Os Perigos da Graça Barata
“Passando por
ali, viu Levi, filho de Alfeu, sentado na coletoria, e disse-lhe: ‘Siga-me’.
Levi levantou-se e o seguiu” (Mc 2.14).
A Igreja sempre esteve às voltas
com lutas e confusões doutrinárias. Heresias, falsos ensinos, erros grosseiros
quanto á interpretação das Escrituras acompanham a história dos discípulos de
Cristo desde os primeiros dias do Evangelho. Os cristãos gálatas e colossenses
dão testemunho de como foram acossados pelo ‘judaizantes’ e também por
elementos estranhos da cultura pagã. Há ainda a figura do Mago Simão que
ofereceu dinheiro em troca dos poderes do Espírito Santo e as cartas às Igrejas
do Apocalipse denunciam a existência de hereges e heresias como os ‘nicolaítas’
e os ensinamentos sinistros de Jezabel. Finda a era apostólica os Pais da
Igreja tiveram muito trabalho com a enxurrada de heresias que grassavam a
Igreja de Cristo. O encontro do Evangelho com a cultura greco-romana não foi
tranquilo. A Igreja não passou incólume no seu processo de ‘encarnação’ no
mundo pagão. Os gnósticos e suas ideias sobre a matéria, o conhecimento, o
espírito e a verdade. Os rigoristas como Donato e Tertuliano que se excediam no
afã de observar a lei de Cristo impondo uma carga demasiada pesada sobre os
ombros dos discípulos. Ou malucos como Montano que se achava a encarnação do
Espírito Santo ou Maniqueu e seu ‘mix esotérico’, muitas foram às batalhas
travadas pela Igreja para defender sua fé, seu Senhor, sua missão. A lista de
hereges e heresias até o século VI é enorme. Contudo, não obstante a vitória de
Cristo em sua Igreja em muitas frentes, algumas destas pragas encontram solo
fértil entre os discípulos e muitas sementes ainda germinam em nossos dias. Hoje,
nossa maior luta dever ser contra a Graça Barata. Contra a proposta de um
Evangelho sem discipulado. Contra a vida de fé sem obediência, contra
conversões que não transformam o estilo da vida. O grande desafio da
igreja hoje é levar os crentes a compreenderem que só o conhecimento
intelectual de uma doutrina, ou o assentimento racional a uma verdade, ou a
adesão a uma igreja não são suficientes para indicar um estado de nova criação,
de novo nascimento. Nem mesmo o abandono dos vícios necessariamente significa
muita coisa. Outras instituições e organizações também preconizam tais
mudanças, que fazem um bem incalculável para a pessoa, seus familiares e à
sociedade, sem, contudo salvá-la. A Graça Barata é a confissão de Cristo sem o
seguimento d’Ele. Os Evangelhos testemunham o que é a Graça Preciosa. A
Graça que compromete e transforma radicalmente a existência de uma pessoa. Esta
Graça é antes de tudo uma vida de obediência da fé. Pedro deixou as
redes. Mateus deixou a coletoria de impostos. Tiago e João deixaram seus barcos
de pesca e a sociedade com o pai e os irmãos. O que os levou a dar este passo?
Não foi uma nova doutrina ou um novo e misterioso conhecimento de Deus. Não foi
nenhuma proposta lógica e racional de um novo jeito de viver e compreender a
vida. Não! Foi o próprio Jesus Cristo, o encontro pessoal com Ele, o ir
imediatamente após Ele, o ficar com Ele é que constitui o princípio que leva ao
discipulado. Não é uma decisão tomada à luz de muita reflexão ou
estudo, embora reconheçamos a validade dos mesmos já no processo de discipulado
e na fase imediatamente anterior à profissão de fé e batismo. Trata-se de um
encontro pessoal, irresistível que leva a um compromisso radical de ir aonde
ele for. Estar onde ele estiver. De aprender a viver, a falar, a ser como Ele. A
Graça Preciosa exige ser valorizada por uma vida de profundas transformações no
caráter, nas estruturas do coração. O discipulado, na verdade, é esta
Graça Preciosa. Sem o discipulado o que temos é uma Graça Barata, que
sacramentaliza, mas não evangeliza. Que torna o homem mais religioso, mas não
faz dele um cristão. Que o arrola na Igreja, mas não o torna um cidadão do
Reino dos Céus. Oremos todos, para que assim como Pedro no episódio da
tempestade no mar da Galiléia em Mateus 14.28, Jesus nos mande ir ao encontro
dele no discipulado para que não naufraguemos na vida cristã.
Rev. Luiz Fernando – Pastor da IPCI
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