LITURGIA DO CULTO
25 DE JANEIRO DE 2015
Em muitos contextos
evangélicos, presbiterianos inclusive, os Catecismos não gozam de muita
simpatia. Muitos logo o associam à Igreja Católica Romana e por isso mesmo
possuem tanto preconceito. Muitos acreditam que o conteúdo dos Catecismos não passam
de introdução de elementos meramente humanos, costumes e doutrinas surgidas em
determinado período que pouco ou nada tem a ver com as Escrituras. Bom, em se
tratando do catecismo da Igreja Católica isso lá tem a sua verdade. Ali você
encontrará o ensino oficial daquela denominação sustentado sobre o tripé
Tradição, Escrituras e Magistério eclesiástico, nessa ordem. Ali o que disseram
os grandes doutores e mestres do passado, bem como os santos e místicos que
desde sempre habitaram o ambiente romanista tem grande crédito. Também o
pensamento papal tem enorme destaque. Evidentemente que as Escrituras também
são citadas, mormente para consubstanciar os dois anteriores. Mas, no contexto
das Igrejas organizadas na Reforma Protestante os Catecismos surgiram já na
aurora do movimento. Martinho Lutero providenciou catecismos para a instrução
das crianças e depois também dos adultos. Depois surgiram em outros contextos
reformistas outros catecismos, talvez o mais famoso deles o de Heidelberg
publicado em 19 de janeiro de 1563 de autoria de Zacarias Ursino e Gaspar
Oliveano que logo foi recebido e aceito pelas Igrejas dos Países Baixos
tornando-se assim um de seus símbolos de fé. Mais tarde, a célebre Assembleia
de Westminster publicou a sua Confissão de Fé e seus dois Catecismos o Maior e
o Breve em Fevereiro de
1649. Estes documentos confessionais oriundos
de Westminster popularizaram-se no mundo de fala inglesa e ganharam o mundo
através da expansão missionária das Igrejas Calvinistas nos séculos XVII-XIX.
Com o advento do liberalismo teológico e outras crises institucionais e de fé
os catecismos infelizmente aos poucos quase desapareceram ou por falta de
Volta e meia escuto alguém
dizer o seguinte: ‘os irmãos fulano e cicrano estão a frequentando a Igreja tal
porque lá é uma igreja mais avivada’. Confesso que custo a acreditar que esta
afirmação corresponda ao que as Escrituras e a história apresentam como sendo
uma igreja avivada, despertada e entusiasmada pela presença e obra do Espírito
Santo. Acredito sim que aquela Igreja possa ser mais espontânea, mais informal,
mais humana até. Creio que a necessidade de sentir algo para provar e sustentar
a própria existência e identidade do grupo leva a expedientes extravagantes e
provocam certa euforia. Não estou aqui acusando ou recriminando, estou apenas
considerando o que escuto e vejo por aí usando e abusando dos conceitos “avivado,
avivamento e despertamento” e comparando com o que aprendo da Bíblia, da
Teologia e da Tradição Viva da Igreja de Cristo sobre a terra e no caminhar da
história. Uma Igreja avivada, de maneira geral, é uma igreja que experimenta
uma profunda convicção de pecado. Que experimenta e condói-se por seus pecados,
por sua indiferença espiritual, por seu desinteresse “nas coisas espirituais” é
uma igreja que se acusa diante de Deus em lágrimas por ter esfriado o seu amor
por ter-se acostumado ao formalismo da religião. Onde há o verdadeiro avivamento num primeiro
momento há mais pranto, choro, gemido, humilhação, boca no pó e confissão
amarga de pecados do que qualquer outra coisa. Não há alegria fácil,
descomprometida, aleatória e induzida no avivamento. É uma alegria que nasce da
cruz, do calvário, do aspergir do sangue precioso de Cristo levando-nos após o
quebrantamento e sentir, experimentar e considerar atentamente o perdão de Deus
em Cristo. Uma Igreja avivada é uma igreja que valoriza, exalta, dá a maior
atenção ao preço do perdão, às exigências que nascem desta condição de
reconciliado e perdoado: uma vida de santificação. Não há que se falar de
avivamento onde não há compromisso com
De todas as resoluções justas e possíveis, de todos os
pedidos necessários e imprescindíveis para o ano de 2015 todos nós, como
cristãos individualmente e como igreja organizada, deveríamos resolver buscar
mais a Deus, ter mais sede d’Ele e de seu poder. Um dos aspectos mais
surpreendentes dos dias de avivamento e despertamento espiritual é o interesse
‘nas coisas de Deus’. Interesse que não é apenas a busca de experiências
místicas ou sensoriais. Mas, sobremaneira, um renovado interesse em doutrina,
em conhecimento dos atributos de Deus, de seu plano, de como Ele o realizou em
Cristo. Interesse por conhecer mais e melhor a pessoa excelsa e bendita do
Senhor Jesus Cristo, suas naturezas, seus ofícios, sua obra consumada na Cruz.
