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segunda-feira, 15 de agosto de 2011

MENSAGEM PASTORAL


Espiritualidade (III) - Silêncio
“Vinde repousar um pouco à parte, num lugar deserto.” (Mc 6.31 ARA).

Vivemos num mundo agitado e corrido. Todos estão atrasados, todos têm pressa, até o tempo foi etiquetado com um preço: “tempo é dinheiro”.  Os psiquiatras já apontam a correria desatada como uma doença característica de nosso tempo. Existem campanhas ao redor do mundo defendendo que é preciso desacelerar o planeta. Infelizmente a agitação endêmica de nossos dias acometeu também a Igreja e a vida cristã. O ativismo e as muitas, variadas, repetidas e desnecessárias programações de nossas sociedades e ministérios roçam perigosamente com a heresia de um “fazer” separado do “ser”. Quando isso acontece logo surgem as enfermidades espirituais mais encontradas na comunidade: abatimento, cansaço com sensação de inutilidade e impotência, depressão espiritual e falta de ânimo, pessimismo, azedumes, criticismos, falta de sentido e realização pessoal. A ação sem vida interior, sem contemplação, sem aquilo que os pais da Igreja costumavam chamar de “Vacare Deo” ou ócio santo, isto é, sem a experiência do descanso junto ao Senhor, em silêncio e solitude, facilmente empurra a alma para a esquizofrenia espiritual. As escrituras estão repletas de exemplos de homens e mulheres que buscaram no silêncio e na solitude o descanso, o tratamento terapêutico para as suas feridas emocionais e espirituais. Muitos destes precisaram ir ao deserto ou subir o monte para ter privacidade e comunhão com Deus. No livro dos Apoftegmas, uma coleção de sentenças, dos antigos cristãos que habitavam os desertos, encontramos este singelo diálogo: “Um jovem vindo das aldeias perguntou ao abade Poimén: Pai abade, que disciplina preciso para manter a comunhão diária com Deus e nunca desanimar em meus afetos por Ele? Respondeu o abade Poimén: Conserva em tua mente a lembrança dos benefícios já recebidos para que teu coração se mantenha aquecido e guarda a tua língua para que este fogo da piedade não se apague. Pois assim como a porta do forno se ficar aberta não permite crescer o pão, assim também se a boca mantém a sua atividade o coração logo se esfriará e o pão de Cristo não crescerá em ti.”  O silêncio e a solidão (solitude) são disciplinas necessárias para a salubridade da vida cristã e a sua missão no mundo. Moisés antes de tornar-se o grande estadista de Israel teve seu encontro com Deus no deserto, no milagre da sarça e sempre que desejava refrigério e orientação buscava a solitude e o silêncio para ouvir a voz de Deus. Abraão cultivou a amizade com Deus sob as estrelas nas solitárias noites do deserto e nele foi formada uma esperança indestrutível. Elias, estressado e com as emoções destruídas encontrou tratamento para o seu coração na brisa suave do Carmelo. E assim, o próprio Jesus retirava-se constantemente para lugares ermos onde ia ter com o seu Pai. Paulo também recorreu ao silêncio e à solitude para recompor o seu coração após o seu encontro dramático com o Senhor no caminho de Damasco. Nossas igrejas em contextos urbanos precisam transformar-se em centros de espiritualidade, em verdadeiros oásis de refrigério  e descanso para a alma. Nossos cultos se tornaram barulhentos e às vezes frenéticos e facilmente se confunde isso com vida. Não há mais lugar no templo para recolhimento, oração, contemplação e um diálogo íntimo com Deus. Ainda podemos, com a graça de Deus, redescobrir  estas verdades espirituais. Procure encontrar espaço em seu dia e em sua agenda para ficar a sós com Deus, um tempo e um lugar em que nem mesmo as palavras sejam muito importantes. Escolha um lugar silencioso, junto à natureza ou que não roube a sua atenção. Leve consigo as Escrituras e quem sabe o hinário ou um livro de poesias que exaltem a Deus. Aprenda a descansar primeiro e a fazer de depois. Costume-se a calar para ouvir, para depois falar e ser ouvido.  Aprenda a deixar-se tratar na solidão e no silêncio, na intimidade com Deus em seu quarto secreto para que a missão não se transforme em uma fonte de dissabores e cansaços inúteis. A Contemplação precede a ação! 
     
Luis Fernando
Pastor Mestre da IPCI

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