Domínio
Próprio
“Sede sóbrios;
vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão,
buscando a quem possa tragar” (1.Pe.
5.8).
“Mas o fruto do
Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio
próprio. Contra essas coisas não há lei. Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas
paixões e os seus desejos” (Gl 5. 22-24).
Muitos são os efeitos
da queda na natureza humana. Os efeitos noéticos são aqueles que dizem respeito
à nossa capacidade intelectual. Nossa inteligência ficou seriamente
comprometida. Nosso julgamento e nosso raciocínio estão condicionados pelo
pecado, de modo tal, que nem sempre discernimos com clareza e com base na
verdade e nem sempre julgamos retamente todas as coisas. No que diz respeito às verdades
transcendentais, sobre tudo essas, nunca temos acesso a elas desprovidos do
auxílio da graça. Quando interessados, à parte da influência do Espírito Santo,
fabricamos nossos ídolos, cultuamos a nossa própria vaidade e a nossa
sensualidade. Vale para os nossos desejos e apetites, o que dissemos de
nossa mente e de suas operações intelectuais. A nossa vontade e as nossas
inclinações também foram afetadas gravemente pela presença do pecado.
Arrastados pela cobiça do nosso coração, somos quase que controlados por nossos
apetites, de modo que se a nossa vontade não for modificada e submetida,
andaremos somente atrás de nossos deleites. Na verdade, não fazemos
muitas coisas contrariados. Não
seriamente contrariados. Mas, nos apressamos em correr, e suportamos até mesmo
alguns dissabores, para no fim tomarmos posse daquilo que nos dá gozo. Quando
não estamos sob a poderosa influência do Espírito Santo, agindo por meio de
nossa natureza regenerada, tudo o que fazemos é viver em contínua insatisfação.
E,
quanto mais damos à carne o que ela reclama e deseja, mais insatisfeitos
ficamos e quanto mais insatisfeitos, mais dados ao excesso. Essa
insatisfação pode ser comparada ao uso de substâncias proibidas. Temos a necessidade de aumentar a dose e
mesmo a potência, substituindo drogas mais ‘leves’ por substâncias mais
poderosas. ‘Mutatis mutandis’, a
verdade e a experiência são as mesmas. Além dos excessos, andamos á cata de
novas e mais prazerosas experiências. Não por nada vivemos numa sociedade de
ostentação vertiginosa, busca enlouquecida de prazeres sensoriais (nem mesmo a
religião escapa disso) e de vidas e relações fragmentadas e diluídas.
Poderíamos incluir aqui questões complexas de moralidade como o aborto, o
‘transgenismo’ e outras formas e práticas em nome da felicidade e do prazer que
tocam os excessos. Mas essa é uma discussão para outra hora. O cristão maduro,
que de fato nasceu de novo e tem o Espírito Santo e busca a orientação na
Palavra de Deus, aos poucos e sempre progressivamente, vai produzindo o fruto
desse Espírito em que o domínio próprio é parte do caráter que é formado no
discípulo que se configura a Cristo. O domínio próprio nada mais é do que a
sujeição da natureza carnal, da vontade, do desejo e do prazer à mente racional
curada pelo Espírito Santo e a vontade de Deus. O Cristão não se pergunta
apenas se pode ou não pode, mas também se deve fazer esta ou aquela escolha.
Ele deve assim proceder: Ir à Lei para ser restringido moralmente em sua ação.
Ir ao Evangelho para conduzir-se em sua ação recebendo orientação. Olhar para
Cristo e imitar o seu Senhor. Nos três casos, é sempre o Espírito quem ilumina,
conduz e empodera a vontade para agir em conformidade com o novo estado em que
esse homem regenerado se encontra. O domínio próprio nos leva a evitar todo e
qualquer excesso, inclusive os lícitos e aceitáveis. Qualquer coisa que possa
tirar do cristão a sobriedade é por si mesma estranha e pecaminosa. Excessos na
comida que enfermam o corpo, na bebida que roubam o discernimento, no trabalho
que escravizam, no lazer que tornam o homem e a mulher superficiais, na
religião que o fanatizam e em qualquer outra área são contrárias a vida em
Cristo. Mas, também precisamos de domínio próprio sobre o nosso temperamento,
devemos ter comedimento quanto à ira. Homens e mulheres de pavio curto não
fazem jus ao Mestre Jesus manso e humilde de coração. Precisamos de domínio
sobre a língua, devemos ser moderados no falar, usar linguagem sóbria e nunca sermos
detratores ou fofoqueiros. Precisamos de equilíbrio na mordomia de nossos bens,
tanto o pródigo quanto o avaro não vivem vidas que demonstrem confiança e
gratidão para com as provisões de seu Senhor. Uma vida de domínio próprio nos
ajudará a saborear e a viver cada aspecto da vida com mais sensibilidade,
prazer, contentamento e alegria. Domínio próprio é o outro nome da felicidade.
Reverendo Luiz Fernando
é Ministro da
Palavra na Igreja Presbiteriana Central de Itapira
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