LITURGIA DO CULTO
28 DE JUNHO DE 2015.
Vivemos numa sociedade da lógica do consumo e do descarte.
Coisa alguma parece ser feita para durar. A própria fragilidade e fácil
destrutibilidade dos materiais revelam isso. Materiais sempre mais leves, mais
sensíveis, menos capazes de suportar peso, fricção, pressão e choques. Essa
mesma lógica parece ter alcançado as mentes e os corações dos homens. Quase não
existem projetos humanos feitos para durar. Quase ninguém projeta coisa alguma
á longo prazo, os relacionamentos não duram mais que uma estação do ano. Alguns
nem resistem até a próxima balada. Os casamentos acabam antes mesmo de começar,
muitos o tem como um ‘teste driver’ para a felicidade tendo sempre outras
opções em mente. As palavras sacrifício, perseverança, renúncia, resistência, bem como a
verdadeira noção de seus respectivos significados e de sua importância para uma
vida coerente e consistente estão desaparecendo da cultura e da educação comum.
Não raros educadores, psicólogos, líderes religiosos e formadores de opinião em
geral não só deixaram-se capitular por esta mentalidade de contínua mudança e
perpétua instabilidade, bem como ensinam e pregam que tal inconstância é o
caminho mais curto para a felicidade. Nada mais parece fazer e ter sentido
permanente. Ideologias de partidos políticos, filiação religiosa e etc. são tão
movediças e insustentáveis que quase não podemos mais falar em identidade
definida. Nem o sexo ou a sexualidade humana são tratados como fatos brutos,
mas sofrem releituras, reinterpretações e experimentos constantes, diluindo
assim a personalidade num vácuo existencial. As Escrituras ensinam que todos
precisamos de perseverança, de fidelidade, de integridade, de identidade definida e
medida por um padrão definido que é Cristo para alcançarmos a plena felicidade. Por isso mesmo a Palavra de Deus fala sempre em termos de absoluto, definitivo e eterno.
Fala de homem e mulher, sem nenhuma outra releitura ou interpretação de papéis.
Fala da indissolubilidade do matrimônio monogâmico heterossexual ou de
castidade, sem meios termos ou adequações culturais. A Bíblia insiste em um
caráter resoluto, palavra fidedigna e em absolutos morais e não abre espaço
para a lógica do conveniente e do relativismo. Bem e mal, doce e amargo, certo
e errado são padrões definidos e imutáveis. Por isso mesmo maior é a nossa ação
de graças quando nos reunimos como Igreja para celebrar os 25 anos
ininterruptos do presbiterado do nosso irmão Raílton Rocha de Andrade Jr. Não
faz muito celebramos os seus 25 anos de matrimônio e agora o seu jubileu de
prata, como oficial desta igreja, vivendo com fidelidade seu nobre e humilde
ofício à frente desta comunidade. Não foram 25 anos de um mar de rosas e
festas. Certamente não lhe faltaram razões humanas mais que suficientes para
desistir, quer do casamento, quer do presbiterado. Certamente o presbítero Raílton
também sofreu as pressões e as tentações do nosso tempo que reclamam novas
experiências, que apresentam alternativas para a felicidade e que divulgam a
ideia de que nada vale tanto esforço assim, tanto sacrifícios como esses e
mais, que a vida é muito curta para fazer-se rogado e renunciar o que quer que
seja. Afinal, merecemos ser felizes custe o que custar. Mas, graças a Deus, o
Senhor preservou o casamento e o presbiterado do nosso irmão com promessas
definitivas, com verdades absolutas, com o asseguramento da salvação realizada
de uma vez por todas na Cruz e com a graça da perseverança final, mesmo que
tudo ao redor esteja em constante transformação, dada á caducidade de um mundo
que passa com a sua glória e com a sua pompa tão frágil coma a flor do campo
que não resiste ao sol do meio dia. Então, celebrar jubileus e bodas de
qualquer natureza honrosa e que mereça louvor, é recordar ao nosso coração de
que não precisamos nos submeter a esta lógica doentia e instável da moda, desta
insustentável leveza de nossa época. Não precisamos nos afligir tentando
descobrir a cada dia como ser mais felizes e como responder às expectativas dos
outros. Tudo o que precisamos é de perseverança, de constância e de certezas
absolutas para não sermos desintegrados e dissolvidos nesta cultura líquida e
fluída.
É sabido de todos as cenas lamentáveis que chocaram
muitos setores do cristianismo protagonizados durante a parada gay. As cenas
são tão fortes que se fosse uma produção cinematográfica seriam classificadas
como para maiores de 18 anos. E tudo, pasmem, aconteceu à luz do dia para quem
quisesse ver, gostasse ou não. Evidentemente que os católicos romanos têm mais
motivos que nós protestantes para manifestar a sua indignação, uma vez que pouco
ou quase nada nos identificamos com os símbolos ali vilipendiados, o que aliás,
é crime no Brasil, salvo melhor juízo. Todavia, temos algo a dizer a respeito
porque somos capazes de ver no futuro o que ainda pode vir por aí. Primeiro,
quero dizer que nós os cristãos não somos homofóbicos, não saímos por aí, à luz
do dia, em nossos encontros de oração, cruzadas evangelísticas, campanhas
missionárias queimando bandeiras arco-íris, destruindo insígnias do movimento
LGBT, ou quebrando CDs do Elton John. Nunca fazemos um discurso do tipo
‘linchamento moral’ e nem atacamos as pessoas envolvidas com a causa ou com a
orientação sexual. Também não usamos a grande mídia para propagar nossa tão
propalada homofobia. Ah, e é claro, não estamos aumentando as vendas de Bíblias
com comerciais de TV com qualquer mensagem subliminar ou clara contra o
movimento. Em segundo lugar, temos o sacratíssimo direito de divergir, de ter uma
opinião clara a respeito do assunto e de emiti-la, sempre dentro dos limites da
decência, do civilizado, do ético e mesmo dos contornos da lei, coisa que não
foram registradas nem de longe pelas cenas grotescas da semana retrasada em São
Paulo. Em terceiro,
defendemos o direito dos Homossexuais de expressarem os seus sentimentos, os
seus reclamos, as suasangústias
existenciais. Defendemos o direito de que eles se organizem e queiram se
proteger naquilo em que se sentem ameaçados. Contudo, nos opomos veementemente
a qualquer tentativa de cercear a nossa liberdade de crença e de opinião.
