Pastorado e
Compaixão
"Eu
sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas; e elas me conhecem” (Jo 10.14)
Um dos atributos
mais belos do coração pastoral de Jesus é a compaixão. Compaixão é aquela
qualidade do coração que o faz entrar de maneira comprometida no sofrimento do
outro. Jesus não era alguém que conhecia os corações a partir de deduções
psicológicas ou análise com base em informações colhidas e cruzadas com
acontecimentos e experiências de gabinete e divã. Absolutamente. Jesus Cristo
entrou profundamente em nossa realidade quando de sua encarnação: “Por essa razão era necessário que ele se
tornasse semelhante a seus irmãos em todos os aspectos, para se tornar sumo
sacerdote misericordioso e fiel com relação a Deus e fazer propiciação pelos
pecados do povo. Porque, tendo em vista o que ele mesmo sofreu quando tentado,
ele é capaz de socorrer aqueles que também estão sendo tentados” (Hb
2.17,18). Jesus Cristo conheceu e experimentou de tal maneira a nossa fragilidade
que é capaz de compadecer-se, fazer-se próximo, importar-se e comprometer-se em
socorrer-nos. Esta qualidade do coração é o que motiva e sustenta o
ministério pastoral também hoje em dia. O preparo teológico, o conhecimento das
línguas originais das Escrituras, as regras de hermenêutica e exegese, bem como
o conhecimento filosófico e o treinamento em estratégias ministeriais tem o seu
lugar garantido e consagrado na vida de um ministro do Evangelho, não há como
discutir isso. Todavia, se o pastor não conhecer as angústias e esperanças de seu
povo, se não for capaz de identificar as raízes dos sofrimentos e se não
identificar-se com aqueles a quem serve, de pouco ou nada lhe valerão seus
cursos, diplomas e graus acadêmicos! Que como disse, são sempre bem
vindos. Um pastor não pode viver um distanciamento seguro de suas ovelhas a ponto de quando fechar as portas de sua casa desconectar-se
completamente da vida de suas ovelhas. Claro, o pastor geralmente tem esposa,
filhos e aquelas responsabilidades comum a todos os homens. Deverá ter
equilíbrio e dar a devida e irrenunciável atenção e cuidado aos seus
familiares. Não poderá falhar na vivência doméstica, mas aqui também há um
traço inequívoco da compaixão. Não poderá nunca ignorar as necessidades de sua
esposa e jamais poderá negligenciar o que diz o Espírito Santo a respeito desse
assunto: “Do mesmo modo vocês, maridos,
sejam sábios no convívio com suas mulheres e tratem-nas com honra, como
parte mais frágil e co-herdeiras do dom da graça da vida, de forma que não
sejam interrompidas as suas orações” (1 Pe 3.7). Deverá demonstrar zelo
pela educação dos filhos e ensiná-los a andar pelos caminhos do Senhor (Pv
22.6). O que torna possível esta relação cheia de tensão entre o seu ministério
público, na igreja diante dos irmãos e no mundo diante dos incrédulos e sua
vida privada em casa com os seus familiares, é que em todos os casos o pastor
deve possuir um coração compadecido, procurando servir com amor sacrificial nas
diferentes realidades. Nunca poderá amar a todos do mesmo jeito e
na mesma intensidade, Mas, nunca poderá deixar de amá-los, se é que deseja
servi-los no Evangelho. Cada ovelha possui uma necessidade e reclama um
tipo de compaixão. Cada realidade exige um tipo de amor e de atenção. A arte de
pastorear, como ensina a antiquíssima Regra dos Monges beneditinos, é servir ao
temperamento de muitos, a um com docilidade e polidez. A outra com firmeza e
ternura. A outro com consolo e desafio. Mas, a todos com igual compaixão. Sem
compaixão não há pastorado, não há missão, o Evangelho não se sustenta
e nem tem credibilidade. Nosso mundo está cada vez mais violento. Os tempos de
barbárie, onde a vida valia quase nada, parecem ter voltado, a despeito de todo
o nosso conhecimento adquirido ao longo dos séculos. O aborto, a violência
gratuita do trânsito, a violência doméstica contra as mulheres e crianças. A
criminalidade pelas ruas e o sentimento de abandono e de impunidade requerem
ainda mais o exercício da compaixão cristã, da proclamação da misericórdia, o
convite á reconciliação, o imperativo do perdão e as marcas do amor serviçal.
Supliquemos a Deus que envie mais servidores, mais operários para trabalhar na
colheita, homens cheios de compaixão que se comprometam com as dores e com a
fome de vida dos andam ‘exaustos e aflitos como ovelhas que não tem pastor!’
(Mt 9.36 b).
Rev. Luiz
Fernando Dos Santos
É Ministro da
Igreja Presbiteriana do Brasil em Itapira
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