O Cristão e a Política
“Então, dêem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.” (Mt 22. 21 b ).
Este é um ano importante para o destino dos mais de 5.000 municípios brasileiros. É ano eleitoral, quando teremos a oportunidade de escolher aqueles que irão representar-nos nas Câmaras Municipais e aqueles que deverão administrar os recursos das cidades a fim de promover o desenvolvimento e melhorias em nossa qualidade de vida. Contudo, existem dois perigos que rondam as Igrejas Evangélicas quando o assunto é a política. O primeiro deles é justamente a noção equivocada de separação entre Igreja e Estado. De fato, a Igreja não deve interferir na vida política partidária e não deve interferir na administração da coisa pública. O Estado também não deve se intrometer nos assuntos da Igreja, em questões de doutrina, liturgia e disciplina eclesiástica. São missões essencialmente diferentes, não obstante ambos servem aos propósitos esternos do mesmo Deus que é Soberano também sobre César. Esta separação acertada entre estas duas instituições, porém, não significa que a Igreja Cristã é apolítica, ou que o Estado laico é por isso mesmo arreligioso. São coisas completamente diferentes. A Igreja deve preocupar-se com os rumos éticos e morais na vida política. Deve incentivar e preparar os seus filhos para assumir com responsabilidade e compromisso seu lugar na sociedade. Deverá contribuir para elevação do nível, inclusive intelectual, do debate de idéias e projetos que possam tornar a vida em sociedade mais próspera, segura e honrada. Em contrapartida, o Estado deve garantir a liberdade de culto e a disseminação dos credos e a organização dos mesmos, sem privilégios, acepções ou favorecimentos. Também deverá fazer todo possível para não dificultar as associações e organizações religiosas. O segundo perigo é a sedução do poder por parte de líderes religiosos que vêem na oportunidade da política um meio para defender interesses meramente pessoais. Quando isso acontece os evangélicos são facilmente usados como massa de manobra e moeda de troca dos mais vis interesses oportunistas. Denominação religiosa e coloração partidária é uma mistura perigosa, de fácil combustão cujo resultado nem sempre é bom para ambos os lados. O cristão, “leigo” ou Ministro, como qualquer cidadão tem todo o direito de associar-se aos partidos políticos e de participarem ativamente da vida pública. Sua condição de Cristão deve influenciar sua conduta ética, sua moralidade, sua concepção quanto á dignidade humana, o valor da vida, o desenvolvimento social e etc. Entretanto, ele deve preservar a instituição a qual pertence e não deve jamais, aproveitar-se de sua associação aos crentes ou de sua posição de liderança para cooptar pessoas e recursos. Também os políticos não devem se valer do contato e do acesso aos membros e líderes de Igrejas e comunidades Evangélicas que sequer frequentam ou mesmo respeitam oferecendo “vantagens” ou oportunidades em troca de qualquer privilégio. Política, para nós protestantes, é coisa séria. João Calvino, o admirável Reformador Protestante Francês, um dos pais da democracia moderna, ensinou que depois do ministério pastoral, a vida pública na política era a vocação e a função mais digna e necessária para a sociedade. A Política na Bíblia também é tratada com honra e seriedade: José do Egito, Moisés, Samuel, Davi, Salomão, Josias, Daniel, Esdras e Neemias foram grandes líderes políticos e administradores, cuidaram de seu povo, fizeram prosperar o seu país e honraram o seu cargo e função. Há também políticos e administradores reprovados por Deus e pela história nas Escrituras: Saul, Acaz, Acab, Eli, Jezabel, Zedequias, Joaquim e etc. Homens corruptos, desonestos, que fizeram alianças indevidas, politiqueiras, sórdidas, que empurraram a nação de Israel para a degradação moral, ética e religiosa. A história apresenta muitos cristãos que serviram bem á causa política: Carlos Magno, Carlos Martelo, Pepino, o Breve, Frederico o Sábio, Eleitor da Saxônia, Margaretha de Burgos, Oliver Cromwell, e mais recentemente Abrahn Kuypper na Holanda e Frank Delano Rosevelt nos Estados Unidos. Logicamente, todos estes tomaram decisões segundo o seu tempo e a sua cultura, também cometeram erros e exageros, todavia a inspiração cristã jamais lhes faltou. Para nós cristãos protestantes Política é coisa séria, vamos nos preparar bem para que nossas opções também sejam influenciadas pela ética que inferimos dos valores do Reino de Deus.
Reverendo Luiz Fernando
Pastor da IPCI
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