O Evangelho dos Pobres
“Pois vocês conhecem a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, se fez pobre por amor de vocês.” (2 Co 8.9).
Jesus Cristo fez-se pobre. O Rei dos Reis quis nascer pobre entre os pobres, na periferia do Império Romano, e quis viver grande parte de sua vida na obscura e desprestigiada Nazaré. Segundo a sua linhagem humana, Jesus é descende da realeza, da estirpe de Davi. Todavia, Jesus integrou uma categoria muito especial de pessoas, a dos ANAWINS, isto é, dos pobres de YAWEH, o remanescente fiel. Estes pobres, além de serem despossuídos do acúmulo de bens, também eram despossuídos intencionalmente de riquezas e seguranças humanas de qualquer natureza. Não colocavam sua esperança em coisa alguma que não fosse os cuidados paternais de Deus e na esperança da realização de suas boas promessas. Jesus quando inicia o seu ministério público, de imediato se identifica com os pobres. Vai ao encontro deles, ensina os mistérios do Reino, cura as suas enfermidades, promove a libertação dos domínios de Satanás, provê pães e peixes, se compadece, consola e anuncia a salvação. Evidentemente que este amor de predileção pelos pobres nunca é excludente, há lugar no Reino e na Igreja para os mais afortunados, não restam dúvidas. Mas, não sem dificuldades devido ao perigo do apego do coração o que torna a alma pesada e o espírito presunçoso. Jesus Cristo apresenta um esboço do seu ministério em Lucas 4. 18-19: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor.” Vemos assim que os pobres encontram-se, de alguma maneira, no centro das preocupações do Senhor Jesus, que outra coisa não fez do que retomar a preocupação com os pobres, órfãos e viúvas de seu Pai já Antigo Testamento e com o ano da restituição como o ano da graça em Levítico 25. 8-55. A Igreja não pode dar-se o luxo de ter outras preocupações acima dessas de Jesus, não pode alienar-se nesta cultura de superficialidade, futilidade, consumismo e escravidão dos prazeres. A Teologia da Prosperidade é uma distorção do projeto do Reino de Deus, mas existem outras distorções igualmente nefastas: fé sem obras, piedade sem compaixão pelos pobres, religião sem engajamento ético, discurso sem vida, culto sem demonstração de amor e interesse pelos que sofrem e etc. Uma igreja pode facilmente aburguesar-se, dar-se por satisfeita com sua alienação no sagrado, terceirizar inclusive a assistência aos desvalidos e ao cumprimento da ordem missionária em geral enquanto mantém em paz a sua consciência por cumprir o seu dever de religião. Há uma séria advertência no livro de Isaías que volta e meia deveríamos retornar a ela para não nos esquecermos dos essenciais de nossa fé: (leia Isaías 1. 10-17). Com esta pastoral não desejo voltar aos tempos do “Evangelho Social” e suas muitas mitigações. Tão pouco faço apologia da “Teologia da Libertação” e seus equívocos marxistas, longe de mim. Mas, quero desafiar a Igreja a aprofundar e assumir a MISSÃO INTEGRAL como conceito e como estilo de vida. Que todos nós, cada um segundo a medida da fé que tem e dos dons que recebeu, vivamos o Evangelho de maneira encarnada, inculturada, inserida em nossos múltiplos contextos que desafiam a validade e a genuinidade de nossa fé em Cristo. Rompamos com um cristianismo que vive em um universo paralelo como se coisa alguma em nosso derredor reclamasse nossa atenção e nossos cuidados. Não nos permitamos mais viver uma fé que se perde nos labirintos da burocracia e da política eclesiástica e que se vê refém de privilégios, títulos e cargos. Não aceitemos o espírito que nos faz perder mais tempo consertando as redes rompidas pelos puxões e repuxões de nosso “DNA” muitas vezes sectário e de interesse nem sempre nobres, do que jogando-as ao mar para pescar. Missão Integral significa Evangelho Integral: Ensino, Discipulado, Anúncio, Socorro, Cuidado, Defesa da Vida, Proteção do Meio Ambiente, Denúncia da Corrupção, Engajamento “Sociotransformador”, tudo isso, numa vida de simplicidade, gratidão, louvor, fraternidade e amor compadecido. Optar por uma vida assim e por fazer missões assim é optar ser uma Igreja Pobre para os Pobres como o Cristo Pobre, Senhor e Reis dos Reis.
Reverendo Luiz Fernando - Pastor da IPCI
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