Perdão
“Deus em Cristo estava reconciliando consigo
o mundo, não imputando os pecados dos homens, e nos confiou a mensagem da
reconciliação” (2 Co 5.19).
O mundo não é um lugar seguro. Desde a Queda de Adão e
Eva, o mundo só fez crescer e abundar em atos de maldade, injustiça e
violência. Não fosse a ação graciosa de Deus por meio de seu Espírito na graça
comum derramada sobre a humanidade, seguramente há muito nos teríamos
exterminado como raça e espécie sobre a face da terra. Não somos capazes de
fazer todo o mal possível, porque Deus restringe a força do mal presente no
mundo, quer em nossos corações, quer nos limites impostos a Satanás, quer no
governo que exerce sobre a natureza, mesmo que ela esteja sob as condições de
ambivalência e maldição oriundos do pecado das origens. O Senhor exerce esta graça restringente sobre
os homens de muitas maneiras, pela ação subjetiva nas mentes e nos corações,
nos quais as suas leis estão inscritas, a isto se dá o nome de consciência e
escrúpulo. Mas também, na proclamação pública, positiva e objetiva de suas Leis
no decálogo e de toda a moralidade e ética que dele se desenvolve ou inferimos.
E o Evangelho com suas promessas e ameaças também cumpre graciosamente este
mister. Todavia, é pela pregação do Evangelho e pelo Senhorio de Cristo que o
homem encontra paz com Deus e paz com o seu semelhante. É por meio da Igreja e
dela somente que o ministério da Reconciliação em Cristo está operando no mundo
chamando a todos para receber perdão, misericórdia e graça. Inevitavelmente, o
homem regenerado por Cristo e incorporado na Igreja, também será usado por Deus
como um eficiente instrumento para restringir a maldade que campeia no mundo. E
como ele o faz? Primeiro e sobretudo por sua comunhão com Cristo que o
aperfeiçoa e sobretudo por sua comunhão com
Cristo que o aperfeiçoa em seu caráter de maneira progressiva e constante,
melhorando assim todos os aspectos espirituais, morais, psicológicos e sociais.
Em segundo lugar porque agora é seu dever testemunhar com palavras e ações esse
seu novo ‘status’ diante de Deus como filho e portador da bênção. Como agente
do Reino deve comprometer-se com a sua justiça inserindo-se nas mais variadas
oportunidades de serviço comunitário, socorro dos vulneráveis, promoção da
dignidade, da cidadania e etc. Mas, é no entendimento do que ocorreu em seu
coração que está a chave para uma vida que cause impacto e transformação na
sociedade. Quando o cristão aprofunda a consciência do que o perdão ofertado
gratuitamente e eficazmente aplicado por Cristo em sua alma é que ele é capaz
de servir como instrumento que refreia a ação da maldade em seu contexto. O
cristão é alguém que é devedor ao perdão e por isso não pode jamais recusar
oferecer, pedir ou propor o perdão. O perdão é a única força capaz de demover
os corações da vingança, de fazer justiça com as próprias mãos, de prolongar
inimizades doentias. Onde há o perdão há segurança, vida, liberdade e paz. O
perdão cura a alma tornando-a generosa. O perdão tira as trevas da mente e
devolve a sensatez e o equilíbrio. Só o perdão nos permite viver com
autenticidade, tendo sentimentos e emoções saudáveis e sinceridade nos
julgamentos e opiniões que porventura emitimos. O mundo está carente de perdão.
Estamos todos armados uns contra os outros, ressentidos uns com os outros e por
isso nos sentimos seguros quando afastamos os outros pelo não perdão. Nossas
famílias andam esfaceladas, desintegradas e doentias por falta de perdão.
Sobram acusações, abundam as desconfianças e não faltam corações frios e duros.
As igrejas andam também farisaicas, ‘policialiescas’ e muitos ‘irmãos’ doídos e
melindrados preferem ou excluírem-se ou evitar encontros e ocasiões de
confronto. O mundo, nossas famílias e a Igreja carecem desesperadamente de
perdão. Do perdão de Deus dado pelo Espírito, claro, mas também do perdão dos
homens aos seus semelhantes, derramado pelo mesmo Espírito de formas distintas.
Que o perdão deixe de ser um vocábulo de muitos sentidos para se tornar entre
nós uma única experiência de salvação, vida e paz para todos. Deus que nos
perdoou em Cristo nos ensine a perdoar e a pedir perdão sempre e em todas as
ocasiões e contextos.
Reverendo
Luiz Fernando é Ministro da Igreja Presbiteriana Central de Itapira,
professor
de Teologia Pastoral e Bioética no Seminário Presbiteriano do Sul e
de
Filosofia na Faculdade Internacional de Teologia Reformada – Fitref e
de
História das Missões no Perspectivas Brasil
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