Mantenha o foco
“Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus” (Hb 12.1,2).
Manter o foco é uma expressão corriqueira tanto entre
fotógrafos quanto cinegrafistas, cineastas e ultimamente até jogadores de
futebol falam em manter o foco para a próxima partida, decisão e temporada.
Todavia, o Apóstolo Paulo também falou algo muito parecido em sua segunda
epístola ao jovem pastor Timóteo. Paulo já sabia do resultado do seu julgamento
em Roma, teria alguns poucos dias de vida e já não cabia nenhum outro recurso
ou instância para apelação. Seguramente ele se recordava dos inícios de sua
carreira cristã e da revelação feita ao irmão Ananias sobre o quanto deveria
sofrer por causa do Nome de Cristo. Todavia, o que angustiava o espírito do
veterano apóstolo, mais que a sua condição de encarcerado e condenado em Roma,
era a situação pela qual passava a Igreja de Éfeso. Perseguições externas,
inimigos do Evangelho e toda sorte de detratores conspiravam contra a segurança
e o progresso da comunidade. Internamente a igreja estava convulsionada e a
ausência de Paulo e a liderança de Timóteo parece ter mexido com a ambição de
alguns. Timóteo, jovem pastor, que possuía excelentes qualidades espirituais
passava por um momento de depressão, inconstância, temor, covardia e estava
perdendo o foco da sua vocação e ministério. Em meio a todas as
adversidades que lhe sobrevinham, Timóteo parecia não só desesperançado, mas
muito perdido e sem saber para onde correr, o que acudir e perdeu o foco das
prioridades e das coisas mais essenciais da vida cristã. Paulo dá um choque de realidade em Timóteo
lembrando-o do próprio enredo de sua vida apostólica, esquecido, abandonado,
traído, aprisionado e finalmente condenado à morte. Todavia, Paulo parece gritar finalmente
condenado à morte. Todavia, Paulo parece gritar aos ouvidos de Timóteo, mas eu
não perdi o foco, corri a minha carreira, combati o bom combate, guardei a fé,
perseverei, mantive a tocha acesa e estou prestes a cruzar a linha de chegada. O que nos faz manter o foco em nossa carreira cristã
outra coisa não é que além da fé e do amor que devemos ao nosso amantíssimo
Senhor Jesus Cristo, é também a consciência de quão nobre é a causa com a
qual estamos envolvidos e sob que bandeira militamos, a saber, o
Evangelho da Salvação e da Graça. É a paixão por guardar intacta a fé, por
guardar e transmitir o bom depósito da Palavra de Deus às gerações futuras que
deve mover-nos em nossa caminhada cristã. Isso significa que não estamos apenas
preocupados com as coisas que fazemos hoje ou que fizemos no passado em nome da
fé, exige antes, que devemos nos preocupar com a nossa condição, situação
espiritual, quando a nossa hora de prestar contas chegar. Paulo lembra a
Timóteo que sabendo estar ás portas da morte tem a sua consciência tranquila e
o seu coração pacificado, pode oferecer-se sobre o altar como sacrifício e
libação porque fez exatamente o que lhe foi pedido. Paulo recorda a Timóteo de
que lhe foi proposta uma corrida, uma competição de superação de desafios
interiores e exteriores e não uma vida de laser e devaneios. Não à toa em outros
contextos o apóstolo fala em termos olímpicos e militares. Ora, tanto atletas
que desejam alto rendimento, como militares que lutam por sua pátria, por seu
rei e por suas vidas, não são pessoas que andam tomando ou deixando de tomar
decisões ao sabor dos acontecimentos. São pessoas focadas naquilo que
perseguem. Se preparam para vencer obstáculos, esperam pelo perigo e sabem como
se defender e quando atacar o inimigo. A igreja contemporânea parece estar perdendo
o foco, anda distraída com a ‘marcha para Jesus’, show gospel, a produção de
uma subcultura ou pseudocultura cristã, a expansão de impérios denominacionais
ou a preservação de privilégios concedidos pelo poder público ou a obtenção
deles, como no ridículo caso dos passaportes diplomáticos que vimos nesses
dias. Nosso foco deve ser o de batalhar pela fé evangélica que uma vez
por todas foi entregue aos santos (Jd 3). Não sabemos e nem temos como nos
responsabilizar pela geração futura, pelo que hão de fazer os que nos
sucederão. Mas, é nossa responsabilidade fazer de tudo ao nosso alcance para
entregar-lhes uma igreja santa, fiel, rica e zelosa em boas obras, comprometida
com a justiça do Reino e etc. É nosso dever oferecer-nos todos os dias no altar
do sacrifício para que o Evangelho de Deus chegue intacto aos corações e às
vidas para quem somos enviados como igreja. Não sei ao certo como
Timóteo terminou a sua carreira ministerial, contudo, as preocupações de Paulo
com a perda do foco eram muito razoáveis. Nos dias em que o Apocalipse foi
escrito, justamente a Igreja de Éfeso sofreu uma dura repreensão de Jesus (Ap
2. 1-5) e uma clamorosa exortação para retomar o foco perdido. Que Deus nos
ajude e que nós mesmo desejemos nunca desviar os olhos dos essenciais de nossa
fé e missão.
Reverendo
Luiz Fernando é
Ministro do Evangelho na Igreja Presbiteriana do Brasil em Itapira
Ministro do Evangelho na Igreja Presbiteriana do Brasil em Itapira
Nenhum comentário:
Postar um comentário