Meditação
Cristã
“Meu coração
ardia-me no peito e, enquanto eu meditava, o fogo aumentava” (Sl 39. 3).
É crescente o interesse pela meditação na sociedade
ocidental. Não poucos centros de meditação tem se espalhado pelo Brasil. Muitas
empresas, inclusive, pensando no bem estar de seus funcionários e, claro, em
sua produtividade, já oferecem espaços e momentos ao longo do dia para uma
pausa para a meditação. É inegável aqui a influência oriental do budismo e do
hinduísmo e religiões e filosofias afins. Também o cristianismo tem produzido
nos últimos tempos seus mestres da meditação: John Main, Anselm Grum, Thomas
Merthon e etc. No ramo protestante temos muitos movimentos de espiritualidade
que incentivam e cultivam a meditação, como Osmar Ludovico, Dallas Willard,
Ricardo Barbosa e o Renovaré, para citar apenas estes. Mas, ainda existe muita
desconfiança por parte de muitos líderes e de muitos crentes quanto á validade
desta prática para o cristão. Verdadeiramente nem tudo o que está no mercado e
nem tudo que vem sendo oferecido por aí possui qualquer valor ou progresso real
para a alma crente e salva em Cristo. Muito do que anda sendo dito em nome da
meditação ou são exercícios fundados em psicologia e psicanálise ‘Jugniana’ ou
esbarra no misticismo não bíblico. Mas, a meditação sempre ocupou um lugar
central e de importância na experiência cristã, na intimidade e comunhão com
Deus, no amadurecimento do caráter, no crescimento da certeza e da segurança da
salvação e no exercício do autodomínio. Não há nada de mágico ou misterioso na
meditação genuinamente cristã. A meditação é um ato natural do intelecto,
uma busca consciente do espírito humano por coisas espirituais. É o deter-se
sobre um aspecto da relação ou do conhecimento de Deus e deixar-se absorver
mentalmente pela questão. A meditação deve preparar a oração e deve ser
consequência natural e inevitável do estudo. Mas, ela não é nem uma coisa nem
outra. A meditação não tem o escopo primário do diálogo e do relacionamento
como é a oração e não possui o método científico e sistematizado do estudo e da
pesquisa. É algo parecido com o ruminar, com o repetir e visitar várias e
repetidas vezes uma mesma verdade ou questão. É um tempo de absorção
que deve envolver este ato natural da razão, mas que vai aquecendo o coração,
iluminando a mente e a alma até chegar ao maravilhamento que leva à
contemplação. Os pais do deserto e os pais da Igreja atingiram grandes
experiências e chegaram a grandes conclusões, para si mesmos como para aqueles
a quem serviam como pastores e mestres porque cultivavam a prática da
meditação. O labor exegético de Lutero e Calvino são exemplos não só de estudo
diligente, de pesquisa séria e comprometida com a verdade, mas de maneira
especial, fruto bem amadurecido na meditação. Também os mais ilustres puritanos
como John Owen, Richard Sibbes, Baxter e Jeremiah Burroughs eram praticantes e
incentivadores da meditação diária. Quais os benefícios que um crente pode
obter da prática da meditação? Os dois primeiros são mais que óbvios. É o
prolongamento dos efeitos da oração e do estudo. É uma maneira segura de se
manter por mais tempo latente na mente o que foi dialogado com Deus na oração e
o que foi apreendido por meio de diligente estudo. Mas, a meditação
ajuda a centrar a vida nos essenciais da fé. É um poderoso auxílio para dar unidade
ao intelecto e ao coração e para organizar nossos afetos para com Deus e o
próximo. Outro importante benefício é, sem sombra de dúvidas, terapêutico,
pois, a meditação nos
ajuda a enxergar a realidade da vida com mais clareza, unidade, vislumbrando
consequências e nos recordando as promessas do Evangelho para a vida neste
mundo e no outro. A meditação nos arranca do pessimismo paralisante e do
otimismo inconsequente e nos coloca numa posição esperançosamente realista. A
meditação imprime cada vez com mais profundidade e nitidez a segurança da
salvação na alma do cristão auxiliando-nos assim, a enfrentar a cruz com bom
ânimo, a suportar a perseguição com coragem, a vencer as tentações sem
desespero e a esperar pela morte sem temor. A Bíblia oferece exemplos de
grandes meditadores: Moisés na solidão do Horebe, Abraão sob o estrelado céu do
deserto, Davi no ermo com os rebanho de
Jessé e o homem justo do Salmo 1, Jesus e seus muitos retiros para a solidão e
Maria mãe do Salvador, ‘que guardava todas as coisas no seu coração e nelas
meditava’ (Lc 2.19), para ficar com estes. Coloque a meditação entre os seus
exercícios devocionais e cresça na graça e no conhecimento do Senhor.
Rev. Luiz Fernando Dos Santos
É Ministro da Igreja
Presbiteriana do Brasil em Itapira
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