Novo e santo interesse por saber quem é o Espírito Santo e sua relação com as
outras duas pessoas divinas da Trindade, como Ele age, qual a sua missão e como
Ele atua sobre e em nós. Deste interesse por doutrina inevitavelmente aparecem
na alma aquela admiração, aquele desassombro, aquele encantamento por Deus que
leva ao amor por sua santidade, ao ‘maravilhamento’ com a sua beleza e verdade
e, por conseguinte, às mais variadas experiências sensoriais, afetivas,
emocionais, psíquicas. Sim, como cristãos reformados não temos porque temer,
duvidar ou rechaçar tais experiências. Elas são bíblicas. Elas apareceram
sempre em momentos de grande visitação do Espírito Santo. Sempre que a Palavra de Deus foi
pregada com integridade e fidelidade estas manifestações ocorreram. Seja pelo
quebrantamento que levou
a muitos às lágrimas, ao
temor do inferno em forma de desespero como no ocorrido quando Jonathan Edward
pregava seu sermão “Pecadores nas mãos de
um Deus irado”, ou êxtase e delírio santo, visões e sentimentos inefáveis
de paz e doçura da alma ao contemplar da beleza, amor, santidade de Deus em
Cristo. O que não pode e nem deve ocorrer é a busca da experiência como um fim
em si mesma. Experiência sem doutrina, sem sólido conhecimento descamba em
alienação. Conhecimento sem experiências espirituais se torna fundamentalismo
estéril, ortodoxia morta. O conhecimento mais a experiência leva a uma
prática, uma conduta de vida que rejeita o mal e o pecado em si mesmo, os que
se originam a partir de si e os presentes no mundo. Conhecimento reto e experiência
saudável atestada pelas Escrituras produzem um viver agradável a Deus.
Uma conduta santa, generosa, que em tudo repute glória a Deus e em tudo busca o
bem dos irmãos e a salvação dos incrédulos. Estes três elementos quando
encontrados de maneira simétrica no caráter do crente o faz amar os santos, a
sua companhia, as suas palavras e a vida compartilhada com eles. Conquanto
queira bem aos incrédulos e lhes sirva de testemunho e anúncio, o seu prazer
estará sempre com os santos, onde Deus também tem grande complacência. Quando
este estágio da maturidade cristã é alcançado é certo e seguro que a Igreja não
suportará pastores despreparados, cultos centrados na vaidade humana, oficiais
que não consigam sequer conduzir o culto doméstico ou pastorear a própria
família. A igreja produzirá homens com robustez ética suficiente para atuarem
na política. Iluminará as mentes mais desenvolvidas de seus filhos para
ingressarem no mundo acadêmico, da educação, das ciências e das artes para
reivindicarem ali o Senhorio de Cristo. Serão capazes de reconhecer sem medo
que uma verdade, ainda que vinda de um ateu, é sempre verdade de Deus que não
pode mentir. Assim, a Igreja e os seus membros com conhecimento sólido,
experiência verdadeira do Espírito purificando, reordenando e santificando as
disposições de suas faculdades e vivendo segundo a vontade de Deus, poderá
transformar este mundo tornando-o melhor habitável para todos até que volte o
Senhor. Por isso, meu conselho é que em 2015 nós como cristãos e como igreja
organizada desejemos mais de Deus. Supliquemos ao Espírito Santo que aumente
nossa sede de conhecimento bíblico e doutrinário. Que aumente nosso desejo de
novas e mais profundas experiências espirituais. Que nos faça mais resolutos em
viver
para a glória de Deus e a promoção do Reino de Deus em nossa terra.