Ética e Missões
“...apareceu o
SENHOR a Abrão, e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso,
anda em minha
presença e sê perfeito” (Gn 17.1).
O Brasil vive um momento muito delicado de sua
história. Há uma avalanche de denúncias, investigações, processos e prisões
envolvendo altos executivos de empresas multinacionais, políticos de grande
expressão e contraventores de toda sorte. Todos, flagrados, numa mesma
situação: corrupção. Corrupção aqui traduzida no abandono radical
da Ética. Dentre esses supracitados há quem diga que sem propina, sem
um “pixuléco” não é possível fazer girar a roda da economia, do desenvolvimento
e da governança no Brasil. O próprio ex-presidente Lula teria confessado ao seu
colega José Mujica, do Uruguai, que sem corrupção não há como governar. Ou
seja, é a lógica de que o ‘trabalho precisa ser feito’ e pronto, custe o que
custar. Descendo para exemplos mais simplórios, ninguém se pergunta que tipo de
pessoa é o seu carteiro. Qual a idoneidade do sujeito que entrega o jornal
todas as manhãs. Desde que a correspondência chegue e o jornal amanheça na
minha garagem, o que me importa se na noite passada o carteiro traiu a sua
esposa ou o jornaleiro fumou um baseado? Todavia, com a igreja a coisa deve ser
bem diferente. A nossa identidade funcional não se reduz ao que temos que fazer.
Deus não tem tanto interesse em
fazer-nos meros entregadores de sua mensagem ao mundo e depois disso pouco
importa como tocamos a nossa vida. Absolutamente. Nossa missão não é apenas
para apresentar ‘Boas Novas’ para que sejam cridas, mas também para que sejam
obedecidas. Isso não acontecerá até que nos tornemos também ‘Boas Novas’ para
as pessoas e para as nações. Claro está que Deus preocupa-se com que tipo de
pessoas deve realizar a sua missão. Aqui entra em cena a Ética em Missões. Há
um trabalho a ser feito, há também metas para seremalcançadas,
existem prazos a serem cumpridos e os números devem ser apresentados no final.
Mas, tudo
deve ser feito sem o sacrifício da Ética no altar dos resultados. A
Igreja que deve proclamar a transformação que o Evangelho opera deve também em
certa medida, apresentar sinais e evidências desta mesma transformação em si
mesma, em seus filhos. O evento do Êxodo no Antigo Testamento é a chave bíblica
para se compreender a Missão de Deus e as Missões da Igreja em termos de
redenção e Ética. Quando lemos os relatos do Livro do Êxodo, a partir do
capítulo 3.7, encontramos um Deus comprometido com a totalidade existencial de
seu povo. Os atos redentivos que se seguem neste livro demonstram um Deus que
redime Israel da opressão política, econômica, cultural e religiosa. Sem terra
e sem direito a cidadania, sem autonomia política e econômica, escravizado sob
um regime cruel, perseguido e ‘vitimizado’ por uma política de purificação
étnica e de controle de natalidade e sem liberdade religiosa plena, a vida de
Israel no Egito era desumana. Deus toma partido e inicia o processo de redenção
que culminará mais tarde na posse da ‘Terra Prometida’. Uma vez redimido, junto
aos privilégios de sua Eleição, o povo de Deus recebeu seríssimas instruções
éticas para viver a sua missão no mundo fazendo e sendo o oposto de Sodoma,
Gomorra e Egito, que cada um á seu tempo e a seu modo tipificam a depravação
das nações, de povos que abandonaram a Ética e se entregaram a todos as formas
de violência, prevaricação e depravação. Não houve área que não fosse afetada,
na sexualidade desregrada e violenta, na idolatria grosseira, na opressão e
escravização de homens e mulheres, nas muitas formas de violência contra a vida
e etc. Israel por sua vez deveria lembrar-se sempre dos efeitos destes povos em
sua história. Deveria ter sempre na memória que foi um dia estrangeiro em terra
estranha e que foi maltratado. Jamais poderia esquecer que seus órfãos, viúvas
e seus pobres foram relegados e deixados à própria sorte sem quem os
defendesse. Por isso, em todas as suas relações Israel deveria proclamar o
direito, o juízo, a justiça. Deveria tratar com Ética todos os seus negócios
evitando lesar os seus compatriotas com balanças adulteradas e medidas
distorcidas. Deveria haver provisão e previsão para o amparo dos pobres, dos
órfãos e das viúvas. Os estrangeiros que quisessem viver em seu meio em paz
deveriam ser tratados com respeito, humanidade e inclusão social e às bênçãos
da Aliança. A Igreja parte deste pressuposto Bíblico. A sua missão e a sua
proclamação deve ser uma tomada efetiva e irrenunciável do lado onde injustiças
são cometidas, onde as vozes não são ouvidas e o Direito não chega. Deve assim
fazer enquanto anuncia Jesus Cristo como o Redentor e Salvador e seu Reino de Justiça, Vida e paz. A Comunidade de fé é também uma
Comunidade Ética e sua vida é parte integramente de sua missão.
Rev. Luiz
Fernando
É Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil em Itapira
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