As marcas do nosso tempo 2
“Transformem-se pela renovação de sua mente.” (Rm 12. 2b).
Os pais da Igreja também experimentaram uma mudança de época que possuíam marcas específicas de seu tempo. Leão, chamado o Grande, que viveu em Roma e foi bispo local no século quinto, presenciou o início da derrocada do império Romano com as hordas bárbaras germânicas. Godos, Visogodos e Ostrogodos, povos pagãos que invadiam e pilhavam a cidade Eterna levando prejuízo para toda uma civilização e inclusive à Igreja. Houve uma grande inversão de valores e antigos padrões da cristandade pareciam desaparecer. Leão, o Grande, pregou com fidelidade: “Recorda-te de quem és, torna-te aquilo que deves ser, e procura viver de acordo com a tua sublime vocação: a santidade.” Isto é, Leão convidou o seu povo a perseverança na verdade em meio à crise cultural de seu tempo, sem acomodações ou concessões. Sem baratear ou barganhar coisa alguma do Evangelho e da Graça. É bem verdade que em muitos outros contextos prevaleceu a inculturação da Igreja na cultura pagã, assumindo inclusive elementos incompatíveis com a verdade Revelada, o que levou a Igreja a necessitar de uma Reforma dramática séculos depois. Então, como adquirir aqueles itens de que falamos na última pastoral, para não sermos engolidos por esta mudança de época? 1. Devemos buscar uma constante renovação de nossa mente. Não podemos nos acomodar em nenhum estágio da vida cristã (Rm 12.2). Precisamos desejar mais do conhecimento de Deus. Mais de conhecimento Bíblico, mais de conhecimento experimental, mais de conhecimento afetivo. Necessitamos romper com uma espiritualidade superficial ancorada apenas na estética e na lógica do conveniente. 2. Precisamos demonstrar um amor extravagante por Jesus (Lc 7. 36-40). Como aquela mulher na casa de Simão, precisamos ter a audácia dela para amar o Senhor para além dos limites convencionais e do frio padrão litúrgico e confessional apenas, ainda que estas coisas sejam sumamente importantes. Nosso amor por Jesus deve ter algo de desmedido, “louco”, apaixonante, irresistível, que não se detém pelas críticas, pelas censuras, proibições ou ameaças. Deve ser algo que desconserte os espectadores. 3. Nosso engajamento concreto deve ter algo de sacrificial e martirial. Nosso serviço deve ser abnegado, não sem muitas renúncias, com entrega total e oblativo (At 14.22-23). Devemos nos gastar pela causa do Reino e da Igreja indo ao encontro dos sofrimentos do mundo. Não podemos cair na tentação de desejar testemunhar só com segurança, conforto e glamour. Onde ficaria a cruz de Cristo? 4. A vida fraterna em comunidade. É na companhia dos santos que aprendemos a santidade. É no caminho dos discípulos que somos discipulados. Não é possível uma vida de testemunho saudável e impactante para o mundo se não enfrentamos o processo formativo na Igreja. A igreja e suas atividades, sejam elas de caráter educativo: EBD, Treinamentos, Retiros, Acampamentos, ou de caráter social: Gincanas, Passeios, Encontros das Sociedades, Noites temáticas e culturais, tendem sempre para o mesmo fim: Formar em nós as feições do caráter de Cristo. Transformar nossa mente como a dele (1 Co 2.16). Produzir em nós seus sentimentos (Fp 2. 1-4). 5. A vida devocional secreta e o culto doméstico. A Igreja começa em casa. Nosso ministério, seja lá qual for, começa na família. Sem o cultivo da vida interior, em secreto e como família, nosso testemunho carecerá de sustentação e credibilidade. O sacerdócio doméstico dos pais na sacralidade do matrimônio fazendo do leito um altar (Hb 13.4) e da educação dos filhos um verdadeiro discipulado (Ef 6.4; Pv 22.6), é alicerce sobre o qual a dinâmica da vida da comunidade se constrói. 6. Precisamos amar e desejar a volta gloriosa de Jesus (2 Tm.4.8). Necessitamos redescobrir nossa vocação escatológica (Hb 11.10; Hb 13.14) e ansiar pelo retorno glorioso de Jesus com ânsias de amor. Desejar seu retorno não é desprezar este mundo, mas dar o devido valor a cada coisa, segundo a sua real importância e isso comunica paz e também felicidade entre os homens. Que os homens do nosso tempo encontrem em nós e em nossa Igreja aquelas marcas dos novos céus e da nova terra que hão de vir qualquer hora dessas em definitivo.
Reverendo Luiz Fernando
Pastor da IPCI
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