O duplo movimento da
Missão
“Assim como me enviaste ao mundo, eu os enviei ao mundo” (Jo 17.18)
A liderança da Igreja tem sempre em mente a
preocupação em como trazer os que estão fora para dentro. Como incluir na
comunidade aqueles que a ela ainda não pertençam e estão no mundo. Crescer é
uma preocupação legítima, faz parte da vontade de Deus para a sua
comunidade-família. Também é uma ordenança explícita do mandado missional dado
aos discípulos. Esta preocupação em fazer a igreja crescer fazendo entrar nela
os que estão do lado de fora acarreta outras demandas. Estruturas físicas de
recepção, bem como estruturas ministeriais e comunionais de acomodação,
acolhida, vivência, treinamento e formação. Muitos ministérios são
criativamente criados e sempre há tentativa de oportunizar o maior número
possível de espaços e oportunidades para que os novos encontrem o seu lugar,
sintam-se bem, possam desenvolver os seus dons e crescer em comunhão com os
seus irmãos. Essas estruturas funcionais geralmente exigem grande emprego de
energia e recursos humanos e financeiros para a sua manutenção. O
Pastor-mestre, bem como seus preciosos cooperadores, presbíteros, diáconos e
demais líderes-servos procuram motivar pelo exemplo e com exortações a
frequência regular e prazerosa dos membros em todos os trabalhos, encontros e
atividades ‘interna corporis’ da comunidade de fé. Essa estrutura de espera, essa
atitude quase passiva de uma igreja em estado de “animação suspensa” sempre pronta
e capacitada para acolher os que vão sendo salvos, não faz plena justiça à
natureza missional da Igreja. Devemos ter o mesmo entusiasmo para
trazer de fora para dentro os que ouvem o Evangelho e se achegam à igreja
quanto enviar os dentro para fora a fim de que muitos outros possam desfrutar
das bênçãos do Reino. Logo, o segundo movimento é o de enviar
para fora os que estão dentro. A
Igreja peregrina, essa que caminha na história, não é um porto seguro, um lugar
para se ficar. Não! A Igreja é um lugar de preparação. De dupla preparação.
Estamos sendo preparados para a vida na eternidade com Deus e preparados para a
vida entre os homens desse tempo em nome desse mesmo Deus. Então, precisamos criar,
incentivar e estabelecer estruturas de saídas, de idas ao mundo. Assim como na
igreja terrestre, o mundo também não é nossa pátria definitiva. O mundo é o
local onde pomos em prática, testamos e vivemos o que aprendemos na igreja.
Estamos de passagem por aqui e enquanto caminhamos para as moradas celestes,
vamos aplicando ao longo do percurso, para a magnificência de Deus e a
exaltação de Cristo, aquelas verdades que importam que os homens sejam salvos.
E não é tudo, já devemos ir vivendo de modo antecipado as virtudes da ‘Nova
Terra’ e dos ‘Novos Céus’ onde habitam a justiça, a verdade e a paz. A
comunidade dos discípulos deve promover no mundo, em suas engrenagens sociais,
em seus fóruns de discussões, o que aprendem na vida nova. Devemos nos esforçar como
liderança para que os nossos irmãos gostem tanto de vir à igreja para adorar
quanto ir ao mundo para servir. Assim, nesse mundo marcado pelo ódio, o
distanciamento, a frieza e o indiferentismo entre as pessoas, devemos ensinar e
testemunhar um novo tipo de relacionamento, marcado pelo amor, pela
fraternidade, pelo serviço, pela promoção da vida. Neste mundo que tanto valoriza a performance,
o consumo, o sucesso pessoal e os bens, temos um importante caminho
alternativo, um caminho de vida e libertação que valoriza a pessoa acima dessas
coisas. Um caminho que ensina que mais que a performance o que está em jogo é
dignidade e a honra. Mais do que o consumo é a solidariedade e a partilha que
produzem uma sociedade mais feliz. Mais do que o sucesso pessoal é a capacidade
de fazer a diferença transformando e libertando vidas. Quanto aos bens,
entendemos que a propriedade particular é um direito e uma bênção, porém, o uso
que fazemos deles é que se diferencia em qualidade e substância. Entendemos que
os bens materiais, culturais e intelectuais são importantes vias de comunhão,
de aproximação, de criação de oportunidades para a promoção da justiça e a
diminuição do fosso de desigualdades aviltantes e desumanas. Pedro também teve
a tentação de permanecer no monte da transfiguração: “Pedro disse a Jesus: ‘Mestre,
é bom estarmos aqui. Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma
para Elias’. (Ele não sabia o que estava dizendo)” (Lc 9.33). Estar é tão
necessário quanto sair!
Reverendo
Luiz Fernando é Ministro da Igreja Presbiteriana Central de Itapira
e professor
de Teologia Pastoral e Bioética no Seminário Presbiteriano do Sul
e de
Filosofia da Faculdade Internacional de Teologia Reformada – Fitref.
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