BOLETIM
CONGREGAÇÃO PRESB. DO CALVÁRIO
Algumas pessoas perguntam
qual a real diferença entre a função do pastor e a de um presbítero. Se houver
alguma diferença, então qual seria a serventia de um presbítero “leigo”, que na
maioria das vezes não possui nenhum treinamento ou especialização bíblica,
teológica e pastoral. Há ainda a questão de que por maior que seja a sua
dedicação, nunca poderá servir em tempo integral à sua igreja, pois existem
outras áreas de sua vida que reclamam a sua atenção, como a vida profissional
por exemplo. Olhando para o Novo Testamento é fácil perceber que o ofício do
presbítero é inerente à vida orgânica e organizacional da igreja. Quase
dá para afirmar que sem presbíteros não há propriamente uma igreja, pelo menos
não madura, experimentada e capaz de cumprir bem a sua função de cuidado,
disciplina e ensino. Em se tratando de igrejas reformadas então, o
assunto é muito mais sério. A existência de uma igreja genuinamente
reformada dependerá em grande medida deste ofício estratégico para a sua
manutenção e desenvolvimento saudável. Antes de qualquer coisa é
preciso entender o alcance da palavra presbítero, que em grego significa
ancião. Não necessariamente um homem mais velho, mas um homem experimentado,
que possua experiência real e verdadeira do novo nascimento, discipulado, testemunho
cristão, piedade comprovada e frutos espirituais consistentes. Como no caso do
pastor, não precisa ser um ‘super crente’, mas precisa evidenciar um zeloso
compromisso com o Evangelho. As qualificações requeridas para este ofício nas
epistolas de Timóteo e Tito, na verdade, são requeridas de todos os crentes, o
que então o credencia para o oficialato? A aspiração! É preciso que ele queira com
santa disposição, boa consciência e humilde desejo de servir e ensinar
pelo exemplo e pela palavra num colegiado de homens que serão seus pares e
companheiros de jugo. Essa aspiração deve ser evidenciada na vida daqueles que mesmo sem a
ordenação e a investidura já vivem com concretas preocupações e ocupações no
cuidado, proteção e encorajamento de seus irmãos. Tecnicamente, pode-se afirmar
que ninguém fará coisas de presbítero após a ordenação. Uma vez ordenado, o
fará agora acompanhado de uma autoridade e de uma graça toda especial pela
confirmação da eleição e imposição das mãos dos demais presbíteros. Um
presbítero servirá à igreja na medida em que ele zela por sua saúde espiritual
e o de sua família. Que o que ele há de requerer e indicar aos demais membros, ele mesmo é
dedicado em fazer. Servirá bem estando sempre atento ás demandas do
rebanho. Seu mais necessário ministério é o da visita nos lares. Não visitas
sociais, mas visitas onde as Escrituras, o catecismo e vida espiritual sejam o
tema. Sua ferramenta de trabalho é a Bíblia e a palavra de prudência, conselho
e juízo, caso necessário. Um presbítero será de grande utilidade se, visitando
os lares a ele confiado, se tornar como um pai espiritual, um cuidador das
almas, um irmão mais velho que ofereça segurança e tranquilidade àqueles que
desejam confessar pecados, revelar dramas de consciência e rasgar o coração.
Outra serventia e essa imprescindível é a defesa da pureza doutrinária, da
fidelidade do ensino e exposição das Escrituras. Os presbíteros deverão ser
graves e zelosos no momento de chamar um presbítero docente, um pastor, para
cooperar no pastoreio da Igreja. Um presbítero é um fiel depositário da sã
doutrina o que garante á igreja uma moralidade e uma ética saudável. É dever do presbítero não permitir que haja
no culto fogo estranho e no púlpito ensinos de tradição humana ou invenções e
sugestões anti bíblicas e até demoníacas. É dever do presbítero não permitir
que o mundo e as heresias se instalem na igreja. Um presbítero serve bem a sua
igreja na medida em que exerce a medicina espiritual por meio da repreensão
pública e privada dos pecados, em amor e segundo as Escrituras. É seu dever não
tolerar ou permitir comportamentos que ofendam a Deus, escandalizem os irmãos,
provoquem a ira dos de fora e desacreditem o Evangelho. Para isso, deve exercer
com zelo, prudência, porém com vigor e autoridade o ministério das chaves na
disciplina espiritual. Por último, a administração dos negócios da igreja,
finanças, patrimônio e etc. Função esta que deverá compartilhar com os
diáconos, tema de nossa próxima pastoral.
Que postura uma Igreja Evangélica deverá assumir
quando visitada por um candidato em tempo de eleições, durante o culto público?
