Somos todos
corruptos
“O juízo deve começar pela Casa de Deus...”
(1Pe 4.17 ss).
Devo imaginar que muitos
dos meus leitores ficaram indignados com o título desta pastoral. Os que têm um
nome, uma reputação a zelar ou os que se têm como justos e mui corretos e
também os que possuem alguma culpa no cartório podem incomodar-se com a minha
afirmação. Mas é fato que somos todos corrompidos, somos todos corruptos e
corruptores. Nascemos assim, faz parte de nossa natureza decaída,
chegamos ao mundo programados para corromper á tudo o que está à nossa volta.
Por mais condescendentes que sejam as teorias que ensinam que o homem nasce bom
e o meio é quem o corrompe, elas não podem sustentar-se como verdadeiras. Pois,
restará sempre a pergunta, quem corrompeu o meio? Ora, o homem com o seu
coração depravado desde o seu nascimento é o que projeta a sua própria
corrupção no mundo: “Portanto, como por
um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte
passou a todos os homens por isso que todos pecaram” (Rm 5.12) e “Eis que em iniquidade fui formado, e em
pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5) e ainda: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o
conhecerá?” (Jr 17.9). Tenho que mencionar ainda a experiência retratada
por Paulo que é também uma experiência universal: “Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o que odeio.
E, se faço o que não desejo, admito que a lei é boa. Neste caso, não sou mais
eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Sei que nada de bom habita em
mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas
não consigo realizá-lo. Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que
não quero fazer, esse eu continuo fazendo. Ora, se faço o que não quero, já não
sou eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim” (Rm 7.15-20). Portanto, embora
a indignação contra os desmandos e a endêmica corrupção geral na política
brasileira seja legítima e necessária até, ficar escandalizados, perplexos e
imobilizados não contribui em nada e nem faz justiça à verdade. Não
temos uma reputação a zelar,
mas uma reputação a zerar! E não podemos evitar que o nosso coração
continue a jorrar corrupção até que Cristo entre nele para transformá-lo. Precisamos
não só de uma nova postura ética, mas sobretudo de uma nova natureza e um novo
coração (Ex 36.26). Um milagre que só o Evangelho da graça pode operar
por meio do Espírito Santo. Aos nascidos de novo, que já estão em Cristo e são
a Igreja d’Ele em missão no mundo, também precisamos contribuir para que uma
solução possa ser encaminhada para o refreamento da corrupção em nosso país. A
primeira e mais urgente coisa que devemos fazer é nos arrepender e confessar as
nossas corrupções diárias a Deus e abandoná-las, mesmo aquelas ínfimas, quase
despercebidas. Existe muita corrupção em nosso casamento, chantagens e
ameaças emocionais trocadas entre os cônjuges. Barganhas psicológicas e
afetivas que fazemos para “comprar” a obediência e o afeto dos nossos filhos.
Nossos filhos apresentam traços dessa corrupção quando “colam” na escola,
quando fazem plágio copiando trabalhos da internet. Muitos pais aprovam esse
caráter corrompido dos filhos quando desautorizam ou difamam os professores,
que desejando a construção de um caráter mais cidadão e ético, chamam a atenção
desses quando estão errados. Precisamos confessar a corrupção que existe
em todas as áreas de nossa vida, inclusive e necessariamente na Igreja.
Depois de confessar arrependidos e sinceramente nossa corrupção pecaminosa,
precisamos orar e jejuar para buscar o favor, a graça e a intervenção divina
para o país. É nosso dever orar pelas autoridades (1 Tm 2.2) para que tenhamos
tempos de paz e prosperidade. Depois de orar o outro passo inadiável é
comprometer-nos e partir para uma ação concreta. A política não é uma questão de
vocação é uma questão de natureza. Somos todos seres políticos. A
política partidária que envolve eleições e mandatos talvez exija não só
vocação, como também estômago. Todavia, existem muitas outras maneiras de se
influenciar politicamente uma sociedade. Desde as associações de amigos de
bairro, os conselhos municipais, clubes de serviço, o voluntariado, bem como o
senso aguçado de corresponsabilidade e interdependência de vizinhos de rua e
etc. para a promoção da qualidade de vida para todos. Como discípulos do Reino não
temos o direito de assistir ao que acontece em nosso redor com santa ira e
indignação como se nós mesmos, em alguma medida, não somos todos responsáveis
pelo mal que há no mundo. Lutemos contra o mal em nós e juntos, lutemos
contra ele no mundo.
Reverendo Luiz Fernando Dos Santos é Ministro da Igreja Presbiteriana Central de Itapira,
Professor de Teologia Pastoral e Bioética no Seminário Presbiteriano do Sul e
Filosofia na Faculdade Internacional de Teologia Reformada – Fitref.
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