A Cruz e as Missões
“Porque a
palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos,
é o poder de Deus” (1 Co 1.18).
As missões só podem ser compreendidas sob a ótica da
cruz e de todos os acontecimentos implicados no calvário. A narrativa da cruz
não é outra coisa do que uma releitura do êxodo, daquela libertação operada por
Deus em favor do seu povo. Não só uma releitura, mas também o
verdadeiro significado que os eventos do êxodo tipificaram. Lógico, de
fato e de verdade Israel estava sob o domínio cruel dos egípcios e era
explorado com trabalho escravo para a construção das grandes cidades
alfandegárias de Píton e Ramsés e outras colossais edificações da arrojada
arquitetura egípcia. Também são fatos históricos as pragas, a expulsão do
Egito, a perseguição do faraó e a travessia do mar vermelho. Contudo,
estes mesmos eventos foram conservados em formas narrativas que não só
apontavam para Cristo e sua obra, mas também exigiam sua completude em Cristo a
fim de que o seu significado transcendesse aqueles eventos, para que não
ficassem reduzidos ao seu contexto político-econômico como mais uma luta de
classes, mais uma revolução humana e etc. É em Cristo, é na cruz que o
êxodo se torna pleno de sentido e de alcance. A cruz é o momento supremo da
redenção, da vitória de Deus sobre tudo quanto se opõe a Ele e escraviza a sua
criação. Trata-se, pois, da libertação mais profunda sentida pelo homem: “Ele, nos tirou do domínio das trevas e nos
transportou para o reino de seu Filho amado, em quem temos a redenção, isto é,
o perdão dos pecados” (Cl 1. 13-14). Nas palavras de Chis Wriht esta é a implicação: “Isso envolve a derrota de todos os poderes opressores e a reversão de
todas as dimensões da escravidão que aflige as pessoas.
Isso leva o seu povo a ‘livrar-se’ do problema e o conduz a um novo
relacionamento com Deus. Esse novo
relacionamento requeruma resposta prática de viver de
forma redentora na missão para Deus no mundo”. É aqui que encontramos a
relação entre a cruz e as missões. O que aconteceu no êxodo e de maneira
especialíssima o que aconteceu na cruz, são antes de qualquer outra coisa modelos
comportamentais para a igreja. Grande parte da missão da igreja como povo
redimido de Deus é refletir o caráter de seu Redentor na forma como devem se
comportar com os outros. Isto significa que a totalidade de nossa
experiência de redenção, como o perdão dos nossos pecados, a habilidade para
amar dada por Deus, a experiência da Graça e da generosidade do Senhor em
prover em nossas necessidades e etc., devem fluir como um viver missional em
nossa vida. Veja algumas citações do Novo Testamento sobre isso: 1.
‘Sede misericordiosos, como vosso Pai é
misericordioso’ (Lc 6.36); 2. ‘O meu mandamento é este: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos
amei’ (Jo 15.2); 3. ‘Sede bondosos e tende compaixão uns para com os outros, sede benignos,
perdoando-vos uns aos outros, assim como Deus vos perdoou em Cristo’ (Ef
4.32); 4. ‘Portanto, assim como
tendes abundado em tudo [...], vede que também transbordeis nessa expressão de
bondade [...] Pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo
rico, tornou-se pobre por vossa causa, para que fôsseis enriquecidos por sua
pobreza’ (2 Co 8.7-9). Observe que há um padrão aqui e esse padrão
pode ser verificado na cruz onde Deus em Cristo exerceu misericórdia, amor,
bondade, compaixão e abundância de graça sobre a nossa vida, e ser missional, é
reproduzir essas mesmas coisas por gratidão e por obediência. Primeiro
por gratidão e depois, seguida de perto pela obediência. Por isso mesmo é vital
que mantenhamos a cruz no centro de cada dimensão da missão na qual estamos
envolvidos, porque em todas as formas de missão cristã, em nome de Cristo,
estamos enfrentando os poderes do maligno e o reino de Satanás, com todos os
seus efeitos sinistros sobre a vida humana e sobre a criação. E, não há outra
maneira de sermos vitoriosos do que aplicarmos também em nossa vida e missão
esta teologia da cruz, seus efeitos, seu significado e suas exigências éticas.
Não há vida cristã vitoriosa, não há autoridade para as missões se a cruz não
estiver no centro da nossa existência recordando-nos o que Deus em Cristo já
fez, fortalecendo-nos para responder à Graça com graciosa obediência e
consolando-nos e animando-nos na esperança de que a vitória já está garantida.
Rev. Luiz
Fernando
É Ministro da
Igreja Presbiteriana do Brasil em Itapira
Nenhum comentário:
Postar um comentário