Os
Catecismos e o Avivamento
“Apegue-se
firmemente à mensagem fiel, da maneira como foi ensinada, para que seja capaz
de encorajar outros pela sã doutrina e de refutar os que se opõem a ela” (Tt
1.9).
Em muitos contextos
evangélicos, presbiterianos inclusive, os Catecismos não gozam de muita
simpatia. Muitos logo o associam à Igreja Católica Romana e por isso mesmo
possuem tanto preconceito. Muitos acreditam que o conteúdo dos Catecismos não passam
de introdução de elementos meramente humanos, costumes e doutrinas surgidas em
determinado período que pouco ou nada tem a ver com as Escrituras. Bom, em se
tratando do catecismo da Igreja Católica isso lá tem a sua verdade. Ali você
encontrará o ensino oficial daquela denominação sustentado sobre o tripé
Tradição, Escrituras e Magistério eclesiástico, nessa ordem. Ali o que disseram
os grandes doutores e mestres do passado, bem como os santos e místicos que
desde sempre habitaram o ambiente romanista tem grande crédito. Também o
pensamento papal tem enorme destaque. Evidentemente que as Escrituras também
são citadas, mormente para consubstanciar os dois anteriores. Mas, no contexto
das Igrejas organizadas na Reforma Protestante os Catecismos surgiram já na
aurora do movimento. Martinho Lutero providenciou catecismos para a instrução
das crianças e depois também dos adultos. Depois surgiram em outros contextos
reformistas outros catecismos, talvez o mais famoso deles o de Heidelberg
publicado em 19 de janeiro de 1563 de autoria de Zacarias Ursino e Gaspar
Oliveano que logo foi recebido e aceito pelas Igrejas dos Países Baixos
tornando-se assim um de seus símbolos de fé. Mais tarde, a célebre Assembleia
de Westminster publicou a sua Confissão de Fé e seus dois Catecismos o Maior e
o Breve em Fevereiro de
1649. Estes documentos confessionais oriundos
de Westminster popularizaram-se no mundo de fala inglesa e ganharam o mundo
através da expansão missionária das Igrejas Calvinistas nos séculos XVII-XIX.
Com o advento do liberalismo teológico e outras crises institucionais e de fé
os catecismos infelizmente aos poucos quase desapareceram ou por falta de conhecimento e
preconceito foram deixados de lado. Todavia, os catecismos outra coisa não fazem
do que servirem de uma hermenêutica, de uma interpretação das Escrituras
Sagradas conforme o padrão teológico Reformado e ao mesmo tempo é a
sistematização das grandes verdades e
doutrinas bíblicas. Em nosso meio, onde o analfabetismo bíblico
e doutrinário é mais do que um sintoma, é a própria doença em si, os
catecismos podem ser muito úteis para uma ortodoxa formação do povo de Deus
atacado e influenciado todos os dias por todo tipo de vento de doutrina, estilo
de culto e muitas bizarrices. Além dos aspectos da iniciação cristã de crianças
e adultos candidatos à profissão de fé e batismo, penso que os Catecismos
seriam importantes em outras áreas da Igreja. 1. No culto familiar.
Penso que nossos catecismos seriam um valiosíssimo instrumento para a formação
doutrinal e ética de nossas famílias
fornecendo conteúdo e a dinâmica para o culto familiar onde todos poderiam interagir
com o sistema de perguntas, respostas, as citações bíblicas e etc. 2.
Nos grupos de comunhão e pequenos grupos de discipulado. Nos Catecismos podemos trabalhar
os pontos essenciais que todo discípulo maduro deve conhecer e de como viver
para agradar a Deus. Os aspectos da santificação e da ética estão
sempre presentes. 3. Na formação da liderança para formar a identidade
confessional e denominacional. Não há nada de errado em beber de outras fontes,
conhecer outras
dinâmicas e propostas para dinamizar a vida da igreja ou de se oferecer temas
relevantes nem sempre especificamente contemplados nos Catecismos. Não nego o
fato de que existem muitas contribuições no campo da teologia, da exegese, da
eclesiologia, pastoral, missiologia, antropologia, psicologia e etc., que muito
podem e devem ser usados na formação da liderança e do povo em geral. Todavia,
todas estas coisas devem ser aproveitadas sem que haja a negligência de nossa
base confessional, de nossa identidade cristã reformada e presbiteriana, de
nossa maneira de entender as Escrituras e o plano de Deus para este mundo, a
humanidade, a criação e a Igreja. 4. Um último aspecto, não menos
importante, é que não estamos isolados no mundo e na sociedade e nem temos o
direito de assim proceder. Vivemos numa era dialógica de intensa interação e
comunicação. Mas, não há verdadeiro diálogo, construção da verdade e relações saudáveis e nem comunicação efetiva
se não houver identidades definidas. Os catecismos
podem auxiliar-nos e muito na construção e preservação de nossa identidade
reformada e presbiteriana para podermos ter o que oferecer ao mundo, para
sermos criteriosos na recepção do diferente e não nos perder nesta cultura
liquefeita e em constante transformação. Os catecismos podem pavimentar o
caminho para que o avivamento
chegue!
Rev. Luiz Fernando Dos Santos
É Ministro da Igreja
Presbiteriana do Brasil em Itapira
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