Diga não à festa:
Semper Reformanda!
“Meu Pai continua trabalhando até
hoje, e eu também estou trabalhando” (Jo 5.17)
Existem maneiras de se comemorar a data da Reforma Protestante
negando-lhe o valor e a relevância para os dias e a Igreja de hoje. Basta
que intentemos falar da Reforma apenas como um evento histórico do século XVI,
fazendo apenas um exercício de memória em ler os registros daquela época ou teses
e ensaios sobre as novas descobertas do contexto e das vidas privadas e
públicas dos reformadores. Ainda sempre corremos o risco de que,
levados por ufania, por empáfia e mesmo arrogância espiritual cairmos no erro
grosseiro da idolatria, de superestimarmos Lutero, Calvino, Knox como nossos
“Santos Protestantes” que merecem um lugar em um nicho ou altar. Mas, o
efeito mais nefasto mesmo tem sido considerar a Reforma como um evento acabado.
Considerar a Reforma da Igreja como concluída já nos dias dos reformadores e
que para nós sobraram apenas os privilégios de uma bendita herança e a
responsabilidade de administrar bem as conquistas do século XVI. Por isso,
convido todos os cristãos reformados ou herdeiros diretos: Luteranos,
Presbiterianos, Reformados, Batistas Reformados, Metodistas, Anglicanos,
Congregacionais e também os beneficiários e herdeiros indiretos, mas igualmente
devedores da Reforma: Assembleianos e Pentecostais tradicionais em geral,
Igrejas do movimento holiness: Exército da Salvação e Nazareno, por exemplo, e
por fim as comunidades e igrejas neopentecostais e igrejas independentes que
digam NÃO À FESTA! Devemos comemorar sim. Devemos agradecer sim. Devemos
aprender e fazer memória do passado sim. Mas não podemos pensar em Reforma em termos
de ontem. A Reforma é uma necessidade hoje, do agora de nossas vidas e Igrejas. Não uma nova
Reforma como muitos advogam. Mas, continuar aquilo que nunca poderia ter
parado, continuar na dinâmica do “Semper Reformanda”, pois a influência do
pecado em nossa natureza, ainda que regenerada, nos leva ao longo de nossa
experiência histórica como Igreja, a infelizmente nos afastarmos das fontes
puras e cristalinas do Evangelho para o retorno àquelas práticas abominadas
pelos Reformadores. As indulgências estão aí novamente. E não é
privilégio da Igreja Romana, não! Aliás, para nossa vergonha e honestamente
falando, as indulgências estão mais presentes em nossos arraiais: Fogueiras Santas, Portas da bênção,
Sabonetes ungidos, Águas e lenços abençoados, Suor santo, “Lugares altos” e
orações nos montes, dias especiais para a prática de “descarrego” e promessas
de libertação e cura mediante “investimento” financeiro no mundo espiritual
e por aí vai. Sem falar na superexposição midiática de líderes carismáticos e
operadores de milagres que arrastam multidões, muito similar a um culto à
personalidade de outras religiões, em congressos cada vez mais sofisticados até
com efeitos especiais que dificultam o discernimento de onde começa o milagre e
onde termina o tal efeito...Cada vez mais a exposição Bíblica,
sistemática, clara, e com exigências éticas com elevados padrões confrontando o
pecado pessoal e comunitário é cada vez menos encontrado em muitos púlpitos.
O que não poucas vezes encontramos é uma preleção de autoajuda transvestida em
linguagem religiosa e piedosa. Na verdade, o homem e as suas demandas estão no
centro da pregação e não Deus, sua glória, seu poder, sua vontade e seu plano
de redenção. Por causa deste nosso coração desesperadamente corrupto, desta
nossa irrefreável tendência de construirmos bezerros de ouro é que precisamos
viver em estado permanente de Reforma. Não significa que a Igreja evangélica
deva ser uma metamorfose ambulante, sob a égide e a insígnia do relativismo e
do pluralismo, absolutamente. Não significa ainda ficar buscando na cultura
contemporânea uma maneira de nos fazer relevantes e chamar a atenção do homem e
da mulher que estão por aí. A Reforma que impele a Igreja em triunfo para o
futuro, para a consumação da história, é uma volta às origens e não o exercício
e a prática de novidades pura e simplesmente. Mas, a Reforma verdadeira não é
aquela de retornarmos ao século 16 e importar a prática e o costume daquela
sociedade e daquela Igreja. Não se trata de fazer da Reforma um “Parque dos
Dinossauros”. Antes, é voltarmos ao Evangelho puro e simples. Ao Evangelho da
Graça, do poder de Deus para a Salvação de todo aquele que crer. A Nossa
Reforma de cada dia implica em nos comprometermos com as Escrituras, nos deixar
orientar por ela e a partir dela adorar a Deus e servir os homens à “moda
d’Ele” neste tempo que é nosso.
Rev. Luiz Fernando Pastor Protestante da Igreja Presbiteriana
Central de Itapira
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