Vida Cruciforme
“Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo.” (Gl 6.14 ARA).
A mensagem da cruz permanece um escândalo para o homem. Nos inícios do cristianismo este escândalo era fortemente encontrado entre os judeus e os gregos como atesta Paulo em sua primeira carta aos Coríntios, capítulo 1. 18ss. O drama deste escândalo subsiste hoje desgraçadamente nos círculos evangélicos e na espiritualidade de muitos que se dizem cristãos. A linguagem da cruz e a sua mensagem parecem não encontrar ressonâncias nos corações, parece ser uma falta de propósito mencionar a cruz nos sermões e nos estudos. A cultura e a sociedade de consumo encontraram guarida no coração vaidoso e depravado do homem, produzindo assim um estilo de vida narcisista, aburguesado, fútil e hedonista. A teologia da prosperidade é uma reação quase que mercadológica, é uma resposta à demanda de um público cada vez mais desesperado por conforto, prazer e facilidade também em contexto religioso. O ascetismo exacerbado dos monges com suas penitências desumanas e impotentes frente ao pecado radicado no coração do homem cederam lugar a uma espiritualidade de entretenimento, dispersiva e profundamente sensual, cujo fim é propiciar prazer aos “adoradores.” Esta espiritualidade é encontrada facilmente em muitos ambientes evangélicos onde palavras como sacrifícios, abstinência, jejum, emenda de vida, contrição e confissão, amor aos inimigos, ódio ao pecado, sobriedade, pureza de coração, simplicidade, humildade e etc. ou estão em extinção ou são usadas fora de seu contexto radical. Os motes do momento são: vida vitoriosa, vida de sucesso, prosperidade, não aceitação das enfermidades e dos sofrimentos, declaração da bênção, reivindicação de meus direitos de filho do Rei, é o famoso Evangelho vida mansa, ou o evangelho das organizações Tabajara: “Seus problemas se acabaram...” A proposta do Evangelho de Jesus é outra, radicalmente diferente. A cruz, a sua verdade e a sua mensagem precisam ser integradas em nossa vida. Não há Evangelho sem Cruz, nem Cristo e nem Cristão que não sejam crucificados. A cruz é o antídoto contra um arremedo de cristianismo, contra uma maquiagem de discipulado. Não que devamos produzir os nossos próprios sofrimentos, ou correr atrás dos dissabores da vida ou daquilo que provoca dor. Nada disso! Uma vida crucificada, ou cruciforme, é aquela em que se leva á sério tanto as promessas quantos as advertências do Evangelho. É aquela que busca tanto a santificação e a bênção, quanto a fuga do mal, a aparência e a proximidade com a sua real e nefasta influência. Uma vida crucificada é uma vida que resiste á mundanização e a secularização dos costumes, da ética e da moral (1Co 15.33). Esta resistência não tem nada a ver com uma separação social, física do mundo, uma segregação radical como a dos Amish nos Estados Unidos. Antes, uma separação moral, aprender a relativizar as muitas seduções e propostas de felicidade do mundo comparando-as com as propostas do Reino, sua justiça e as suas promessas em Cristo. Uma vida crucificada é aquela em que o Senhor Jesus exerce com liberdade total o senhorio sobre todas as áreas da vida, nos afetos, nas emoções, nas relações interpessoais, nos projetos de vida, na relação com o dinheiro e assim por diante. Qualquer coisa que domine sobre a nossa vontade e nos vença pela persuasão dos apetites indica exatamente que aquela área de nossa existência ainda está viva para o mundo e morta para Deus. Uma vida cruciforme vai dia após dia, num processo contínuo, irreversível e cada vez mais profundo configurando a nossa existência com os resultados da cruz, vai sufocando e matando o velho homem com sua rebeldia, mentiras e transgressões e vai formando em nós um Novo Homem, criado segundo Deus, na justiça e na santidade da verdade. Deixe-se crucificar com Cristo!
Rev. Luiz Fernando,
Pastor Mestre da IPCI
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