Nobre e Humilde Serviço: Diaconato.
“Quanto aos diáconos, é necessário que sejam
respeitáveis” (1 Tm 3.8).
O diaconato juntamente com o apostolado são os
únicos ministérios do Novo Testamento que encontramos o registro do momento
exato de seus surgimentos. Grosso modo o Evangelista Marcos no capítulo 3,
versículos 15 e 16 registra que depois de ter orado Jesus escolheu os que ele
quis e os designou e então segue a lista dos doze (Veja também o texto paralelo
de Mateus 10. 1-4). O registro do surgimento dos diáconos foi feito pelo
Evangelista Lucas no livro dos Atos dos Apóstolos, capítulo 6. O contexto é bem
preciso, os apóstolos estavam sentindo-se sobrecarregados em seu ministério que
além da dedicação à oração e ao ensino da Palavra, ainda deviam socorrer as
necessidades dos pobres, de maneira especial as viúvas dos crentes de língua
grega. Para não pôr em prejuízo a urgência de sua missão apostólica e nem pecar
pela negligência contra a caridade, as colunas da Igreja primitiva solicitaram
a criação deste oficialato na comunidade de fé. As orientações dadas pelos
apóstolos quanto ao perfil vocacional dos primeiros diáconos são
impressionantes: “Homens de boa
reputação, cheios do espírito Santo e de sabedoria” (At 6.3). Desde logo
entendemos que a função diaconal não é um ministério que possa ser comissionado
a qualquer homem e exercido por qualquer um. O ministério voltado para os
pobres, necessitados, aflitos e marginalizados não pode ser exercido a não ser
por homens que pela conduta da vida tenham autoridade moral, vida ilibada e que
goze do prestígio dentro e fora da igreja. Deve ser alguém cujas
intenções sejam claras para todos, um homem que não queira aparecer,
autopromover-se ou levar algum tipo de vantagem social, financeira ou política.
Deve
ser alguém que os “poderosos” deste mundo respeitem, os homem de bem e de posse
confiem, santos admirem e os pobres amem. Deve ser um homem cheio do
Espírito Santo, piedoso, que demostre pela vida a evidência do fruto do
Espírito e possui discernimento espiritual. Não
pode ser um homem dominado pelo pragmatismo e em busca de resultados pelos
resultados. Antes, deverá encarar a sua função como parte inerente da mensagem do
Evangelho. Ainda que o socorro aos pobres não seja a proclamação do
Evangelho em si, não há dúvidas de que a demonstração do amor desinteressado é
um forte testemunho que recomenda a mensagem da cruz. Lucas registra que os
diáconos eram homens sábios, isto é, experimentados na fé e na Palavra.
Conheciam a mente de Deus e julgavam todas as coisas pelo crivo da Palavra de
Deus e em tudo buscando a aprovação do Senhor. Também hoje essa qualificação é
indispensável para o exercício do diaconato. Carecemos de homens sábios que
saibam proceder bem para com os de fora, trabalhar com discernimento em parceria
com outros atores sociais importantes como o poder público e as instituições
que se preocupam com a responsabilidade social. Devem ter sabedoria de Deus
para aproveitar as ocasiões de sofrimento e dor para promover a libertação e o
resgate social e tomando todo cuidado para não fazer da assistência social uma
isca para o proselitismo e a dependência paralisante dos assistidos. O
diaconato é um oficialato nobre, sério, indispensável e em nada menor ou
submisso ao presbiterado. São instâncias de serviço e de governo diferentes,
com áreas e funções distintas, mas ambas desejadas por Deus e ambas necessárias
ao rebanho. Os presbíteros devem continuar de alguma maneira, alguns aspectos
da função apostólica (não o ministério apostólico). Devem dedicar-se com zelo à
oração e ao ensino da Palavra. No caso específico dos presbíteros regentes, à
cura de almas nas visitações, na vigilância da disciplina eclesiástica e na
aptidão para ensinar como modelos do rebanho e professores das Escrituras. Por
força constitucional compõem o Conselho que administra a vida eclesial e civil
da Igreja. Esta é a função precípua dos presbíteros. Já os diáconos devem
organizar a face social do Evangelho, a dimensão caritativa da proclamação da
Palavra e a materialização do amor cristão em forma de socorro, alívio,
solidariedade e promoção da justiça e do bem estar. Dentro e fora da igreja são
como que os “procuradores” dos direitos e das necessidades dos pobres. E,
também por força constitucional, cabe a eles a manutenção e o zelo da boa ordem
no culto, bem como o zelo pelo espaço físico da comunidade. Penso que o final
da ‘perícope’ onde surge o diaconato nas Escrituras reflete com exatidão o que
acontece em uma Igreja quando presbíteros e diáconos eleitos segundo as
orientações do Espírito exercem bem a sua função: “Crescia a Palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número
dos discípulos...” (At 6.7).
Rev. Luiz Fernando Dos Santos -
É Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil
em Itapira
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