Sofrimento
“Se com ele sofremos, também com ele
reinaremos” (2 Tm 2.12 a).
O sofrimento é uma
experiência comum a todos os homens. Não há quem não sofra e ainda que muitos
tenham todo o conforto que possa existir nessa vida, o sofrimento sempre
encontra o seu espaço em nosso viver. Essa experiência perturbadora para a
condição humana é de certa maneira o objeto de atenção da filosofia, da
religião, da arte, das ciências em geral, do entretenimento e etc. Poderíamos
afirmar que viver é uma tentativa de escapar, contornar, evitar e até negar o
sofrimento. Filosofias e religiões orientais fazem de tudo para negar a
realidade do sofrimento, quer pela alienação, pela renúncia das experiências
sensitivas ou a prática de técnicas ou atividades para sobrepor-se a realidade
deste mundo carregado de sofrimento. Mas, também filósofos ocidentais, desde os
gregos antigos passando pelos céticos e existencialistas modernos e
contemporâneos, tiveram que lidar a seu modo com o mal do sofrimento. E, também
aqui, navegaram nas turvas e perigosas águas na negação, da alienação, da
absurdidade e do niilismo. O cristianismo volta e meia, também se debate de
maneira confusa, influenciado pelos citados acima. Todavia, o cristianismo
genuíno, aquele sustentado apenas pelo ensino Bíblico, ensina que não só é real
a experiência do sofrimento, mas também que é inescapável. O cristianismo prega que a
presença e a influência do pecado nesse mundo caído é a causa primeira de todo
o sofrimento. Cristãos e não cristãos estão sujeitos aos mesmos efeitos dessa
presença do pecado e sua influência, no que tange o sofrimento. O fato
de os cristãos serem objeto da graça redentora de Cristo e terem o seu pecado
perdoado e não mais serem punidos por causa dele, isso não os isenta de
sofrerem a sua ação no mundo. Ainda que não possam mais ser governados pelo
pecado por pertencerem a Cristo, ainda sim são acossados
por toda sorte de males que ele provoca. Assim, os cristãos possuem corpos
vulneráveis, mentes impressionáveis, estão sujeitos a decepções, frustrações,
insucessos, perdas e por fim a morte. Então, o que diferencia essa experiência
do sofrimento entre os cristãos e os demais homens? Os cristãos por estarem
vitalmente unidos a Cristo possuem uma nova perspectiva do sofrimento. Não
procuran negar, relativizar ou deixar-se tomar pela perplexidade. Os
cristãos entendem o sofrimento na dimensão da cruz do Salvador. O padecimento
do discípulo faz parte de seu discipulado. O sofrimento para o cristão é como o
cinzel nas mãos de um hábil escultor.
À sombra da cruz são forjados os grandes servidores do Evangelho e os
homens de melhor caráter. O sofrimento para o cristão é parte de seu
processo de configuração a Cristo. Para o discípulo maduro e
consciente, ainda que o sofrimento nunca deva ser desejado, buscado e muito
menos produzido, uma vez que é inerente à nossa condição humana, ele o entende
como um selo sobre a sua vocação em Cristo, o sofrimento é um meio dado pela
graça do Salvador. Em Cristo e só Nele, sofrer é uma bem-aventurança que nos faz mais
dependentes, menos autossuficientes, mais gratos em tudo e por tudo. O
sofrimento produz os mais ardentes buscadores de Deus e uma vez socorridos e
auxiliados, os mais inflamados adoradores. Sofrer nos une mais perfeitamente a
Cristo. Por último, para permanecer em comunhão com uma corrente
puritana, sofrer, nos leva a desejar o Céu com mais paixão. Pois, é
exatamente no Céu o único lugar onde a experiência do não sofrer, do gozo, da
paz e da felicidade plena e perfeita é possível. Portanto, sofrer sem Cristo é
como entrar num labirinto de porquês sem respostas ou no túnel escuro da
desesperança sem ver a luz da saída. Sem Cristo, o sofrimento produz em nós,
provoca em nós e faz vir à tona o pior que existe em nós. Sofrer sem a graça da
união vital com Jesus Cristo pela fé leva-nos ao ceticismo, ao cinismo, à
amargura, á murmuração e á maledicência e por fim a uma existência vazia e sem
sentido. Porque os que sofrem agarrados à própria sorte não têm para onde
fugir. Mas, cada discípulo do Senhor e cada um que se abre a Ele, pode ouvir
constantemente o mais belo convite já feito nesse mundo de dor: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e
oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim,
que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas
almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11.28-30).
Reverendo Luiz Fernando
é Ministro da Palavra na Igreja Presbiteriana Central de Itapira
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