Hosanas ao Rei
“Bendito é o que
vem em nome do Senhor. Da casa do Senhor nós os abençoamos” (Sl 118.26)
O Domingo de Ramos abre de maneira dramática as
comemorações pascais. Com a entrada triunfal de Jesus Cristo em Jerusalém tem
início também a semana das dores do Cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo, cujo ponto alto é a crucifixão e morte do inocente Jesus na cruz do
calvário. Entre os hosanas de um povo em festa, cuja liturgia já estava
prevista no Antigo Testamento como atesta o Salmo 118, Jesus entra em Jerusalém
aclamado Rei, sucessor de Davi e consequentemente reconhecido pela turba como o
Messias prometido. Como a própria narrativa bíblica ensina, é fácil deixar-se
envolver emocionalmente com os aspectos exteriores da religião. É fácil ser
impactado pela mensagem e ser como que induzido a fazer afirmações sobre as
quais não se tem convicção alguma. De fato, tudo o que a multidão exclamou no
que diz respeito a Jesus era verdadeiro. Tudo o que Jesus viveu de forma
dramática naquele dia cumpria em ínfimos detalhes o que prediziam os profetas.
Todavia, a maioria daqueles que ali estenderam as suas vestes e cortaram e
agitavam os seus ramos estavam como que tomados de uma experiência religiosa
instantânea, porém passageira, sem fundamento, sem experiência pessoal e
espiritual que fizesse nascer uma convicção inabalável quanto a pessoa de
Jesus. Muitos dessa mesma multidão, uma semana depois, na sexta feira da
paixão, trocará os “hosanas” pelos “crucifica-o”, não mais gritarão “Bendito o
que vem em Nome do Senhor”, mas berrarão a plenos pulmões “solta-nos Barrabás”.
Tudo isso aconteceu por incredulidade. Religiosidade e incredulidade não
necessariamente são coisas antagônicas. Na verdade, há mais incredulidade nas
Escrituras estampada entre o povo da Aliança do que das nações ditas pagãs. O próprio
Senhor Jesus achou mais fé no centurião romano do que em mais
fé no centurião romano do que em seus patrícios Judeus. Esses, no dia em que
Jesus entrou em Jerusalém, celebraram uma festa litúrgica sem igual. Deram
pública demonstração de serem um povo religioso e que conhecia as Escrituras.
Mais tarde, porém, o que vimos foi a farsa de corações não convertidos ser
desmascarada ás portas do palácio de Pôncio Pilatos. A igreja de todos os
tempos e de todas as tradições corre sempre o mesmo perigo. É possível que nos
acostumemos à religião. É possível que reduzamos nossa vida cristã a
experiências emocionais, ao formalismo religioso, ao ativismo e etc. Também é possível
que façamos uma leitura bíblica inofensivamente devocional e que jamais
cheguemos à maturidade da fé e as implicações do texto que devem transformar o
nosso ‘ethos’. O cristianismo nominal ou uma vivência do evangelho sem
profundidade pode ser incredulidade, a mesma que entregou Jesus ao suplício, a
mesma que pediu a sua crucifixão, a mesma que o abandonou no calvário, a mesma
que trancafiou e paralisou os discípulos no cenáculo naqueles dias. O Domingo
de Ramos é uma boa ocasião para que todos, como igreja e como discípulos
individualmente, façamos um exame sincero e profundo de nosso compromisso
comunitário e pessoal com o seguimento de Jesus. Um tempo propício para que
investiguemos as disposições de nossos corações quanto a sinceridade, o nível de
compromisso e implicações com as afirmações de fé que fizemos em nosso batismo
e em nossa pública profissão de fé. Seria possível que nossa pertença a igreja
tenha mais a ver com costume e tradição do que com certezas pessoais? Seria
possível que nossa ativa participação na vida da igreja tenha mais a ver com a
natureza social e gregária da comunidade, sendo mais uma cultura e um estilo de
vida, do que uma aliança cujo propósito é a missão? A Entrada de Jesus em
Jerusalém nos recorda o nível de profundidade do compromisso de Jesus com o seu
Pai. Jesus desejou estar ali. Jesus quis ardentemente viver aqueles eventos com
os seus discípulos. Jesus encaminha-se livremente para a cruz. Não só nos
recorda e faz saber essas coisas, mas a festa de Ramos também é um convite para
que cada cristão renove o seu ardor por Jesus. É gracioso chamado para que cada
crente e toda a igreja volte ao seu primeiro amor, aos dias daquele entusiasmo
quando estávamos dispostos a sacrificar-nos para estar onde Jesus estava, para
ouvir o que ele tinha a dizer e para obedecer prontamente ao que ele ordenava
fazer. Que nossos lábios proclamem hosanas ao Rei e que nossa vida grite no
coração do mundo: “Bendito o que vem em Nome do Senhor”. Vem Senhor Jesus!
Reverendo Luiz Fernando
é Ministro na Igreja Presbiteriana Central de
Itapira
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