso ou não. Quer acredite nisso ou não!