Restaura a nossa terra
“O nosso socorro está no nome do Senhor,
que fez o céu e a terra” (Sl 124:8).
Testemunhamos dias difíceis em nossa pátria. Há
insegurança de toda sorte e as nossas instituições não conseguem responder à
altura dos acontecimentos. A simples troca de personagens e partidos não mudou
e nem melhorou em coisa alguma a nossa situação. Há um caos político, um vácuo
de autoridade, legitimidade e liderança, penso, nunca visto antes em nosso
país. Por causa disso não faltam os oportunistas de última hora, bem como
aquelas verdadeiras aves de rapina que só aguardam o momento de abocanhar o seu
naco de carne pútrida dos restos de um Estado praticamente falido. Causa ainda
maior perplexidade que em muitos contextos membros de igrejas e até denominações
possam fazer parte dessa tragédia e não como vítimas e sim como agentes de
corrupção ativa e passiva. Existem Denominações sendo investigadas por supostas
lavagem de dinheiro em forma de dízimos e ofertas, isso seria assustador e
causaria profunda desorientação para todos os cristãos, se a Bíblia não nos
revelasse a capacidade do nosso coração depravado em produzir enganos,
mentiras, roubos, violências e corrupções. A Bíblia não esconde os pecados de
seus grandes líderes. Noé, Abraão, Jacó, Sansão, Davi e outros tiveram as suas
misérias expostas quando da narrativa de suas vidas nas páginas das Escrituras.
Todavia, a mesma Bíblia nos ensina como Deus lidou com o pecado desses homens,
como Ele puniu duramente a desobediência e a vileza desses corações e como Ele
mesmo curou e restaurou esses heróis da nossa fé. Deus nunca trata o culpado
como inocente, nunca é leniente com o pecador ou relativiza o mal. Antes, Ele o
enfrenta, confronta, admoesta, pune e depois os restaura. O Senhor também não
faz coisa alguma para evitar as consequências reais e históricas do pecado,
mesmo depois de ter perdoado o pecador arrependido. Evidentemente que as
Escrituras entre outras coisas, não escondem as misérias de suas personagens,
exatamente para revelar a excelsa santidade do Senhor, sua justiça
perfeitíssima, seu
amor restaurador e seu poder invencível e indefectível sobre o mal. Não há mal
incontornável ou por demais poderoso que Deus não possa ou não queira
vencê-lo. Todavia, o mal instalado no
Brasil é exatamente uma consequência direta do banimento de Deus, sua Lei e seu
Evangelho do contexto público. A tese jurídica, filosófica e política geral é a
de que as relações de uma pessoa com Deus são de caráter iminentemente pessoal
e privado não devendo assim influenciar a vida comum. Esse banimento passa
também por uma Teologia deficiente, tacanha e não Bíblica presente em muitos
púlpitos que atente por vários nomes, entre eles ‘Confissão Positiva’ e
‘Evangelho da Prosperidade’. Essa Teologia é na verdade um ‘magiamento’ da fé,
uma expressão do que é proibido exatamente do décimo Mandamento da Lei, é uma
questão de cobiça. Aliás, o apóstolo Tiago já havia detectado esse tipo de
relação com Deus em seus dias: “De onde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura
não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam?
Cobiçais, e nada tendes; matais, e sois
invejosos, e nada podeis alcançar; combateis e guerreais, e nada tendes, porque
não pedis. Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos
deleites. Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é
inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo
constitui-se inimigo de Deus” (Tg 4.1-4). O censo diz que nós evangélicos somos já
quase 40% da sociedade brasileira e parece que o pretendido resultado de uma
sociedade mais eticamente bem fundada sobre os alicerces do Evangelho não se
confirmou e por que? Porque há inconsistência teológicas na Igreja Evangélica.
Os que se interessaram e se enveredaram pelos caminhos da política, vocação
nobilíssima diga-se de passagem, dentre nós, nem sempre entenderam que a seara
política é um instrumento de serviço e de fazimento da justiça e não um
expediente para tomar o poder e fortalecer o seu império denominacional.
Também, não há nada no Evangelho que nos inspire a desejar um Estado Evangélico
ou Cristão. O que podemos inferir das páginas das Escrituras é que o Evangelho
deve agir como o fermento no meio da massa. Deve inspirar leis, ações,
estratégias a partir dos valores inegociáveis do Reino de Deus para a defesa,
promoção e desenvolvimento da vida humana. O Reino de Deus nos ensina o caminho
da solidariedade, da partilha e segurança integral dos desvalidos e pobres,
indicando sempre caminhos de plena libertação e diginidade como o trabalho, por
exemplo. Roguemos para que Deus restaure tempos de paz e justiça plena em nosso
Brasil, que Ele o faça começando por nós, julgando, punindo e purificando as
nossas igrejas e que além e a partir de nós, todos sejamos curados.
Reverendo Luiz Fernando é ministro da Igreja Presbiteriana Central de Itapira,
professor de Teologia Pastoral e Bioética do Seminário Presbiteriano de Campinas,
de Filosofia na Faculdade Internacional de Teologia Reformada – Fitref e de
História da Missões Mundiais no Movimento Perspectivas Brasil
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