O Pão
da Vida
“Pois o pão de Deus é aquele que desceu do
céu e dá vida ao mundo" (Jo 6.33).
“Então
Jesus declarou: "Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a mim nunca terá
fome; aquele que crê em mim nunca terá sede” (Jo 6.35).
O mundo vive esfaimado.
Todos temos fome. Mesmo os abastados, têm fome de algo, isto é, carecem de
alguma coisa que lhes dê sentido e profundidade à vida. Não foi à toa que Jesus
escolheu o pão, símbolo da necessidade mais básica do homem para identificar o
seu corpo e a sua presença entre nós. Este estado permanente de carência e
insatisfação que nos acomete a todos se manifesta de muitas formas. Os pobres
têm fome de pão e de justiça, os vulneráveis, fragilizados e excluídos têm fome
de dignidade, os enfermos de toda sorte têm fome pela vida. Todos os pecadores
têm fome de misericórdia e perdão. Ao declara-se pão, Jesus não só se declara
alimento, mas faz um gracioso convite para os homens. Ele nos convida para o
banquete da vida. Evidentemente que não existe banquete sem alimento,
entretanto o comer humano é algo muito diferente do alimentar-se de um animal.
Na verdade, o que dá sentido ao banquete são os comensais, as companhias dão
todo sabor ao comer juntos. Daqui surge a expressão ‘companheiro’ que
significa, comer juntos o pão. E é a isso mesmo que Jesus nos convida,
assentar-se à mesa com Ele para comermos juntos o alimento que Ele mesmo serve
ao dar-se à nós. Uma vez alimentados pelo ‘Pão Jesus’ em seu Evangelho e na tipificação
eucarística, encontramos a vida que tanto ansiamos, todavia, essa vida que
possuímos não nos pertence de todo, nós somos alimentados dela para nos tornar
alimento para os que ainda não a têm. O Senhor Jesus disse que desceu
do céu, como pão vivo, para dar vida ao mundo. Aqueles que por Ele e dele foram
alimentados, são seus companheiros e participam daquilo que Ele é e veio fazer,
pois foi ele mesmo quem disse aos seus discípulos quando confrontados pela
miséria dos homens: “Respondeu Jesus:
Eles não precisam ir. Deem-lhes vocês algo para comer" (Mt 14.16).
Assim, entendemos que a lógica do pão é a partilha, a solidariedade e a
comunhão. Os discípulos experimentaram e testemunharam a solidariedade que
Jesus teve quando manifestou compaixão pela multidão que era como ovelhas que
não têm pastor e não ficou indiferente aos seus sofrimentos. Já os primeiros
discípulos conheceram o estilo de vida comunitária que necessariamente surge
dos que comem do pão da vida: “Eles se
dedicavam ao ensino dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às orações. Todos estavam cheios de temor,
e muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos apóstolos. Todos os que criam mantinham-se unidos e
tinham tudo em comum. Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a
cada um conforme a sua necessidade. Todos os dias, continuavam a reunir-se
no pátio do templo. Partiam o pão em
suas casas, e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade de
coração, louvando a Deus e tendo a simpatia de todo o povo. E o Senhor
lhes acrescentava todos os dias os que iam sendo salvos” (At 2.42-47). Essa
“fotografia” da Igreja primitiva permanece o ideal da vida cristã para a igreja
de todos os tempos, ainda que a aplicação possa e deva ser diferente, os
princípios são imutáveis e irrenunciáveis. Os elementos centrais da ética e da
espiritualidade cristãs podem ser encontrados nesse texto, ensino, comunhão,
partir o pão, orações, solidariedade e compaixão comprometida, alegria, louvor
e sinceridade de coração. Podemos afirmar com toda tranquilidade que a
igreja de Jesus é a comunidade do pão e da Palavra. Comunidade da palavra que é
pão. Comunidade que se faz pão porque alimentada pela palavra. Palavra que
verdadeiramente alimenta porque o pão é Jesus. Assim, podemos
medir a estatura e a maturidade de uma comunidade de discípulos na medida em
que ela se compromete com as fomes ao seu redor. Quando os que a ela se achegam
encontram Jesus servido no sermão, Jesus convidando para o banquete no amor dos
discípulos, Jesus transformando vidas chamando para servir. Essa maturidade é
comprovada quando a comunidade percebe que a ‘sala de jantar’ ainda não está
repleta, que ainda há lugares à mesa, e ela sai pelos caminhos e encruzilhadas
da vida e ao encontrar mulheres, homens, crianças, drogados, mendigos,
prostitutas, homens de negócios, intelectuais, pobres e ricos, todos alienados
e experimentando o vazio existencial, os convida para o banquete da vida. E,
para lhes convencer de que o pão que está reservado para eles é incomparável em
sabor e nutrição, leva-lhes um ‘bocado’ de Cristo em forma de amor, respeito,
graça, misericórdia e serviço. Sem o pão que Deus nos dá em Jesus a
vida não faz sentido algum. Senhor, dá-nos sempre desse pão e teremos vida em
abundância!
Reverendo Luiz Fernando
é Ministro
da Palavra na Igreja Presbiteriana Central de Itapira
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