Servir bem para servir sempre!
“Pois nem mesmo o Filho do homem veio para ser servido, mas para servir
e dar a sua vida em resgate por muitos" (Mc 10.45).
Não faz muito tempo esta frase que intitula a
pastoral podia ser encontrada nas embalagens de papel, sobretudo das padarias e
mercearias. Nunca soube ao certo se a frase era uma advertência ao balconista
ou um autoelogio do proprietário do comércio. Seja como for, sempre que me vem
à mente a natureza dos ofícios e ministérios da Igreja eu me recordo dela. Os
ofícios e os ministérios são de natureza espiritual mais que estrutural.
São dons de Deus para o serviço da comunidade cristã. Eles foram conquistados
por Cristo em seu triunfo: “E a cada um
de nós foi concedida a graça, conforme a medida repartida por Cristo. Por isso
é que foi dito: Quando ele subiu em triunfo às alturas, levou cativos muitos
prisioneiros, e deu dons aos homens" (Ef 4. 7-8). Estes mesmo dons foram concedidos
para a edificação, o crescimento e maturidade individual e corporativa dos
discípulos de Cristo: “com o fim de preparar os santos para a obra do
ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado, até que todos alcancemos
a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo. O
propósito é que não sejamos mais como crianças, levados de um lado para outro
pelas ondas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina e pela
astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro. Antes, seguindo a verdade em
amor, cresçamos em tudo naquele que
é a cabeça, Cristo. Dele todo o corpo, ajustado e unido pelo auxílio de todas
as juntas, cresce e edifica-se a si
mesmo em amor, na medida em que cada parte realiza a sua função” (Ef
4.12-16). E todos os dons, espirituais ou ministeriais
concedidos a cada crente, visam sempre o mesmo fim: “A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito, visando ao bem
comum” (1 Co 12.7). Assim, esclarecidos pelas Escrituras o que é um dom
ministerial ou espiritual e qual a sua função na Igreja, tratemos agora de um ministério sumamente importante para a
Igreja de Cristo desde o seu nascimento: O diaconato. O diaconato cristão
aparece pela primeira vez na história em Atos 6. Os apóstolos sentiam-se
importunados pelos queixumes dos judeus helênicos no tratamento dado às suas
viúvas. O texto deixa transparecer que os Apóstolos sentiam-se prejudicados
naquilo que era a essência de seu ministério, a dedicação á oração e ao
ministério da Palavra. Não era justo que abandonassem tal ministério para o socorro
das mesas. Assim, são escolhidos homens cheios de fé e do Espírito Santo para o
exercício da compaixão, da solidariedade, da assistência social, do socorro e
da promoção da dignidade humana. Para o serviço aos pobres não são
suficientes boa vontade e nem mesmo a competência técnica, pelo menos não no
Evangelho. É preciso que o diácono seja cheio de fé e do Espírito Santo, pois
a sua missão é transformar o Evangelho em gesto concreto de amor, patente
testemunho de caridade cristã, numa palpável proclamação de que o Reino e a sua
justiça já chegaram entre nós. Para o exercício do diaconato o amor ao
próximo, ao homem concreto em suas demandas deve suplantar o amor pela
comunidade, inclusive. Já bem ensinava o pastor luterano Dietrich
Boenhoeffer: “Quem ama a comunidade, destrói a comunidade. Quem ama o próximo,
constrói a comunidade”. Assim, o diaconato não é o exercício abstrato do
amor e da fé. A compaixão não é um conceito diluído em meio das atividades
corporativas da comunidade cristã. Não! É o desafio de amar
concretamente o homem e a mulher em suas necessidades e queixumes mais
prementes. Reclames e queixumes nem sempre razoáveis, nem sempre coerentes, nem
sempre fáceis de serem entendidos e correspondidos. Mas, que existem e
necessitam serem acolhidos de maneira humilde, respeitosa, humana, fraterna,
sem moralismos. Estamos para eleger novos diáconos em nossa Igreja e porque o
faremos? Porque demandas existem dentro e fora da Igreja. Porque nossa
comunidade aceitou o chamado do Espírito Santo para ser uma voz profética e um
sinal do amor de Deus entre os que sofrem. Porque o ministério da Palavra não
pode sofrer prejuízo, não pode parar e deve encarnar-se nas situações de morte
e de sofrimento para que haja vida e vida abundante na graça e na autoridade de
Jesus. Que na figura do diácono toda a nossa Igreja queira servir bem e queira
servir sempre!
Rev. Luiz Fernando – Pastor da IPCI
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