Opomo-nos a qualquer tentativa de fazer deste movimento uma cultura
generalizada e tutelada pelo Estado, de maneira especial, na questão da
Ideologia de Gênero. Não aceitamos absolutamente que seja
transferida para o Estado a tarefa da orientação, educação e também da
definição quanto ao sexo de uma criança. Nossos filhos são nossa
responsabilidade e nossa missão e devem ser educados conforme cremos e segundo
os valores que possuímos. Dentre esses valores estão o respeito à vida,
a diversidade cultural, religiosa e política. Queremos que nossos filhos sejam
formados com um caráter semelhante ao de Cristo que nunca deixou de falar a
verdade, fazer o bem, amar os pecadores e convidá-los graciosa e gentilmente
para uma vida nova e feliz. Continuaremos, ainda que a justiça deste mundo
decaído nos ameace e impeça, afirmando que não há outra opção sexual para os
padrões bíblicos do que homem e mulher. Continuaremos defendo a família
tradicional, esta mesmo nas quais e pelas quais, nasceram os mesmos
homossexuais que parecem querer destruí-la. Continuaremos a afirmar que tanto
héteros quanto homossexuais se encontram em uma situação desesperadora e
terrível até que venham a Cristo e sejam salvos por ele. Não cremos e nunca ensinamos que
os homossexuais são mais pecadores ou mais terrivelmente pecadores do qualquer
outro homem e mulher que se mantenham numa relação heterossexual comum e normal
(normalidade para nós é o que a Bíblia estabelece como norma). Afirmamos sim
que qualquer um que tenha ouvido a mensagem do Evangelho e tenha sido
regenerado há de conformar a sua vida aos padrões das Escrituras e ter como
medida de ética, moral e humanidade o Senhor Jesus Cristo. Quarto, quanto
àquela pessoa que encenou a crucifixão querendo comparar o seu sofrimento com o
de Cristo no calvário, bom, nem preciso dizer que esta pessoa sofre e padece
seja lá o que for por culpa própria. Suas opções a crucificam. Já o nosso
santíssimo e bendito salvador sofreu sem nada dever. Aquela pessoa quis chamar
a atenção para os seus direitos enquanto o nosso amorável Jesus morreu na cruz
por pecadores como eu e também como ela. É isso mesmo, morreu por pessoas como
ela que um dia zombariam d’Ele. Como fez Bernardo de Claivaux em seus dias e
Calvino no Século XVI, ainda que nenhum mal real possa ser feito ao nosso
Bendito Redentor, não podemos deixar de ladrar, como cães de guarda, sempre que
o perigo rondar a nossa tenda!
Um dos atributos
mais belos do coração pastoral de Jesus é a compaixão. Compaixão é aquela
qualidade do coração que o faz entrar de maneira comprometida no sofrimento do
outro. Jesus não era alguém que conhecia os corações a partir de deduções
psicológicas ou análise com base em informações colhidas e cruzadas com
acontecimentos e experiências de gabinete e divã. Absolutamente. Jesus Cristo
entrou profundamente em nossa realidade quando de sua encarnação: “Por essa razão era necessário que ele se
tornasse semelhante a seus irmãos em todos os aspectos, para se tornar sumo
sacerdote misericordioso e fiel com relação a Deus e fazer propiciação pelos
pecados do povo. Porque, tendo em vista o que ele mesmo sofreu quando tentado,
ele é capaz de socorrer aqueles que também estão sendo tentados” (Hb
2.17,18). Jesus Cristo conheceu e experimentou de tal maneira a nossa fragilidade
que é capaz de compadecer-se, fazer-se próximo, importar-se e comprometer-se em
socorrer-nos. Esta qualidade do coração é o que motiva e sustenta o
ministério pastoral também hoje em dia. O preparo teológico, o conhecimento das
línguas originais das Escrituras, as regras de hermenêutica e exegese, bem como
o conhecimento filosófico e o treinamento em estratégias ministeriais tem o seu
lugar garantido e consagrado na vida de um ministro do Evangelho, não há como
discutir isso. Todavia, se o pastor não conhecer as angústias e esperanças de seu
povo, se não for capaz de identificar as raízes dos sofrimentos e se não
identificar-se com aqueles a quem serve, de pouco ou nada lhe valerão seus
cursos, diplomas e graus acadêmicos! Que como disse, são sempre bem
vindos. Um pastor não pode viver um distanciamento seguro de suas ovelhas a ponto de quando