Paixão por Jesus
“Quem
ama seu pai ou a sua mãe mais do que a mim não é digno de mim” (Mt 10.37).
A história da Igreja cristã
foi em grande parte escrita em meio a dores, violências e com a cor do sangue
de seus filhos. Não poucas vezes, outros de seus filhos, tomados de sentimentos
nada cristãos ou ignorando a essência mesma do Evangelho, foram culpados das
mesmas dores, violências e sangue de seus irmãos ou dos de fora. Mas, há uma pergunta que deve ser feita. O
que fez com que a igreja cristã sobrevivesse aos seus algozes de dentro e de
fora e ao mesmo tempo, não sucumbisse às próprias misérias? Claro, que a
presença de Jesus Cristo nela por meio de seu Espírito a preservou, puniu,
corrigiu e restaurou de muitas maneiras ao longo dos séculos. Contudo, o que no
coração e na mente dos cristãos os levou a viver com radicalidade tal o seu
chamado, que a própria vida, bens, afetos e laços de sangue fossem em dado
momento relativizados (nunca desprezados ou reputados a coisas ruins em si
mesmas)? A resposta é uma só: A Paixão por Jesus Cristo. Foi o intenso
amor que sentiam pelo mestre Jesus que os fez desejá-lo sempre e cada vez mais,
de tal maneira, que estavam dispostos a sacrificar qualquer coisa, ainda que de
muito valor, para jamais serem privados de Jesus. O amor a Jesus atraiu
milhares de homens, mulheres e crianças para as arenas romanas para serem
martirizados. Povos bárbaros e antigas culturas orientais massacraram outros
tantos milhares de discípulos de Cristo. E, esse amor era de tal maneira patente e
latente nos cristãos que muitos desses cruéis perseguidores foram levados a
Cristo enquanto levavam os cristãos à morte. E assim, um a um, Romanos,
Godos, Visigodos, Saxões, Germânicos, Escandinávos, Bretões, na
medida em que feriam o corpo de Cristo, vivente misticamente em seus
discípulos, o amor que fluía deste corpo curava a cegueira e
a ignorância dos povos. Dando um salto na história, podemos falar a mesma
coisa da Reforma, dos Puritanos, dos Pais Peregrinos, das Missões Modernas com
Carey e os que vieram na esteira dele. Em todos os casos a paixão por Jesus
Cristo fez com que os discípulos fossem muito mais longe, fossem mais
corajosos, realizassem obras tais, que humanamente nem eles e nem nós
saberíamos responder como isso teria sido possível. A Igreja contemporânea
talvez seja uma grande admiradora de Jesus. Até lhe seja agradecida. Os
Cristãos estão, de certa maneira, satisfeitos e confortáveis com Jesus em suas
vidas. Entretanto, vivemos dias de muita gritaria nos cultos, muita pirotecnia
nas liturgias, e muitas tentativas de tornar a mensagem culturalmente
contextualizada nos mais diversos nichos. Ao mesmo tempo, assistimos todos os
dias uma onda crescente de ‘desigrejados’, gente que não é capaz de sofrer
aborrecimentos e nem está disposta a carregar os fardos uns dos outros. Todo
dia encontramos irmãos, que se dizem irmãos, ameaçando deixar a igreja,
abandonar o seu ofício ou ministério, só porque sentiu-se diminuído, não
valorizado, contrariado em suas opiniões. Quanta gente tentando experimentar de
tudo e não encontrando sentido em lugar algum. A pequena e até ingênua lista
apresentada aqui é apenas sintomática. A enfermidade é justamente a abundância
e amor por si mesmo e pouco ou nenhum amor por Jesus. Pelo menos não um amor
apaixonado. Um amor que nos constranja, nos sufoque, nos desinstale de nosso
comodismo aburguesado e de nossa visão superficial da vida. A Igreja
contemporânea necessita urgentemente aprender de sua história, a começar pela
paixão apostólica de um Tiago serrado ao meio, de um Estevão apedrejado, de um
Pedro Crucificado de ponta-cabeça ou de Paulo decapitado. Todos discípulos
apaixonados. E o que falar dos discípulos a quem Pedro escreveu ou os
destinatários da carta aos Hebreus?
Homens e mulheres de quem foram confiscados bens, dinheiro, casas,
chefes de família que perderam o posto de trabalho e de repente foram achados à
margem da sociedade e tudo por seu amor apaixonado a Jesus Cristo. Quando
comparado nosso amor tem sido barato demais, poroso demais, frio demais e covarde
demais. Queira o Senhor visitar-nos com seu amor e levar-nos como
Igreja e como cristãos a uma vida de radical paixão por Jesus Cristo, que nos
amou por primeiro.
Reverendo Luiz Fernando
é Ministro da Palavra na Igreja Presbiteriana Central de Itapira
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