Todos os Santos
“Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor,
por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do
Espírito, e fé da verdade” (2 Ts 2.13).
A Igreja católica Romana comemora
em seu calendário litúrgico no dia de hoje a festa de todos os santos. Esta é
uma data interessante para a Igreja Reformada. Martinho Lutero aproveitou o
Ofício de Vésperas desta festa para afixar as suas noventa e cinco teses,
seguro evidentemente, que no dia seguinte haveria grande afluxo de pessoas para
a missa e assim seu manifesto teria grande publicidade. Todavia, é sempre uma
oportunidade, também para nós cristãos evangélicos do século 21, aproveitar a
data para aprofundarmos a nossa distinção em relação aos católicos.
Hoje,
evidentemente, sem qualquer tipo de ataque ou preconceito, apenas para que nós
mesmos tenhamos muito claro em nossa mente quais os nossos distintivos
teológicos. Para os católicos romanos a proclamação oficial da
santidade de um de seus membros tem um longo, burocrático e oneroso caminho a
percorrer. Muitas provas e contra provas precisam ser levantadas num processo
muito rigoroso. Testemunhos são colhidos, se o santo ou santa em causa escreveu
ou ensinou alguma doutrina, seus escritos são submetidos à rigorosa
investigação para ver se nenhuma distorção ou heresia é encontrada. No caso de
milagres de curas depois de decorrido um tempo, peritos nas mais variadas áreas
das ciências médicas são consultados para se constatar se ali há uma suspensão
da ordem natural e uma intervenção sobrenatural. Claro que os cientistas apenas
tentam provar que não há explicação científica possível para o fenômeno. A
constatação de milagre cabe á autoridade
religiosa.
Depois deste processo, o homem e a mulher tendo sido aprovados em suas vidas
como aqueles que viveram em alto grau de virtudes em fim são declarados santos
e colocados para os católicos como exemplos de piedade, vida santa e na função
de intercessores. Para nós cristãos evangélicos o caminho é bem mais curto e
todo o processo se dá ainda quando estamos vivos, porém não sem sacrifícios e
exigência muitas provas que são os frutos. São declarados santos todos quantos
receberam a Cristo como seu Senhor e único e suficiente Salvador pessoal. São
santos todos quantos agora alcançados pela maravilhosa graça do evangelho viram
os seus pecados perdoados na cruz e receberam a justiça de Cristo em suas almas
e com ela a adoção de filhos e o espírito de santificação. São santos porque
receberam luz, graça, entendimento e forças espirituais para lutarem dia e
noite contra o pecado ainda residual em suas almas, lutar contra as tentações
do mundo e os ataques do maligno (Ef 6.11). São santos porque receberam a
Palavra de Deus em seus corações e agora buscam com o auxílio do Espírito Santo
modelar a sua prática, a sua ética e o seu estilo de vida pelo altíssimo padrão
das Escrituras. Mas, descobriram que não são santos para si mesmos, antes,
chamados com santa vocação, isto é, separados para o serviço exclusivo de Deus.
Para tanto, não precisamos nos alistar em um mosteiro ou convento. Não
precisamos fazer votos especiais de pobreza, castidade e obediência e nem mesmo
abrir mão de qualquer bem desta vida, apenas saber usá-lo como administradores,
como mordomos de Deus na criação. Pelo contrário, nosso chamado a santidade
supõe o mundo e as suas vicissitudes (Jo 17. 15-18). Por isso nos casamos,
temos filhos, trabalhamos em qualquer ramo de atividade lícita e honesta, nos
fazemos presentes na arte, na cultura, na política e claro, no ministério
eclesial e em missões. Nosso chamado a santidade desconhece a separação entre
secular e sagrado, entre religioso e profano. A terra pertence ao Senhor e tudo
o que ela encerra (Sl 24.1; 1Co 10.26). Tudo o que fazemos quer comamos, quer
bebamos, ou qualquer outra coisa, nós o fazemos para o Senhor (1Co 10.31).
Também não ignoramos que a nossa santificação implica nos tornarmos exemplos de
virtude e modelo para os nossos irmãos e para com os de fora da igreja (1Pe
5.3; 1Ts 1.7; 1Tm 4.12; Cl 4.5). Na Igreja católica, os santos quando chegam
“às honras do altar” são proclamados intercessores porque agora são íntimos de
Jesus. Nossa condição de santos também nos dá esta capacidade, mas não depois
de mortos, mas aqui e agora. Somos instados a erguer nossas mãos sem animosidade
e em santidade intercedendo por toda classe de homens e em todas as
circunstâncias e o fazemos exatamente por nossa amizade e intimidade com Jesus
desde agora. Tanto é verdade que ele mesmo nos deu a liberdade de usar o nome
dele para pedir qualquer coisa ao Pai, um milagre inclusive (1Tm 2.8;
Jo 14.13-14; Jo 16.23,26). Os evangélicos são todos santos? Infelizmente não! O
que só prova que nunca receberam nem viveram de fato o Evangelho. A Palavra de
ordem para os cristãos é: Santos hoje, santos agora, santos já, para sermos
santos para sempre.
Rev.
Luiz Fernando Dos Santos
É Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil em
Itapira