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sábado, 8 de outubro de 2016

MENSAGEM PASTORAL

Rumo aos 500 anos
“Cuidado para que ninguém vos venha enredar com sua vã filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo” (Cl 2.8).

Comemoramos nesse mês de outubro os 499 anos da Reforma Luterana, movimento que deu início à Reforma da Igreja, desde Wittemberg para todo o continente europeu. São quase infinitas as possiblidades de abordagem e exploração deste tema. Da política, passando pelas artes, filosofia, ciências, economia, antropologia, religião, não houve área da vida humana que não fosse tocada pelas consequências nascidas da redescoberta das Escrituras. Da reforma do culto segundo a Palavra surgiu uma nova compreensão sobre o homem e sua existência. Talvez tudo tenha começado por um fenômeno que ficou conhecido entre os eruditos por ‘desmagiamento’ da realidade. Na idade média, como a Teologia, a Igreja e a Religião consistiam no centro da vida do homem, mas uma Teologia sem a Bíblia, uma Igreja carcomida pela corrupção e pela sede de poder e uma Religião sem entendimento, produziam uma cosmovisão supersticiosa e escravizante. Tudo era entendido em termos de maldição, pecado, demônios e aquilo que não podia ser explicado era reputado como uma realidade sobrenatural, geralmente de mau agouro. Assim, toda a vida era passada em temores, medos infundados e desarrazoados. O casamento era considerado um pecado consentido. A mendicância e a pobreza indignas, uma questão de vocação e penalidade, bem como o trabalho braçal uma punição, uma maldição. A riqueza e a nobreza um direito divino que legitimava o autoritarismo e as muitas desumanas arbitrariedades dentro e fora da Igreja. O Papa, os bispos e padres eram tomados por seres quase angélicos, divinos, e que estavam acima de qualquer questionamento. A santidade só era possível a esses, aos monges, freiras e um ou outro excêntrico. Todos os demais estavam entregues a uma espécie de loteria ou esperavam ser sorteados num tipo de consórcio para a vida eterna. Os mais abastados e alguns desesperados tentavam comprar o céu mediante as indulgências. Claro, o poderoso e inescrupuloso clero da época associado a outros poderosos preocupados com o seu ‘status quo’, lucravam muito com essa ignorância e esse estado mágico das coisas. A Reforma não tirou a Teologia, a Igreja e a religião do centro da vida das pessoas, não. O que a Reforma fez foi dar a inteligência da fé pelo conhecimento das Escrituras, a fim de que o homem pudesse ter uma compreensão moldada pelas verdades da Palavra. Isto é, fez ver ao homem qual era o plano original de Deus deturpado e degenerado por mentes e corações vazios de Deus e de seu conhecimento. Com a retomada do estudo e da pregação das Escrituras, a Teologia, a Igreja e a Religião foram se purificando e voltando às suas raízes. Como consequência inevitável o casamento, por exemplo, deixou de ser visto como um mal menor, um pecado consentido, mas foi assumido como uma bênção paradisíaca a que todos tinham o direito de desfrutar para serem felizes. A pobreza e a mendicância deixaram de ser uma vocação e um infortúnio fatalista e passaram a ser tratados como uma questão de justiça social, política pública e dever da igreja e dos abastados em socorrer. O trabalho, interpretado como maldição, como peso, foi reconhecido como um meio para a realização da sublime vocação à santidade e o meio próprio e legítimo de proteção social, justiça e promoção da vida. O clero passou a ser visto como a vocação especial de alguns homens comuns, pecadores redimidos, que eram reconhecidos, aceitos e autorizados pelos próprios cristãos, para que na autoridade de Deus e por delegação dos fiéis, comissionados e encarregados do pastorado. Homens cuja a autoridade não vinha de um posto, cargo, título ou comenda, mas da humilde e nobre fidelidade ás Escrituras no serviço aos irmãos.  Os “super crentes”, os excêntricos, os monges e as freiras, logo perderam sua áurea e passaram a destoar da paisagem. Também uma nova visão política aos poucos foi surgindo. O jugo de Roma quanto a religião também desprendeu-se dos reis, príncipes e governantes que aderiram à Reforma. Muitas cidades-Estados, bem como territórios aderiram à um sistema político, que pode ser entendido, como a semente da democracia moderna. Um sistema em que o povo se fazia representar por pessoas ilustres e ao mesmo tempo, podia escolher sob quais leis queria viver. A história comprova que uma sociedade que reputa à Teologia, a Igreja e a Religião uma total e completa irrelevância, a ponto de bani-la, como o fizeram os Estados totalitários, falham tanto quanto àqueles que desejam uma teocracia que não se deixa moldar e oxigenar pelas Escrituras. Da Reforma aprendemos que qualquer um que queira sujeitar os homens a si usando a Teologia, a Igreja ou a Religião, peca contra Deus e torna esses mesmos entes desnecessários e perigosos até. A Reforma desejou devolver ao homem uma consciência iluminada e ataviada apenas em Deus, para que cada um, depois de conhecer a verdade, escolhesse de que maneira viveria melhor a sua liberdade e sua história em face do mundo.

Reverendo Luiz Fernando 
Ministro Reformado da Igreja Presbiteriana Central de Itapira

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