Rei do Universo
“Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a
ele eternamente. Amém” (Rm 11.36).
O trigésimo quarto domingo
do tempo ordinário do calendário cristão celebra a solenidade de Jesus Cristo,
Rei do Universo. Nossa realidade histórica como sociedade e como igreja não
poderia estar mais longe da consciência desta verdade. Na igreja o analfabetismo bíblico
tem produzido um cristianismo aguado, inconsistente, incoerente e sem
referenciais absolutos para a fé e a moral. Os cristãos já nem sabem em quem
exatamente creem. Muitos já não estão tão convictos quanto á identidade de
Jesus Cristo, por exemplo. Não acreditam que Ele é Deus, a segunda pessoa da
Trindade. Nada sabem ou poucos entendem de sua encarnação, de sua humanidade
verdadeira e santa, do porquê de sua crucificação, quais as consequências disso
para a sua vida e tão pouco se interessam por sua ressurreição e ascensão aos
céus. Tudo o que sabem ou desejam é livrar-se dos seus problemas
imediatos, de maneira especial os relacionados com o bem-estar material. Jesus
é uma mistura de mago do sucesso, ‘coach espiritual’, terapeuta da autoestima,
mordomo e não sei mais o quê. Mesmo nos ambientes mais conservadores ou
tradicionais, muitos irmãos possuem inconsistências nessas áreas também. Não
querem pensar muito no milagre do parto virginal de Jesus, alguns chegam mesmo a pensar que
a morte de Cristo não pode ser assim tão suficiente, há de existir um espaço
para o mérito, à vontade, a liberdade humana de desejar ou recusar o evento
realizado no calvário. Muitos já não aguardam a volta de Jesus e
nenhuma aspiração demonstram pela vida no porvir. Como sociedade o relativismo
e o secularismo tem nos afastado da realeza do senhorio de Jesus Cristo. A
sociedade ocidental tornou-se soberba, ávida por autonomia, desejosa de
liberdade ilimitada e irresponsável. Estranhamos quando
uma mulher decide levar até o fim a gravidez de uma criança que apresenta
condições especiais e mesmo críticas de saúde ou quando é fruto de violência
sexual. Somos simpáticos ao aborto, quer esse ‘eugenésico’ que deseja eliminar
pessoas portadoras de necessidades especiais da sociedade, quer o outro incapaz
de oferecer amor sacrificial para que a vida prevaleça, ainda que humanamente
indesejada e psicologicamente desconfortável. Não aceitamos uma vida sob a
perspectiva da cruz. Nossa sociedade acostumou-se a forçar limites éticos e
morais para dar guarida à perversão de toda sorte e aquilo que antes era
moralmente criticável, hoje é socialmente apresentado como alternativa para a
felicidade. Ficamos desconfortáveis quando conhecemos alguém que educa e
disciplina os filhos dentro de um contexto cultural tradicional, tratando
meninos e meninas de maneira diferenciadas. Uma sociedade doente que usa a
autoridade intelectual da academia, por exemplo, para incutir nas mentes e
corações que ninguém nasce menino ou menina, que nascemos assexuados e depois
somos socialmente condicionados. E muitos cristãos assistem a tudo resignados
e por quê? Simplesmente porque lhes falta profundidade em seu conhecimento
teológico, bíblico e experiencial de Deus em Cristo. Simplesmente porque Jesus não
reina em suas mentes e em seus corações. Simplesmente porque suas almas
estão tão inebriadas com o reino desse mundo e os tesouros que ele tem para
oferecer que já não conseguem distinguir o ouro de Ofir do ‘ouro de tolo’. A
solenidade de Cristo Rei do Universo deve provocar uma profunda reflexão na
igreja e em cada cristão. Cristo de fato governa a nossa vida? Submetemo-nos a
Ele sem reservas mentais e sem pedir concessões para continuar no comando de
algumas áreas muito estratégicas de nossa vida, como o dinheiro e a
sexualidade? Nossa vida com Cristo é tão evidente e contrastante para a sociedade
que se fôssemos acusados de cristãos, o mundo teria provas suficientes para nos
condenar? Ou examinando a nossa vida, as nossas opções políticas e
culturais e o modo como lidamos com o nosso projeto de felicidade, logo nossos
acusadores teriam uma dúvida bastante razoável para nos absolver? Infeliz
daquele que encontra a amizade, elogio e honra exatamente onde o Senhor
encontrou apenas uma coroa de espinhos e uma cruz. Glórias sejam dadas
a Cristo Rei do Universo!
Rev. Luiz Fernando
é ministro do Evangelho na Igreja Presbiteriana Central de Itapira
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