Uma Igreja para o bem comum dos homens
“Aprendei a fazer o bem; Atendei à justiça, repreendei o opressor;
defendei o direito do órfão e pleiteai a causa das viúvas” (Isaías 1. 17).
A igreja é uma realidade espiritual que subsiste em
categorias humanas. É um organismo vivo que se configura em uma organização
humana, que vive a tensão de não ser deste mundo e de estar ainda presente aqui
e agora. Portanto, é necessário fazer uma clara distinção entre a sua sublime
vocação e as suas múltiplas tarefas históricas a que damos o nome de missões.
No que diz respeito à sua vocação, a igreja é uma comunidade de discípulos
separada e purificada do mundo e dos outros homens. É chamada à santificação
contínua aqui e à santidade perfeita na eternidade. É uma reunião de homens e
mulheres comprados e lavados no sangue de Cristo para a adoração em espírito e
em verdade. Sua mais alta vocação é pertencer e estar em Deus em adoração desde
agora e de eternidade em eternidade na companhia dos santos anjos. Todavia,
esta vocação não pode e nem deve alienar a igreja e fazer com que ela viva numa
espécie de realidade paralela, indiferente ao mundo e as angústias, lutas e
esperanças dos outros homens, que por vezes nem conhecem e nem mesmo aceitam o
evangelho. Enquanto se encaminha para a glória em sua peregrinação
terrestre, a igreja deve dar efetiva e afetivamente a sua contribuição para o
bem- estar de toda a coletividade humana e retirar de seu patrimônio ético e
moral recebido do Evangelho todas as noções, lições e verdades que possam
contribuir para a paz entre os homens, a recuperação e restauração dos caídos
nas muitas armadilhas do mal que assola a humanidade e etc. Dentre
as suas missões, além de pregar o evangelho e dar testemunho de Cristo para as
nações, a igreja deve comprometer-se com a justiça, o socorro assistencial imediato
para saciar a fome e minorar os sofrimentos físicos. Deve esforçar-se
para iluminar as mentes com ensino de qualidade
e assim promover o bem-estar social na conquista de direitos e no fazimento dos
deveres que cabem a todos. Faz parte das missões da igreja colocar-se ao lado
dos que estão marginalizados ou foram esquecidos pelo sistema e deixados à
beira do caminho do progresso e do acesso aos bens deste mundo que promovem a
dignidade humana. A igreja deve emprestar a sua voz e a sua presença e capacidade de
dialogar e influenciar àqueles que se deixados a sua própria sorte pouco ou
nada serão ouvidos e notados. Onde a igreja não está engajada, onde ela
não é um fator de transformação comunitário e social, onde ela não possui
estratégias e ações concretas de promoção da dignidade humana que traz em si
mesma a imagem como semelhança de Deus e onde a comunidade dos discípulos não
assume o seu mandato cultural, dentre eles, a preocupação e o cuidado
ecológicos, torna-se impossível entender que o Evangelho tenha sido plenamente
assimilado e verdadeiramente integrado ao estilo de vida daquelas pessoas. A
Igreja não vive para si mesma, ela não se possui e não possui uma agenda
ensimesmada. A igreja pertence a Cristo seu Cabeça e Rei do universo. Cristo
como Rei justo e Santo que é reivindica seu senhorio sobre toda a realidade e
enquanto seu Reino não se consuma na história, Ele determina que seus embaixadores,
os discípulos e sua agência, a Igreja, cooperem em toda boa obra, com toda boa
iniciativa, com todo projeto honroso, com toda instância que busque a justiça,
a equidade, a verdade, a promoção e defesa da vida, a proteção dos fracos e o
socorro dos débeis. Também é seu dever ser a consciência dos que exercem a
autoridade, um sinal de contradição para os poderosos e uma mediadora de paz
entre os ideologicamente divididos. A Igreja não pode eximir-se de suas missões
tanto quanto não pode abrir mão ou negligenciar a sua vocação como adoradora.
Uma não pode existir sem a outra e uma só existe por causa da outra. Uma igreja
vocacionada para o céu é uma igreja engajada com a realidade do mundo. Uma
igreja militante é aquela que um dia será triunfante. Voltando o nosso
pensamento para Itapira, há muito que se fazer aqui. Nossas igrejas, e são
muitas em todos os recantos dessa cidade, não podem e não devem se isolar em
seus casulos denominacionais e em seus interesses “intra corporis”. Deus está
agindo em Itapira, está levantando homens e mulheres de bem e vocacionados para
o bem público nos Conselhos Municipais, na Rede Social Senac-Itapira, em ONGS e
Instituições filantrópicas e etc. Cabe aos cristãos olhar para fora de seus
currais religiosos e perceber o que Deus está fazendo em Itapira, desejar
cooperar e em fim comprometer-se. Que nossas igrejas se abram para o bem de
Itapira, já!
Reverendo Luiz Fernando
Ministro da Igreja Presbiteriana Central de Itapira
Professor de Teologia
Pastoral, Planejamento Estratégico
e Bioética no Seminário Presbiteriano do Sul e
de Filosofia na Faculdade Internacional de Teologia Reformada – Fitref.
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