Essa resposta passa necessariamente pela compreensão que o pastor e a Igreja
possuem do púlpito e do que efetivamente fazem quando se reúnem como igreja
para a adoração. De certo, o assunto política não pode jamais ausentar-se do
púlpito. Assim, como Arte, Filosofia, Economia, Sexualidade, Entretenimento e
etc. Mas, quando esses assuntos são abordados devem ser apenas e tão somente
para serem avaliados, normatizados, limitados, aprovados ou reprovados pela
inerrante Palavra de Deus. Não falamos de arte por diletantismo no púlpito, mas
valoramos a estética em sua conexão com a ética e a verdade. A arte e suas
expressões não são moralmente neutras, sempre comunicam uma visão de mundo e
uma ética subjacente. Portanto, algo que se pretenda como arte não pode e não
deve aviltar a dignidade humana, explorar suas misérias ou enaltecer a
pecaminosidade. A arte deve ser entendida como a expressão estética da bondade
e da verdade. Também não falamos de filosofia por simples paixão pela
especulação ou por intelectualismo escravizado por esta ou aquela ideologia.
Quando abordamos algum aspecto filosófico é porque estamos interessados nos
essenciais da vida, em seus porquês mais substantivos, na razão de ser do estar
aqui e em nossa transcendência. Desejamos chegar à verdade e ao sentido da
vida. Logo, qualquer sistema ou escola filosófica que coisifique a vida,
materialize a existência a tal ponto de tornar irredutivelmente finita a vida
no aqui e agora, abrindo perigosas brechas para um existencialismo pernicioso,
deverá ser enfrentado em seus sofismas com a diáfana verdade das Escrituras,
que nunca erram (Jo 10.35 b). Quando falamos de economia não estamos
interessados em ideologias ou programas partidários, mas sim no fazimento
da justiça, da equidade e da promoção da vida. A sexualidade será entendida no
contexto da criação e do propósito santo para o homem e a mulher dentro do
matrimônio e como expressão dos gêneros macho e fêmea. O entretenimento como
parte do gozo do Dia do Senhor e aquela antecipação dos bens escatológicos,
isto é, da paz, alegria e descanso na ‘Nova Jerusalém’. Então, como abordamos a
política? Sempre a partir da nossa visão de Reino. Entendemos que não há aqui e
agora nenhum partido capaz de cumprir perfeitamente um programa pleno de êxito.
As ideologias não escapam à escravidão, antes, são sempre novas formas de
idolatria, quer do dinheiro, quer do trabalho, quer de uma filosofia ou mesmo
credo religioso. Não há plataforma política, por mais abrangente, que satisfaça
todas as necessidades sociais e individuais. Todavia, nem por isso são
dispensáveis. Quando falamos de política devemos voltar às Escrituras em geral e na
Lei Moral em especial e entender a concepção de Deus para a liderança
governamental. Em ambos os casos, entendemos política como a missão dada a
alguns para garantir o socorro e assistência dos mais fracos, o amparo dos
vulneráveis, a justa distribuição das riquezas, a manutenção da ordem e da paz,
o incremento para o desenvolvimento geral da sociedade, a coibição e punição do
mal, bem como a exaltação dos bons. Enxergamos a política como missão, o
político como servo e o poder como serviço, sempre voltados para o bem comum e
nunca como um fim em si mesmo. Se essas verdades estão presentes no
púlpito, então entendemos o que fazemos quando nos reunimos em Igreja. Nesse
ajuntamento não há a distinção das dignidades e dos méritos pessoais. Não há a
exaltação de uns sobre os outros. Não há partidos ou ideologias que devam ser
prestigiadas. Somente Deus, somente o Cordeiro, somente o Espirito, só o Deus
Trino deve ser adorado, admirado, exaltado, apreciado. E todos, sem exceção,
temos o privilégio comum de estar ali, ante a beleza da santidade do Senhor. Em
uma Igreja genuinamente cristã, o púlpito jamais deveria ser cedido para o
‘comício’, para fazer política partidária ou a apresentação de candidatos.
Deveria ter como abominação o fato de os nossos santuários serem transformados
em palanques e nossos ajuntamentos solenes serem profanados com discursos
inflamados e rasos dos políticos, ainda que bem-intencionados. A César o que é
de César, e há momento para isso, existem outros expedientes e outros espaços.
A Deus o que é de Deus. Tudo pertence a Ele. Ele é Senhor sobre tudo e sobre
todos. Logo, no púlpito e no culto, os partidos e as ideologias se lhe submetem
e todos somos um no Senhor.
Setembro traz consigo a primavera no hemisfério sul.
