Surpreendido pela minha leviandade
Tenho a mania de tentar extrair sempre alguma lição das experiências que a vida me permite viver. Não foi diferente desta vez, por ocasião da visita de nossos queridos missionários do Norte da África. Em nossas conversas, que avançavam madrugada adentro, procurei comparar o estilo de vida deles com o meu, e confesso que em muitos momentos me senti envergonhado. Evidentemente que vivemos em contextos muito diferentes; eles estão em meio a um povo de cultura diversa e peculiar, em meio a uma civilização distante do evangelho e que em sua esmagadora maioria desconhece por completo o Senhor Jesus. Contudo, as exigências de compromisso, consagração, empenho no testemunho, ardor evangelístico e urgência missionária deveriam ser as mesmas. Deveriam.
Não raras vezes fui surpreendido e confrontado em minha consciência com a tremenda leviandade como eu mesmo me comporto em nosso contexto muito mais “favorável” à igreja e ao evangelho. Fui surpreendido quando percebi que também a nossa Igreja é muito aburguesada e acomodada, vive um cristianismo dentro de sua zona de conforto e segurança, com esforços mínimos para testemunhar. Para alguns de nós, a simples distribuição de folhetos evangelísticos é um martírio. E o que dizer do evangelismo pessoal, aquele de ganhar pessoas para Cristo, por meio da vizinhança, amizade, do testemunho intencional e do convite às claras para vir a Cristo e à igreja? Falta-nos verdadeira consciência de que o tempo urge. Falta-nos um amor casto, puro, veraz, oblativo, sacrificial pelo próximo. Daí a nossa indiferença diante dessa verdade de que, sem Jesus, aqueles que pensamos amar, sofrerão na eternidade do inferno. Evangelizar é uma questão de amor!
Mas nem tudo é tão cinza assim. Esta visita também me encheu de estímulos missionários. Deu-me uma visão mais apurada e mais alargada de como eu, como pastor, e essa igreja podemos nos envolver mais efetivamente em missões. Aprendi que a missão possui níveis e esferas que são interdependentes. Antes de sermos uma igreja missionária, devemos nos tornar uma igreja evangelística. Evangelismo e discipulado devem fazer parte integrante de tudo o que somos e fazemos. Precisamos desenvolver a prática da oração, buscando poder espiritual para esta tarefa. Sem o poder do Espírito nenhuma eficácia haverá em nossas iniciativas e palavras. Esta oração deverá ser pessoal, doméstica, em grupos e comunitária. Deverá ser insistente e ininterrupta. Devemos sair da cama todas as manhãs e pedir a Deus que coloque uma pessoa em nosso caminho e uma unção em nosso coração — que hoje seja o grande dia em que o meu chefe, sócio, colega de trabalho, parente, vizinho renda-se ao Senhor Jesus. E que, assim, eu seja surpreendido pelo Espírito Santo.
Luiz Fernando dos Santos, casado, uma filha, é pastor da Igreja Presbiteriana Central de Itapira, SP.
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