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Existem maneiras de se comemorar a data da Reforma Protestante
negando-lhe o valor e a relevância para os dias e a Igreja de hoje. Basta
que intentemos falar da Reforma apenas como um evento histórico do século XVI,
fazendo apenas um exercício de memória em ler os registros daquela época ou teses
e ensaios sobre as novas descobertas do contexto e das vidas privadas e
públicas dos reformadores. Ainda sempre corremos o risco de que,
levados por ufania, por empáfia e mesmo arrogância espiritual cairmos no erro
grosseiro da idolatria, de superestimarmos Lutero, Calvino, Knox como nossos
“Santos Protestantes” que merecem um lugar em um nicho ou altar. Mas, o
efeito mais nefasto mesmo tem sido considerar a Reforma como um evento acabado.
Considerar a Reforma da Igreja como concluída já nos dias dos reformadores e
que para nós sobraram apenas os privilégios de uma bendita herança e a
responsabilidade de administrar bem as conquistas do século XVI. Por isso,
convido todos os cristãos reformados ou herdeiros diretos: Luteranos,
Presbiterianos, Reformados, Batistas Reformados, Metodistas, Anglicanos,
Congregacionais e também os beneficiários e herdeiros indiretos, mas igualmente
devedores da Reforma: Assembleianos e Pentecostais tradicionais em geral,
Igrejas do movimento holiness: Exército da Salvação e Nazareno, por exemplo, e
por fim as comunidades e igrejas neopentecostais e igrejas independentes que
digam NÃO À FESTA! Devemos comemorar sim. Devemos agradecer sim. Devemos
aprender e fazer memória do passado sim. Mas não podemos pensar em Reforma em termos
de ontem. A Reforma é uma necessidade hoje, do agora de nossas vidas e Igrejas.
Muito se tem dito a
respeito do contexto histórico da Reforma Protestante. Às vezes até com certo
exagero se pinta o século XVI como um período de que nada se aproveita na
religião, na igreja, na cultura e nas artes. Não é esta bem a verdade. O Século
XVI viu nascer o período da Renascença, um tempo de retorno às fontes
culturais, intelectuais, filosóficas e estéticas da antiguidade greco-romana,
grosso modo. Também vultos intelectuais de um passado bem próximo iluminavam a
Igreja Romana, como Boaventura, Pedro Lombardo, Tomás de Aquino, Anselmo e etc.
De fato a identificação dos poderes temporais e espirituais desde o Sacro
Império Romano Germânico, a corrupção da cúria romana e os despotismos de papas
e bispos, bem como o lento e trágico afastamento das Escrituras, levaram a
Igreja a um estado desesperador de
obscurantismo. Nas palavras de um teólogo católico, Loius Boyer, “mesmo a
pérola do Evangelho já não brilhava mais, escondida sob as camadas e camadas de
demãos de tingimento da Tradição.” Neste contexto emerge a figura de Martinho
Luthero. Sem muito discernimento e sem conhecimento da vontade de Deus nas
Escrituras, Luthero, em dia de grande tempestade faz o voto à Santana, mãe de
Maria, segundo a Tradição, que se escapasse com vida daquela tormenta se
consagraria a Deus na vida monástica. Luthero passou seus dias no mosteiro
atormentado em sua alma. Chegou mesmo a admitir que odiava um Deus justo. E,
por mais que se confessasse com seu diretor espiritual J. Stauptz, ou fizesse
penitência e muitas vigílias, sua alma jamais encontrava paz e sim a lembrança
de um Deus insatisfeito, irado, justo, vindicando justiça. De fato, este Deus
existe, é revelado nas Escrituras, é o Deus da Bíblia. Contudo, não é a revelação total e
definitiva. Não é uma revelação perfeita. Luthero conhecia o Deus construído e
herdado da tradição monástica e da piedade religiosa de seu tempo, desvinculada
e á parte das Escrituras. Um Deus criado e projetado segundo os ideais humanos
de justiça e perfeição, mas não o Deus das misericórdias e de toda consolação
(2 Co 1.3), não é o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Deus da salvação
e da Graça. Até encontrar-se com este conhecimento, com esta verdade
libertadora das Escrituras, tendo a Cruz como declaração da justiça e da graça
de Deus, Luthero era um escravo infeliz na insana busca de conseguir o favor e
o beneplácito de Deus com suas obras humanas. Desta descoberta, mais do que
qualquer outra, resulta a Reforma Protestante. Não há verdadeiro culto a Deus,
aceitável por Ele, que comunique graça e santificação e não haverá vida
ética libertadora sem o verdadeiro
conhecimento do verdadeiro Deus das Escrituras. Todas as demais
conquistas e realizações da Reforma protestante: O livre acesso e exame das
Escrituras. O ensino fundamental público e a alfabetização das massas. A
iniciativa e o fomento do livre pensamento nas artes, nas ciências e na
religião. A democracia moderna com representantes escolhidos pelo voto do povo,
o valor ético do trabalho e a hipoteca social sobre as conquistas individuais e
etc. são na verdade o resultado e o produto derivado deste conhecimento de Deus
que dá ao homem uma cosmovisão bíblica, um sistema integrado de valores que o
possibilitam ver o mundo, a cultura, a
política, as artes, a realidade do homem na perspectiva da vontade de Deus e de
seu Reino sobre o universo. No final da vida, ao contemplar a extensão e todos
os desdobramentos desde o dia 31 de outubro de 1517 quando teria afixado as
suas 95 testes. Ao repassar a história e trazer à memória as extraordinárias
notícias que lhe chegavam da Berna de Beza, da Louvain de Farel, do Palatinado
alemão e da atuação de Melancthon. Da Genebra de Calvino, da Zurique de
Zwinglio e Bullinger e de todas as transformações que ocorriam em toda a parte
e em todas as dimensões da existência humana, Luthero teria dito: “Eu não fiz nada, a Palavra fez tudo.” É o encontro do homem, por mais
desesperado e atormentado, por mais pecador e por mais distorcido que seja até
então, seu conhecimento de Deus, que pode REFORMAR a sua existência e todo o
seu contexto. Se Luthero possui algum valor, serve de algum modelo e
inspiração para nós protestantes do século XXI, creio que é este. Deixar-se
convencer, seduzir, aguilhoar, ferir, curar, acorrentar e conduzir pela Palavra
de Deus e dela e somente dela haurir conhecimento verdadeiro sobre Deus, o
homem, a criação, a Queda, a Redenção e o destino último de todas as coisas. Como
Luthero, deixemos Deus ser Deus. Deixemos que a Palavra faça o que tem que fazer!
