Missionar, na primeira pessoa do
singular
“Para que se
conheça na terra o teu caminho e, em todas as nações, a tua salvação” (Sl
67.2).
A cada ano o mês de agosto traz consigo na Igreja
Presbiteriana do Brasil um tempo precioso de aprofundamento missionário. Claro
que o tema das missões nunca se ausenta, pelo menos não em definitivo, da
pregação, reflexão, estudo e oração da igreja. Temos uma “vozinha” em nossa
consciência que não nos deixa esquecer por completo de nossa razão histórica de
existir. Infelizmente, outras preocupações e tarefas da vida da comunidade,
outras demandas, nem sempre justificáveis, roubam a nossa atenção e boa parte
de nossas energias. Mas, o tema da missão, até por ser uma tarefa comissionada com validade
permanente e à essa altura, também inacabada, reclama sempre de nós uma atenção
e um compromisso sempre renovados. As missões não são uma opção dentre
as muitas coisas que uma igreja tem a fazer. Antes, é parte inerente de sua
natureza, finalidade e vocação. Ou somos uma comunidade em missão no mundo
ou não somos igreja em sentido algum. Todavia, antes de conjugarmos o
verbo missionar na primeira pessoa do plural, devemos conjugá-lo na primeira
pessoa do singular, isto é, ‘eu missiono’. E o que isso significa? Antes de
mais nada, significa maturidade cristã, significa um estágio avançado de
discipulado em amorosa obediência na plena compreensão do Evangelho. Para que
haja missões será necessário existirem missionários. Mas, ainda teimamos em
pensar que missionário é aquele irmão, que num ato heroico e às vezes
irresponsável, deixa para trás uma vida de razoável conforto e segurança, para
romanticamente aventurar-se em terras estranhas e países longínquos para
anunciar a Cristo aos pagãos. Excetuando-se o irresponsável, o heroico, a
aventura e o romântico, de fato, um tipo de missionário é aquele que é chamado
a viver, servir e anunciar em
um contexto muito diferente do seu, longe do lar, da pátria e dos irmãos da
igreja local. Mas, todo aquele que professa ser Jesus Cristo seu Salvador pessoal e
seu Senhor exclusivo, sendo um discípulo, é naturalmente um missionário.
Todos os que foram retirados do mundo por meio do Evangelho, vindo a Cristo
foram purificados, santificados, empoderados, comissionados e devolvidos ao
mundo. Agora, não mais como pertencentes ao mundo, mas como missionários do Rei
do Reino de Deus, como testemunhas e pregadores do Evangelho. Devido à natureza
cooperativa da igreja e a sua realização histórica, Deus mesmo estabeleceu
ofícios e ministérios de dedicação específica e às vezes exclusiva para a
estruturação, desenvolvimento e solidificação da igreja. Contudo, esses ofícios
e ministérios são especializações para o serviço e o progresso da vida de todos
os santos, que como disse acima, são comissionados para servir no mundo como
enviados do Senhor Jesus. Por tanto, as missões são possíveis, na
medida em que cada cristão de maneira responsável e consciente, assume a sua
parte pessoal e intransferível como cooperador com aquilo mesmo que Deus está
fazendo no mundo nesse exato momento. Para que isso aconteça, além é
claro, de uma vida devocional rica, com leitura assídua e proveitosa das
Escrituras, oração e meditação diárias e participação ativa na vida da igreja,
o cristão precisa ler jornais, revistas, acessar sites de jornalismo e tomar
conhecimento de informes missionários ao redor do mundo. Tudo começa com o
abastecimento da mente e do coração com a Palavra de Deus e a realidade histórica,
palco onde Deus está atuando nesse momento. Não há coisa alguma acontecendo no
mundo nesse momento que não seja do interesse do Cristão. Bernardo de Claraval
chegou mesmo a afirmar: “Os interesses de
Deus são os meus interesses”. Isso quer dizer que aquilo que acontece na
política, na economia, nas relações entre as nações, nos conflitos bélicos, nas
tragédias humanitárias, nas rotas migratórias mundiais e nas calamidades
decorrentes da natureza, tem sempre a ação graciosa, providente, sábia e amorosa
de Deus. Precisamos ter a lucidez espiritual necessária, bem como inteligência
para saber como responder a esses eventos que sempre são oportunidades para nos
comprometer em oração, serviço, doação, testemunho e anúncio. Desde a
Ascensão vivemos os “últimos dias” e a história está passando vertiginosamente
diante de nossos olhos. Missionar é preciso, assuma o seu posto, esteja alerta,
comprometa-se e participe no ‘agora de Deus’ no mundo. Eu missiono!
Rev.
Luiz Fernando
é Ministro da Palavra e dos Sacramentos na Igreja Presbiteriana
Central de Itapira.
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