Com Cristo à Cruz
“E aconteceu que, completando-se os dias para
a sua assunção, manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém” (Lucas 9.51).
Com o domingo de Ramos damos
início às celebrações da Páscoa de Jesus Cristo. É o início da semana das dores,
da paixão do Redentor, da semana santa. Muitas são as lições a serem aprendidas
nesses dias de grande significância para o cristianismo. Não se trata de
repetir gestos, palavras e circunstâncias de maneira teatral quase patética,
como se conseguíssemos mesmo reproduzir, ainda que psicologicamente, toda a
carga emocional daqueles dias. Há muito mais que isso nas celebrações que
envolvem esses dias. Com o domingo de Ramos os Evangelhos nos trazem a
narrativa da última semana de vida e de ministério terrenos do Senhor Jesus. Os
últimos sermões, a última viagem à cidade de Jerusalém, a última visita ao
Templo e ainda a despedida emocionante de seus amigos e discípulos. Na Entrada
triunfal de Jesus em Jerusalém, cujo evangelho é sempre o tema do sermão, somos
convidados a repensar a nossa caminhada como comunidade de discípulos em missão
no mundo. A Igreja do século XXI caminha perigosamente do centro da mensagem do
Evangelho para a periferia de uma religião superficial, inconsistente, centrada
no homem, que cultua o prazer e as riquezas, desprezando a mensagem do Cruz.
Precisamos nos tornar uma Igreja crucificada, isto é, uma igreja que busca os
essenciais do Evangelho numa vida de amor generoso, de desapego de cargo,
títulos e poder. Uma igreja crucificada é aquela que escolhe o serviço
aos pequenos, pobres e injustiçados. A cruz
nos impede de viver autocentrados numa agenda própria fazendo só o que
gostamos, quando gostamos e com quem gostamos. Quando olhamos para Jesus
entrando em Jerusalém aprendemos que Ele não ignorava o que o esperava lá.
Subiu para a cidade santa com a decisão de entregar a sua vida em resgate dos
pecadores. Entrou entre o alarido da multidão sem se deixar deslumbrar com os
hosanas de um povo em festa, tendo os olhos fixos em fazer a vontade de seu Pai
sem se desviar da cruz que o esperava. A igreja no Brasil caiu no conto dos números e das estatísticas
e foi tomada por um espírito de ufanismo e triunfalismo exatamente porque se
deixou bajular e encantar por esta cultura perniciosa que torna o Evangelho
atrativo, agradável, na moda, mas sem o poder de Deus e as suas inerentes
exigências de santidade e justiça. Isso aconteceu porque a Igreja se esqueceu
de sua missão quando desviou o seu olhar da cruz, quando passou a ignorar que
sua missão é morrer, é dar a vida, é
deixar-se crucificar com Jesus para que outros tenham a vida. A
semana da Paixão pode ser uma grande ocasião para retornarmos ao bom caminho do
calvário. Teremos a oportunidade de ler as Escrituras, quer dos tipos
do Antigo Testamento que apontam para o cordeiro pascal, quer do Novo
Testamento que nos revelam o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, tendo
Jesus Cristo como a mensagem mesma das Escrituras. Leremos as Escrituras à sombra da
cruz vazia, à beira do túmulo vazio, porém, aos pés do Trono ocupado por aquele
que esteve morto e ressuscitou para a nossa alegria. Aproveitemos estes
dias de celebração, piedade e estudos bíblicos para corrigir a nossa caminhada
como igreja. Voltemos todos da periferia da religião e de um culto formalizado
e ensimesmado para uma adoração que nos convoque e envie em missão. Façamos
juntos o voto de subir com Jesus a Jerusalém e com Ele e n’Ele entregar também
a nossa vida em obediência ao Pai e em missão para que o Evangelho da paz
transforme a estrutura dos corações, a fim de que a engrenagem deste mundo
caído também seja modificada pela presença transformadora do Reino de Deus
entre nós. Deixemo-nos como Igreja crucificar com Cristo para com Ele termos
vida para doar em abundância a esse mundo de sofrimentos. Rumemos juntos à
Jerusalém!
Reverendo Luiz Fernando
Ministro da Igreja Presbiteriana
do Brasil em Itapira
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