Dedicamos neste mês de maneira especial
nossa atenção ao Evento do qual somos todos devedores, a Reforma Protestante
cujo marco simbólico é o dia 31 de outubro de 1517. Neste dia, o frade
agostiniano Martinho Luthero teria afixado as suas noventa e cinco teses contra
a venda de indulgências por parte do frade dominicano J. Tetzel. O ato de fixar
teses convidando os acadêmicos e os interessados para debates em matéria de
filosofia, teologia, artes e etc. era uma prática comum daqueles dias. O
inaudito mesmo foi a crítica aberta á uma prática tremendamente lucrativa,
exploratória, grosseiramente supersticiosa e agressivamente contrária às
Escrituras exatamente por parte de um membro da hierarquia da Igreja Católica e
professor de uma das mais renomadas universidade da Alemanha. Evidentemente que as noventa e cinco teses ainda que
denunciassem esta prática criminosa e de lesa divindade, ainda sim era
simpática e conservava um tom de obediência e submissão ao papa. Luthero, nem
de longe, sonhava reformar a Igreja a partir de fora. Nunca quis romper com a Igreja
ou dela sair. O papa e seus dignitários que se fecharam às
contribuições e ao diálogo com os reformadores. Luthero jamais imaginou o
alcance do movimento por ele iniciado. A alcunha de protestante dado ao
movimento surgiu em 19 de abril de 1529 na Dieta de Spira, convocada por Carlos
V que tentou sufocar o movimento. Diante dos protestos dos “Lutheranos” em
reação às iniciativas da Dieta e do Imperador tentando subjugar o movimento ao
papa, sobreveio-lhes o rótulo de protestantes, que desde aqueles dias
ostentamos com humildade envaidecida. 496 anos depois dos primeiros
bafejos dos ventos reformistas valeria a pena perguntar quais frutos colhemos
desde então? humildade envaidecida. 496 anos
depois dos primeiros bafejos dos ventos reformistas valeria a pena perguntar
quais frutos colhemos desde então? 1. Conquistamos a liberdade de
consciência, coisa impensável nos dias da Reforma. Era crime divergir, pensar
diferente, possuir e outra visão das coisas.
Galileu Galilei, J. Huss e Tyndale que o digam. 2. Temos a liberdade de
examinar livremente as Escrituras. O que nunca significou interpretá-la
livremente. Mas também o que nunca nos limitou a interpretá-la atrelada
à Tradição ou a ao Magistério. Nós protestantes não desprezamos a
Tradição, absolutamente. Reconhecemos agradecidos á contribuição dos
pais da Igreja, dos Concílios da Antiguidade e de grandes pensadores. Somos
devedores a Justino, Irineu, Agostinho, João Crisóstomo, Tomás de Aquino e Alberto
Magno, para citar alguns. Acatamos muitas deliberações de Éfeso, Nicéia,
Calcedônia e Constantinopla. Contudo, colocamos a Tradição de maneira
subordinada e dependente das Escrituras, nunca em pé de igualdade com ela.
Também no tocante ao Magistério eclesiástico entendemos que as Escrituras
validam as ações da Igreja e nunca o contrário. 3. A separação entre
Igreja e Estado, a não ingerência da Igreja nos negócios do Estado e também a
liberdade da Igreja em matéria doutrinal e disciplinar em relação ao Estado são
conquistas dos Reformadores. À duras penas aprenderam e abriram caminho
para que ambas as esferas desejadas por Deus servissem em liberdade a Deus e aos homens nas
competências que lhes são próprias. 4. A educação
universalizada e fundamental também foi uma conquista da Reforma. Luthero e
depois Calvino exigiram que Estado providenciasse educação de massa para que
todos pudessem ler a Bíblia por si mesmos e também desenvolverem-se como pessoa
humana. 5. Os fundamentos da democracia moderna também se acham
formuladas nos dias dos reformadores. Os Estados protestantes em sua maioria
trocaram o “Bispo-rei” por presbíteros eleitos pelo povo. Também suprimiram em
muitos contextos a monarquai absoluta por representantes eleitos diretos pelo povo
e com mandato definido. A Suíça e depois a fundação dos Estados Unidos da
América dão provas históricas disso. 6. O grande avanço das artes
liberais e das ciências encontraram plena liberdade e muito incentivo em países
e culturas que abraçaram a Reforma Protestante. O mundo viu surgir uma nova
ética e uma nova civilização desde aquele longínquo dia de 31 de outubro de
1517. Todavia, o movimento reformador sempre teve a clara noção da
insuficiência dos seus feitos e das muitas carências e pendências ainda não supridas.
Por isso mesmo a validade permanente de seu moto: “Igreja Reformada, sempre carece
de Reforma”. Nas próximas pastorais do mês de outubro vamos aprofundar
nossa compreensão sobre a Reforma e a nossa herança religiosa e cultural como
protestantes. Soli Deo Glória!