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sábado, 16 de abril de 2016

MENSAGEM PASTORAL

O duplo movimento da Missão
“Assim como me enviaste ao mundo, eu os enviei ao mundo” (Jo 17.18)

A liderança da Igreja tem sempre em mente a preocupação em como trazer os que estão fora para dentro. Como incluir na comunidade aqueles que a ela ainda não pertençam e estão no mundo. Crescer é uma preocupação legítima, faz parte da vontade de Deus para a sua comunidade-família. Também é uma ordenança explícita do mandado missional dado aos discípulos. Esta preocupação em fazer a igreja crescer fazendo entrar nela os que estão do lado de fora acarreta outras demandas. Estruturas físicas de recepção, bem como estruturas ministeriais e comunionais de acomodação, acolhida, vivência, treinamento e formação. Muitos ministérios são criativamente criados e sempre há tentativa de oportunizar o maior número possível de espaços e oportunidades para que os novos encontrem o seu lugar, sintam-se bem, possam desenvolver os seus dons e crescer em comunhão com os seus irmãos. Essas estruturas funcionais geralmente exigem grande emprego de energia e recursos humanos e financeiros para a sua manutenção. O Pastor-mestre, bem como seus preciosos cooperadores, presbíteros, diáconos e demais líderes-servos procuram motivar pelo exemplo e com exortações a frequência regular e prazerosa dos membros em todos os trabalhos, encontros e atividades ‘interna corporis’ da comunidade de fé. Essa estrutura de espera, essa atitude quase passiva de uma igreja em estado de “animação suspensa” sempre pronta e capacitada para acolher os que vão sendo salvos, não faz plena justiça à natureza missional da Igreja. Devemos ter o mesmo entusiasmo para trazer de fora para dentro os que ouvem o Evangelho e se achegam à igreja quanto enviar os dentro para fora a fim de que muitos outros possam desfrutar das bênçãos do Reino. Logo, o segundo movimento é o de enviar para fora os que estão dentro. A Igreja peregrina, essa que caminha na história, não é um porto seguro, um lugar para se ficar. Não! A Igreja é um lugar de preparação. De dupla preparação. Estamos sendo preparados para a vida na eternidade com Deus e preparados para a vida entre os homens desse tempo em nome desse mesmo Deus. Então, precisamos criar, incentivar e estabelecer estruturas de saídas, de idas ao mundo. Assim como na igreja terrestre, o mundo também não é nossa pátria definitiva. O mundo é o local onde pomos em prática, testamos e vivemos o que aprendemos na igreja. Estamos de passagem por aqui e enquanto caminhamos para as moradas celestes, vamos aplicando ao longo do percurso, para a magnificência de Deus e a exaltação de Cristo, aquelas verdades que importam que os homens sejam salvos. E não é tudo, já devemos ir vivendo de modo antecipado as virtudes da ‘Nova Terra’ e dos ‘Novos Céus’ onde habitam a justiça, a verdade e a paz. A comunidade dos discípulos deve promover no mundo, em suas engrenagens sociais, em seus fóruns de discussões, o que aprendem na vida nova. Devemos nos esforçar como liderança para que os nossos irmãos gostem tanto de vir à igreja para adorar quanto ir ao mundo para servir. Assim, nesse mundo marcado pelo ódio, o distanciamento, a frieza e o indiferentismo entre as pessoas, devemos ensinar e testemunhar um novo tipo de relacionamento, marcado pelo amor, pela fraternidade, pelo serviço, pela promoção da vida.  Neste mundo que tanto valoriza a performance, o consumo, o sucesso pessoal e os bens, temos um importante caminho alternativo, um caminho de vida e libertação que valoriza a pessoa acima dessas coisas. Um caminho que ensina que mais que a performance o que está em jogo é dignidade e a honra. Mais do que o consumo é a solidariedade e a partilha que produzem uma sociedade mais feliz. Mais do que o sucesso pessoal é a capacidade de fazer a diferença transformando e libertando vidas. Quanto aos bens, entendemos que a propriedade particular é um direito e uma bênção, porém, o uso que fazemos deles é que se diferencia em qualidade e substância. Entendemos que os bens materiais, culturais e intelectuais são importantes vias de comunhão, de aproximação, de criação de oportunidades para a promoção da justiça e a diminuição do fosso de desigualdades aviltantes e desumanas. Pedro também teve a tentação de permanecer no monte da transfiguração: “Pedro disse a Jesus: ‘Mestre, é bom estarmos aqui. Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias’. (Ele não sabia o que estava dizendo)” (Lc 9.33). Estar é tão necessário quanto sair!
Reverendo Luiz Fernando é Ministro da Igreja Presbiteriana Central de Itapira 
e professor de Teologia Pastoral e Bioética no Seminário Presbiteriano do Sul
e de Filosofia da Faculdade Internacional de Teologia Reformada – Fitref.

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