Igreja Simples
“Pois todos vós
sois filhos de Deus, mediante a fé em Jesus Cristo”
(Gl 3.26).
Igreja Simples é um conceito e um movimento muito
presente no pensamento acadêmico e missiológico nos últimos tempos. Para tentar
compreender a contento o que o conceito abrange, precisamos antes pensar o que
é uma ‘Igreja Não Simples’. Uma ‘Igreja Não Simples’ começa a complicar-se pela
noção de liderança que ela desenvolve e pratica. Igrejas que são lideradas no
estilo gerencial de uma corporação financeira, uma empresa, onde o orçamento,
as planilhas e gráficos demonstrativos sobre a captação de recursos,
planejamentos estratégicos, ocupam o centro das discussões. É uma igreja que
vive mais como uma organização do que como um organismo. Essa igreja vive da
‘numerolatria’, isto é, tudo se explica por estatísticas, balancetes e metas
alcançadas. Claro que os recursos são desejáveis e bem-vindos. Óbvio
que organização e zelo andam de mãos dadas. Todavia, a administração deve ser
uma preocupação subordinada e não coordenadora da vida eclesial. Uma ‘Igreja
Não Simples’ organiza-se em termos de eventos. Sua agenda está carregada de
coisas para se fazer, muitas vezes em forma de entretenimento e socialização. A
grande preocupação é oferecer algo que faça valer à pena as pessoas
permanecerem arroladas naquela comunidade. Assim, jantares, encontros, passeios,
atrações da subcultura cristã de gosto duvidoso e etc., são concebidos para dar
‘vida’ à comunidade. Esse tipo de concepção de igreja valoriza imensamente o
ativismo e o pragmatismo. O importante é ter uma agenda cheia. Uma
‘Igreja Não Simples’ é uma igreja autocentrada, ela sente a imensa necessidade
de satisfazer os seus membros, suas programações sempre oferecem alguma
vantagem para a fidelização do cliente. Assim, há sempre uma supervalorização
das sociedades internas e até mesmo o ensino
formal é pensado em categorias subjetivas: o que os alunos querem aprender ou
que assunto eles demostram maior interesse. Por último, apenas para não estender o assunto, uma
‘Igreja Não Simples’, usa expedientes e medidas diferentes das Escrituras na
hora de escolher os seus líderes. Posição social, influência familiar, situação
financeira, formação acadêmica e outros são mais valorizados que os requisitos
bíblicos indispensáveis. Então, o que seria uma Igreja Simples? A
liderança da igreja se entende como servidora. Esta liderança se coloca a
serviço da comunidade para buscar o cuidado e o bem de seus irmãos. A Igreja é
pensada em termos de corpo, comunidade-comunhão, de cuidado, bem-estar e
desenvolvimento humano e espiritual das pessoas. As relações com o
orçamento são vividas em categorias de mordomia, generosidade, sacrifício
espiritual e diaconia. A Igreja Simples gasta o mínimo necessário com templos,
salas, reformas, aquisições de móveis e imóveis. Procura funcionalidade, ainda
que não abra mão da reverência. Seu maior investimento e todo o seu orçamento é
dirigido para que haja na comunidade pregação, treinamento e ensino de
excelência. O que significa dizer, contratar pastores proficientes, investir em
formação e qualificação dos obreiros em geral, contribuir para as missões com
consistência e regularidade. Uma igreja Simples, usará a maior parte dos
seus recursos para abençoar os que estão do lado de fora de seus muros.
Outra característica da Igreja Simples é a vivência do essencial do Evangelho
como estilo de vida, isto é, fazer discípulos. O centro da Grande Comissão e o
resultado prático da ressurreição é o nascimento de uma comunidade de
discípulos-discipuladores. Esta é a tarefa dada por Jesus antes de Ascender aos
céus. Desde logo, compreendemos que Uma Igreja Simples é centrada no Evangelho,
tudo é pensado para que o Evangelho seja pregado, ensinado, vivido e
testemunhado. Na Igreja Simples sobra tempo
para que os membros possam ter vida relacional e social fora do reduto cristão
a fim de que o Evangelho possa ser difundido. A agenda da Igreja
Simples é de tal maneira organizada, que os crentes tenham tempo em quantidade
e qualidade para viver o Evangelho na família, testemunhar para os amigos,
ensinar para os interessados e dar provas e sinais de sua nova vida junto aos
seus colegas no trabalho ou na Universidade. Ela se vê menos reunida e mais em
missão. Para concluir essa breve reflexão, as lideranças da Igreja Simples
são escolhidas dentre aqueles que demonstram maior maturidade no discipulado.
Suas qualificações podem ser um ‘plus’, porém, não a causa de sua investidura.
Aquelas qualificações do Novo Testamento são tão suficientes quanto
indispensáveis. Sonhemos todos com um Evangelho Simples para sermos
Simplesmente Igreja dos discípulos de Jesus Cristo.
Reverendo Luiz Fernando
é Ministro da Palavra na Igreja Presbiteriana Central de Itapira
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