Bernardo de Claraval usa a transição da estação do inverno para a primavera
para falar das alegrias pascais, uma vez que no hemisfério norte, a páscoa é
celebrada muito próximo à chegada da primavera, chegando mesmo a coincidir com
ela, depois de dias de frio intenso no rigoroso inverno europeu. Bernardo diz
algo mais ou menos assim: ‘vejam, nos
campos a neve derrete, as cores vivas das flores estão de volta com o seu doce
perfume no ar, ouvi, o canto da pomba rola anuncia, os dias de longa escuridão
dão lugar ás alegrias da luz. Cristo, nossa luz, brilha nas trevas dos nossos
corações, passou o inverno, foi-se o frio, a vida voltou depois da morte’
(citação livre). Essa belíssima ilustração pode e deve ser aplicada também a
nós, ainda que o Brasil e Itapira de maneira especial, não possuam inverno tão
rigoroso assim, ainda é possível verificar a transformação da natureza nesses
dias de estiagem e frio. Os campos estão secos, os sinais das queimadas e a
poluição mais densa do ar comprometem a nossa qualidade de vida e etc. A
proximidade da primavera nos remete à proximidade cada vez maior do Natal,
outra grande festividade do calendário cristão. Assim, é tempo de ir derretendo
o gelo da indiferença, do cinismo, do criticismo e do desânimo de nossos
corações. É tempo de retornar à vida, às alegrias da vida e de ouvir o canto da
pomba convidando-nos à alegria pela iminência de logo celebrarmos as alegrias
das festas natalinas. Você pode dizer, e com certa justiça, que ainda faltam
quatro meses, verdade, mas é um tempo satisfatório para descongelar os nossos
corações. O Natal tem tido cada vez menos significado e impacto sobre os
cristãos e a sociedade. A comemoração do nascimento do Salvador tem
cada vez menos encontrado acolhida inclusive nos
corações crentes. Até parece que a história tem se repetido e Ele não tem
encontrado hospedagem digna entre os seus, como aconteceu nos dias de seu
nascimento histórico segundo a carne. As celebrações têm sido frias e
não tão frequentadas como antes. Não só papai Noel, mas também o “desespero”
pela praia, por uns dias de descanso e os atropelos pelas celebrações sociais,
andam roubando a centralidade de Cristo, e assim, o Natal tem sido tão carente
de sentido e de sentimentos de alegria e piedade, que é vivido com profunda e
chocante indiferença e trivialidade pelos cristãos. Muito embora não devamos
ver e nem reconhecer nesses dias algo místico ou superior aos demais dias do
ano, e devamos ter todo o cuidado para não idolatrar essa data, não podemos
incorrer no erro dos puritanos que no afã de não incorrer no erro dos católicos
e anglicanos, simplesmente aboliram a comemoração, não sem prejuízo para uma
enorme geração de cristãos e também para o aumento do secularismo na sociedade.
Hoje, devemos nos precaver também da tirania do mercado e do comércio tanto
quanto de cometer erros doutrinários crassos, mas, sem deixar com que nossos
corações fiquem congelados pela indiferença. A primavera vem, um tempo que
antecede o sol em zênite, Jesus Cristo, que do alto vem visitar-nos, como canta
Zacarias no Evangelho de Lucas. E, enquanto isso, temos tempo para o degelo,
para a transformação da paisagem, seca e sem vida, a mudança da aridez para a
pujança de vida nova. Desde agora, é tempo de ouvir a pomba que canta a
alegria, isto é, o Espírito que fala à Igreja por meio da Palavra. É tempo de
recuperar o primeiro amor, as primeiras obras e ir preparando o nosso coração
para que a alegria espiritual seja uma marca evidente de nossa vida, uma vez
que é uma ordenança e uma experiência: “alegrai-vos
sempre no Senhor; outra vez digo, alegrai-vos” (Fp 4.4); “Alegrai-vos no Senhor, e regozijai-vos, vós
os justos; e cantai alegremente, todos vós que sois retos de coração” (Sl
32.11); “Exultai no Senhor toda a terra;
exclamai e alegrai-vos de prazer, e cantai louvores” (Sl 98.4) e ainda: “Este dia é consagrado ao nosso Senhor. Não
se entristeçam, porque a alegria do Senhor os fortalecerá" (Ne 8.10).
Roguemos a Deus irmãos e amigos que setembro traga consigo também uma primavera
de santidade e de alegrias espirituais. Que saibamos aproveitar o tempo para
aquecer os nossos corações com o calor e o consolo das Escrituras para que
chegando os dias da festa, nossa alma se regozije nas coisas do alto e assim um
sentimento de plenitude de vida invada a nossa vida livrando-nos do vazio
existencial.